“O câncer de colo de útero é evitável, o qual se consegue prevenir ou reduzir enormemente o risco. Justamente por isso a sua incidência está mais ligada aos países subdesenvolvidos, haja vista as campanhas de rastreamento e prevenção serem mais presentes em nações mais desenvolvidas. Porém, chegou a hora de dar um basta, pois deixar uma mulher morrer dessa doença é ignorância. E foi assim que 194 países – o que nunca tinha ocorrido – se uniram para erradicar a doença do mundo.”
É o que diz o ginecologista Delzio Bicalho, presidente da Associação dos Ginecologistas de Minas Gerais (Sogimig), ao relembrar a campanha lançada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a erradicação da doença no mundo. Segundo o especialista, o plano de estratégias, apoiado pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e, também, pela Sogimig, consiste em ações a serem adotadas nos próximos 10 anos para que em 100 anos a doença esteja eliminada do globo.
“Não vamos acabar com o câncer de colo de útero em 2030, mas sim pensar em quais são as medidas a serem incorporadas, a fim de que a doença não exista daqui a 100 anos. São métodos muito importantes aos quais se tem acesso agora. Assim, o planejamento é vacinar 90% da população, rastrear 70% e tratar precocemente 90%. É o que chamamos de noventa-setenta-noventa. Esse é o tripé para os próximos 10 anos que vai impactar no futuro”, aponta Delzio Bicalho.
PREVENÇÃO
O primeiro pilar, a vacina, para além da campanha sempre esteve disponível à população, bem como os demais princípios – rastreamento e tratamento precoce. Porém, é necessário conscientizar as pessoas da importância de se atentarem aos cuidados com a saúde capazes de prevenir o câncer de colo de útero, bem como de “derrubar” alguns mitos impostos por sociedades e épocas distintas. “A vacinação, por exemplo, começou muito bem, com quase 80% das pessoas imunizadas. Mas, hoje, essa taxa corresponde a apenas 46%.”
E isso muito em função do movimento antivacina e das informações dispostas a respeito da imunização. “Há um medo dos pais, nesses casos, de que, ao levar a jovem para se vacinar, esse ato se torne uma espécie de ‘liberação’ para que ela inicie sua vida sexual. É mito. Não cabe como verdade e, mesmo assim, propiciou a queda da vacinação, deixando-a em níveis abaixo do essencial e desejado”, explica o presidente da Sogimig. Ele destaca, ainda, a importância de que a vacina seja tomada o quanto antes entre os 9 e os 12 anos.
Isso porque, conforme elucidado por Delzio Bicalho, nessa faixa etária o sistema imunológico está mais receptível aos benefícios da vacina, haja vista a ausência de relações e/ou contato com o HPV – o papilomavírus humano. “Isso é importante porque cerca de 80% das mulheres vão ter contato com o vírus. Além disso, em torno de 20% delas têm HPV, sendo que algumas nem sabem, porque o papilomavírus humano entra, o corpo elimina e, então, elas nem ficam sabendo que tiveram”, afirma.
“Isso pode levar até 10 anos para acontecer. E é aí que entra a segunda medida crucial para a erradicação da doença: o rastreamento. Assim, temos que conscientizar as mulheres para colocá-las dentro dos consultórios pelo menos duas vezes ao longo da vida – aos 35 e aos 45 anos – para que, caso haja a presença de manchas ou lesões, elas sejam descobertas precocemente e analisadas. O exame feito – oferecido, inclusive, pelo SUS – é o papanicolau, que é bem efetivo. Embora algumas mulheres o façam anualmente, o correto a se fazer é: depois de dois resultados negativos, esperar três anos até se submeter a ele novamente”, informa.
DIAGNÓSTICO
O terceiro pilar para a erradicação do câncer de colo de útero consiste em tratar a doença precocemente, o que está intimamente relacionado ao diagnóstico. “Se for encontrada alguma lesão, tem que tratar imediatamente. E a grande vantagem do câncer de colo de útero é que, diferentemente da mama, por exemplo, consegue-se ver a lesão no exame.”
“Então, ver essa lesão é muito bom, porque se consegue identificá-la antes de virar tumor. É o que ocorre com o câncer de colo de útero, pois é possível ver na mucosa do colo se há placas brancas, manchas ou desenhos característicos da doença. Caso sim, faz-se a biópsia e avalia-se essa lesão pré-cancerosa para dar início ao tratamento antes que se transforme em câncer. Assim, retira-se o tecido atípico que tem o HPV e elimina o câncer”, explica Delzio Bicalho.
INCIDÊNCIA NO BRASIL E NO MUNDO
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), há cerca de 570 mil novos casos de câncer de colo de útero a cada ano no mundo. Além disso, há em torno de 311 mil óbitos por ano no globo. No Brasil, esse índice se apresenta em torno de 15 casos a cada 100 mil mulheres, com uma taxa de mortalidade de, em média, seis mortes para cada 100 mil mulheres.
* Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram