A pandemia do novo coronavírus sacrificou o ensino da dança, devido à necessidade do isolameto social como medida para conter a disseminação da COVID-19, mas a atividade também se adaptou ao ensino on-line. Não foi uma adptação fácil para a psicóloga Maria das Dores de Carvalho Nogueira, de 68 anos, que adotou a atividade há 15 anos. Dora escolheu a dança flamenca, que remonta às culturas cigana e mourisca, com influência árabe e judaica, ritmo associado à região da Andaluzia, na Espanha.
As aulas foram suspensas, em atendimento aos protocolos sanitários, até que a escola se organizasse para os novos tempos. Com a pandemia, Dora conta que as aulas foram retomadas no modelo on-line. “No começo, não quis, já que me matriculei nas aulas para sair de casa, mas acabei aceitando e gostei. Ligo o computador e sigo minha aula normalmente. Temos até uns instantes de bate-papo e fazemos os alongamentos. Só tem um defeito: não podemos nos abraçar”, conta Dora Nogueira.
A dança ajudou, e ajuda, muito a psicológa a interagir com pessoas, embora a distância, e a vencer os obstáculos que a pandemia impõe. Dora revela ainda que, além do flamenco, ela passou a praticar a dança livre, com ritmos diferentes, como jazz, samba e xaxado. Ela cuida da mãe, Conceição, de 92, que já foi vacinada. Entre os benefícios da dança, ela destaca a melhora da condição física e da timidez. “Agora, até me apresento em espaços como shoppings e asilos. Antes, entrava no palco tremendo. Hoje, danço e não me importo se errar um passo. É só continuar e formei um grupo de amigos.”
A bailarina, coreógrafa e professora de flamenco Bella Lyra, que atua no programa de maturidade da Faculdade Estácio-BH desde 2007, explica que as pessoas em idade madura procuram, e encontram, na dança bem-estar e a satisfação da necessidade de se movimentarem respeitando a limitação de cada um. “A dança é também terapêutica. Em uma hora e meia de aula, quando era presencial, os problemas ficavam da porta para fora. Digo que é uma faxina mental. O pré-requisito é ter 50 anos e tenho aluna de 90.”
A maioria dos alunos – 99,9% – são mulheres. Para Bella Lyra, o machismo se revela na baixa participação dos homens, além da timidez que os impede de dançar. Além da dança flamenca, que exige mais envolvimento, empenho e estudo, a maioria das alunas acaba se divertindo mais na dança livre, que trabalha mais o corpo e o condicionamento cardiorrespiratório, segundo a professora. “Para cada aula levo um ritmo, um estímulo diferente”.
Diante da pandemia, Bella Lyra conta que o formato das aulas on-line sofreu resistências. Algumas alunas desistiram das aulas, mas outras seguem firmes. “No início, houve medo do desafio, muitas usam redes sociais e whatsapp com limitação, mas passado o período de adaptação, quando começou a dar certo, entendemos que seria essencial para que não perdessem o lado social diante do isolamento”, afirma.
A professora lembra que a dança proporciona a socialização, a interação e a chance de fazer amigos. Até mesmo o formato on-line de aulas permite momentos de comunicação importantes e entrosamento. Outro desafio do modelo digital, que mostrou avanço, como destaca, foi o ganho da consciência corporal das alunas. “Na forma presencial, estou ali, junto dos alunos, e ajudo a entender o movimento a cada passo. No ensino on-line, estou no comando, mas eles têm de ser mais autônomos.”
Seja qual for a idade e o local, a professa estimula as pessoas a procurarem seu ritmo e a explorar a dança. “Todos podem dançar, mesmo em casa, em qualquer lugar, até no banheiro, debaixo do chuveiro. Só tenha atenção e cuidado com o espaço. Segurança acima de tudo.”
Ela conta que muitos alunos começam a dançar em períodos difíceis da vida, quando lidam com perdas e a depressão, mas com a prática da dança descobrem novas forma de enfrentar os problemas e fazem amizades.
DANÇAR MELHORA A CAPACIDADE RESPIRATÓRIA
Fernanda Parreiras é professora de dança em academias, ensinando zumba e fit dance. Na infância, ela se dividia entre as aulas de jazz e a ginástica olímpica. A dança se tornou atividade constante e há sete anos ela comanda salas de aula. “É a minha grande paixão”, define.
Ela também incentiva as pessoas a buscar o bem-estar promovido pela dança. “Percebo que muitas alunas iniciam as aulas tímidas, às vezes tristes. Depois, saem com a autoestima elevada, energia no talo e sempre sorridentes. Sem contar que terminamos sempre suadas e descabeladas. Indico a dança também por ser uma atividade física completa”, diz Fernanda.
Como indicação, a professora explica que as aulas de zumba e fit dance são uma mistura de ginástica com movimentos de dança embalados por ritmos variados, o que “melhora a capacidade respiratória, favorece a perda de peso, fortalece os músculos, além de ajudar no convívio social. A dança é para todos. Não existe essa de 'eu não consigo', 'não tenho ritmo'. Com treino e dedicação, é possível se aprimorar e alcançar seus objetivos”, garante a professora, que também adotou o ensino digital. Com as medidas de isolamento, Fernanda passou a acompanhar as alunas por videoconferência.
AQUECIMENTO - COMO SE PREPARAR PARA DANÇAR
Alongamento antes de dançar*
- Alivia tensões, como prática de relaxar músculos, pescoço e costas
- Aumenta a força, por meio da flexibilidade, possibilita maior amplitude nos movimentos e o uso de mais fibras musculares
- Faz bem para a mente, estimulando a liberação de serotonina, hormônio que regula o humor
- Melhora a postura e desconfortos físicos
- Apoie as duas mãos atrás da cabeça e a traga para baixo sem forçar, usando apenas o peso dos braços. Mantenha a posição por 20 segundos.
- Gire os ombros por alguns segundos para trás para relaxar as tensões dessa região. Inverta o movimento e gire os ombros para frente por mais alguns segundos
- Para alongar a coxa, apoie a mão na cadeira e puxe uma perna de cada vez por 20 segundos
- Alongue a parte posterior das pernas apoiando as mãos sobre a cadeira e descendo devagar até onde seu corpo permitir. Permaneça na posição por 20 segundos.
*Fonte: professora Laura Moraes (www.youtube.com/watchv?=cSVWttYoGwo)
CONHEÇA UM POUCO DA HISTÓRIA DA DANÇA
O movimento em capa época*
- Dança primitiva: era quase um instinto pela busca de sobrevivência, alimentos, água e também uma forma de agradecimento à natureza.
- No Egito: a dança era ritualística e tinha características sagradas. Dançava-se para os deuses, em casamentos e funerais.
- Na Grécia: a dança originou-se de rituais religiosos e os gregos acreditavam no seu poder mágico. Elas preparavam os guerreiros e sempre eram feitas em grupo e tinha importância também no teatro.
- Em Roma: a dança não era privilegiada e entra em decadência.
- No Romantismo: o termo romantismo é absorvido pelo balé, que, até então, tratava de histórias de fadas, bruxas e feiticeiras. Os bailarinos começam a usar sapatilhas, completando a revolução do balé. Na segunda metade do século 19, a norte-americana Angela Isadora Duncan, considerada a precursora da dança moderna, provoca uma renovação ao propor movimentos mais livres, soltos e ligados à vida real.
- Dança moderna: é uma negação da formalidade do balé. Os movimentos corporais são mais explorados e incorpora um grande estudo das possibilidades motoras do corpo humano.
- Dança contemporânea: a contemporaneidade deixa de ter uma estrutura clara e se preocupa mais com a transmissão de conceitos, ideias e sentimentos do que com a estética. Ela surgiu na década de 1960, como uma forma de protesto ou rompimento com a cultura clássica. Nos anos 1980, desenvolveu linguagem própria e os movimentos da dança moderna modificam o espaço, usando não só o palco como local de referência. Todos podem praticá-la.
* Fonte: Secretaria da Educação do Paraná (Seed)