Jornal Estado de Minas

CIÊNCIA

Retirada de testículos: estudo avalia ação da COVID na fertilidade do homem


Há muito o que se compreender sobre os impactos que a COVID-19 tem sobre o corpo humano, ainda mais a longo prazo. Problemas no sistema reprodutor masculino, por exemplo, podem ser uma das consequências negativas para a saúde de homens infectados com a doença. Estudo científico desenvolvido na Rede Mater Dei de Saúde, em Belo Horizonte, se relaciona ao tema. A pesquisa sobre a ligação entre a COVID-19 e a infertilidade masculina, parte da coleta de amostras de sêmen em pacientes vivos com a infecção, além da retirada de testículos em homens que morreram com a doença.



O estudo foi iniciado no meio de 2020, após aprovação junto ao Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Na análise sobre os pacientes que morreram, o objetivo é verificar quais são os tipos de danos ocasionados pela doença no órgão, e se, ainda após a morte, o patógeno continua presente.

Em pacientes vivos, o intuito é observar realmente se leva à infertilidade. É o que explica o coordenador do trabalho Marcelo Horta Furtado, urologista, coordenador do Departamento de Infertilidade Masculina da Sociedade Brasileira de Urologia, seção Minas Gerais (SBU-MG), médico especialista em infertilidade masculina da Rede Mater Dei de Saúde e na clínica MF Fertilidade Masculina.

Desde o princípio da pandemia em Wuhan, na China, um artigo científico baseado na avaliação de seis cadáveres já dava conta de que, em todos, havia danos aos testículos. E foi o que incentivou os médicos mineiros a pensarem em elaborar uma pesquisa semelhante por aqui.



É sabido que o novo coronavírus acomete diferentes sistemas do organismo humano, além do pulmão, continua Marcelo Horta. Pode afetar, por exemplo, como lembra o urologista, intestino, coração, rins. Agora, o estudo pretende avaliar como também pode comprometer os testículos, e há base científica para essa hipótese. "Na literatura médica, considera-se o testículo, muitas vezes, como santuários para vírus, como o que aconteceu no caso da zika ou para a caxumba, por exemplo. Uma outra hipótese viável seria de que, dessa maneira, também pode ser transmitido via relação sexual", esclarece.

O coronavírus tem propriedades que podem ocasionar a inflamação nos homens, no epidídimo (canal localizado na parte posterior dos testículos), chamada epididimite. Conforme experiência adquirida durante a epidemia de Sars-CoV-1, na Ásia, em 2002, cientistas descobriram que esse vírus entrava nas células ao se ligar a proteínas presentes em grande quantidade no sistema reprodutor masculino, as chamadas proteínas ACE2.

Conforme explica Marcelo Horta, o Sars-Cov-2, vírus causador da COVID-19, tem esse mesmo mecanismo - entra nas células do corpo humano ao se ligar a essas mesmas proteínas e chega aos testículos e epidídimo, causando a inflamação que se dá pela reação do corpo humano ao tentar combater o vírus dentro das células do sistema reprodutor, já que o organismo direciona mais sangue e células de defesa para o local.



A pesquisa na Rede Mater Dei de Saúde é realizada em conjunto com os departamentos de Virologia, Morfologia e Anatomia Patológica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Até o momento, são nove cadáveres examinados em uma meta total de 10, e 12 pacientes vivos, em um total pretendido de 50.

No caso dos pacientes vivos, a coleta é feita entre o 15º e o 30º dia da infecção pelo coronavírus, sua fase mais aguda. A base do exame é o espermograma, com dosagem de hormônios, e a coleta deve ser feita, além da inicial, em outras duas oportunidades, após três e seis meses. A análise prevê a constatação de problemas futuros para a fertilidade masculina a curto e médio prazo.

A rede informou que, assim como em outras pesquisas científicas com seres humanos realizadas anteriormente, ou em andamento, "na Rede Mater Dei sempre há o consentimento da família e/ou do paciente, de acordo com a pesquisa realizada".

Em São Paulo

Conforme outro estudo, coordenado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), dos 26 pacientes com casos leves e moderados da COVID-19 que participaram da pesquisa, 42,3% deles apresentaram epididimite. Diretora da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Karin Anzolch, fala sobre a relevância do artigo intitulado Padrões radiológicos de epididimite incidental em pacientes com COVID-19 leve a moderado revelados por ultrassom Doppler colorido, para constatação de mais essa situação que pode estar relacionada à pandemia.



"Sabemos que o SARS-CoV-2 tem um comportamento potencialmente mais agressivo em homens e ainda se especula as causas disso. O estudo conduzido pelos colegas da USP é realmente muito interessante e traz um pouco mais de compreensão sobre essa infecção, especialmente no sexo masculino. A continuidade dessa linha de pesquisa pode nos confirmar a real incidência desses achados ou, mesmo, se haverá alguma repercussão futura em termos de fertilidade ou transmissão", afirma.

Sobre a epididimite

A inflamação do epidídimo também pode ser causada por bactérias, traumas, infecções sexualmente transmissíveis, infecção do trato urinário e demais vírus. Entre os sintomas, inchaço, febre, vermelhidão e dor, característicos de processo inflamatório, apesar de alguns casos poderem ser assintomáticos. Entre os riscos dessa disfunção, possibilidade de atrofia e redução do volume do testículo, formação de abscessos e possibilidade da infecção se generalizar e sair do testículo, atingindo a corrente sanguínea, além da infertilidade.

A epididimite pode ser identificada através de exames físico e de imagem, como ultrassom. O tratamento pode se dar com analgésicos e anti-inflamatórios, e aplicação de gelo no escroto e repouso. No caso das inflamações causadas por bactérias, a terapia mais indicada é com antibióticos específicos para cada infecção.



Quando há a presença de abscessos - bolsa de pus -, pode ser necessária a realização de cirurgias e drenagem da bolsa escrotal para eliminar o pus. Em casos mais raros, a retirada do testículo pode ser recomendada. Quando a causa é a infecção por COVID-19, haja vista a complexidade e novidade do quadro associado, o tratamento adequado ainda não é consenso, já que não existem medicamentos que combatam a infecção causada por esse tipo de vírus.

 

* Com informações de Jéssica Mayara

 

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Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil

  • Oxford/Astrazeneca

Produzida pelo grupo britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No país ela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

  • CoronaVac/Butantan

Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.





  • Janssen

A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do único no mercado que garante a proteção em uma só dose, o que pode acelerar a imunização. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.

  • Pfizer

A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Ministério da Saúde em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autorização para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.

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Como funciona o 'passaporte de vacinação'?

Os chamados passaportes de vacinação contra COVID-19 já estão em funcionamento em algumas regiões do mundo e em estudo em vários países. Sistema de controel tem como objetivo garantir trânsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacinação impõem desafios éticos e científicos.





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Mitos e verdades sobre o vírus

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