Mais casos de COVID-19, elevação do número de óbitos e ocupação de leitos em alta. Esse é o cenário atual de Minas Gerais, bem como de outras partes do Brasil. Não à toa, as medidas restritivas cada vez mais se ampliam.
Uma esperança para o sistema de saúde é o chamado hospital de transição, que, agindo na recuperação de pacientes, pode “desafogar” hospitais gerais – responsáveis pelo atendimento de urgências e emergências – e liberar leitos para pacientes agudos.
Uma esperança para o sistema de saúde é o chamado hospital de transição, que, agindo na recuperação de pacientes, pode “desafogar” hospitais gerais – responsáveis pelo atendimento de urgências e emergências – e liberar leitos para pacientes agudos.
“Ele vem para preencher essa lacuna entre o hospital geral e a volta para casa”, resume Vinicius Lisboa, geriatra e diretor clínico do Paulo de Tarso – Hospital de Transição, lozalizado em Belo Horizonte.
É uma espécie de legado e missão, segundo o especialista. E a prática se dá justamente a fim de recuperar o paciente em sua totalidade ou, ao menos, no máximo de sua capacidade funcional. “Grande parte dos pacientes que passam por uma internação prolongada, em leito de CTI ou necessitam de ventilação mecânica ou sedação tem perda de funcionalidade. Um exemplo: quando temos uma pessoa que está mobilizada para tratar uma fratura, o que acontece? A musculatura fica atrofiada.”
“Agora, imagina um paciente que fica cerca de 15 dias ou um mês em leitos de CTI? Então, ele perde funcionalidade da parte muscular de maneira global. Perdendo essa funcionalidade, pacientes que tinham a capacidade de andar e ter independência perdem essa independência. Muitas vezes, se tratando de um cenário de pandemia, com internações mais prolongadas, eles desenvolvem essa fragilidade muscular e perdem essa capacidade de caminhar e se movimentar de maneira independente”, justifica.
Nesse cenário, Vinicius Lisboa lembra, ainda, que no caso de uma pessoa mais frágil, como um idoso, por exemplo, a perda de funcionalidade pode ser ainda maior, com impactos respiratórios e alimentares.
Isso pode fazer com que o paciente, então, necessite, inclusive, de ventilação mecânica mesmo em domicilio e/ou de se alimentar por sonda. “E como que uma pessoa que era independente volta para casa com esse nível de dependência?”, indaga Vinicius.
Isso pode fazer com que o paciente, então, necessite, inclusive, de ventilação mecânica mesmo em domicilio e/ou de se alimentar por sonda. “E como que uma pessoa que era independente volta para casa com esse nível de dependência?”, indaga Vinicius.
"Primeiro, desafogamos o hospital geral e os leitos para pacientes agudos, e sequencialmente temos uma assistência que é adequada para o paciente em questão naquele momento em um hospital que é focado no implemento de funcionalidade. E quando conseguimos 'devolver' esse paciente para o domicílio sem tubos de respiração ou alimentação, sem ventilador, sem traqueostomia, o cuidado dele fica facilitado, o risco de infecção menor, a independência maior e o risco de uma nova internação menor. Isso gera economia para o sistema de saúde."
Vinicius Lisboa, geriatra e diretor clínico do Paulo de Tarso %u2013 Hospital de Transição
“É nesse sentido que agimos. Disponibilizamos no hospital de transição uma equipe multidisciplinar – fisioterapia motora e respiratória, fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicologia em conjunto – para fazer um incremento de funcionalidade, muitas vezes, com êxito de retirada de dispositivos, do ‘desmame’ do ventilador, da retirada do tubo no pescoço e até com o retorno da funcionalidade em termos de melhora da condição desse paciente. Assim, ele pode ter autonomia de maneira geral, melhorando a força muscular e fazendo com que ele volte a alimentar e, muitas vezes, até andar”, reforça.
Para pacientes graves que não têm um prognóstico favorável, ou seja, chance de evolução da doença, a abordagem indicada pode ser o cuidado paliativo. “E o mais indicado nesse caso é o hospital de transição, o que também promove uma liberação de leitos. E isso não só no caso da COVID-19, mas também para pacientes neurológicos pós-AVC, pós-acidentes com politraumatismo, acidente de carro, automobilísticos, entre outros. Então, todo esse contexto de pacientes tem indicação do hospital de transição”, afirma.
EFEITO CASCATA
A liberação de leitos, conforme citada por Vinicius Lisboa, é muito importante no cenário da pandemia atual. E ela funciona em uma espécie de “efeito cascata”. Isso porque, para além de resgatar a funcionalidade de pacientes em recuperação após a infecção e internação por COVID-19, o hospital de transição abre vagas em leitos de hospitais gerais.
“Aquele paciente que sai de um leito de CTI pode ir para um leito de cuidados adequados de reabilitação. Então, aquele leito de CTI fica liberado e o paciente que está em momento agudo, principalmente nesse momento de pandemia, pode ter acesso facilitado a leitos. E no hospital de transição todos os cuidados são tomados, assim como nos hospitais gerais, desde regras de distanciamento até as de higienização”, lembra.
E essa “cadeia” de benefícios inclui, ainda, uma certa economia para o sistema de saúde como um todo. É o que afirma o geriatra do Paulo de Tarso.
“Primeiro, desafogamos o hospital geral e os leitos para pacientes agudos, e sequencialmente temos uma assistência que é adequada para o paciente em questão naquele momento em um hospital que é focado no implemento de funcionalidade. E quando conseguimos ‘devolver’ esse paciente para o domicílio sem tubos de respiração ou alimentação, sem ventilador, sem traqueostomia, o cuidado dele fica facilitado, o risco de infecção menor, a independência maior e o risco de uma nova internação menor. Isso gera economia para o sistema de saúde.”
NA PRÁTICA
O aposentado Adilson Fernandes, de 70 anos, ficou internado por 14 dias no CTI para tratar a infecção por COVID-19. Depois, foram mais duas semanas na enfermaria do hospital geral Risoleta Neves. E desde fevereiro deste ano estava no hospital de transição Paulo de Tarso. Na última sexta-feira (26), ele recebeu alta e foi para casa, bem e com um quando bem evoluído, segundo relatos.
Na sua entrada no Paulo de Tarso, ele estava com oxigênio, traqueostomia e era alimentado por sonda. Sem movimentos, muito confuso, agitado e com muita diarreia, Adilson Fernandes, aos poucos, foi se recuperando.
“Cheguei no hospital sem saber de nada, estava quase inconsciente. Eles foram me recuperando. Comecei a me sentir muito bem, porque fui tratado com muito carinho. E com isso a gente fica bem. Me recuperei rápido e tranquilo. Fui fazer fisioterapia e, com uma semana, já estava andando com andador e segurando na barra. Já me alimento normalmente também. Foi muito especial para mim.”
Ele, hoje, não usa mais fraldas e se sente muito bem. “O carinho deixa a gente ‘pra cima’ e a gente fica com vontade de fazer as coisas. Quando saí do hospital, saí sem nenhuma sequela”, conclui.
O aposentado Izael Avelar de Souza, de 89 anos, também esteve internado em razão da contaminação por COVID-19. Foram 48 dias no hospital geral Vila da Serra até que em março deste ano foi transferido para o hospital de transição Paulo de Tarso. “Estava muito debilitado e com pouca esperança na minha recuperação. Com alguns dias em tratamento, me senti melhor, a alegria, dedicação e paciência dos funcionários me motivaram.”
“Todos contribuíram no dia a dia para minha recuperação. Depois de duas semanas comecei a melhorar visivelmente, alimentação, mobilidade e ânimo. Os fisioterapeutas do ginásio se empenharam com entusiasmo para que eu voltasse a andar e recuperar meus movimentos. Hoje, me sinto bem, e já de alta. Sou muito grato a Deus e a todos que oraram por mim e me auxiliaram nesta longa jornada. Estou muito feliz de poder voltar para o aconchego de minha casa com minha família”, conta.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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