Após quase três meses do início da vacinação contra COVID-19 no Brasil, ainda surgem algumas perguntas quando a chega a vez na fila de imunização.
A médica alergista e imunologista Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento de Imunizações da Associação Brasileira de Alergia Imunologia (ASBAI) respondeu as principais dúvidas que ainda restam neste momento. Confira:
Há algum sintoma comum após tomar a vacina? O imunizante causa COVID-19?
Sim, todas as vacinas podem apresentar os eventos adversos após aplicação, mas eles não podem arrastar e evoluir muito. Caso isso aconteça, há possibilidade de ser a infecção pela COVID-19 mesmo. A doença poderia estar incubada e a pessoa vacinou sem saber se estava infectada. É importante observar e fazer um diagnóstico diferencial. Coriza, fraqueza, dor no corpo, febre e dor de cabeça, podem surgir após a vacinação, mas devem sumir entre dois a três dias.
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A pessoa que apresentar sintomas pós vacina, deve se portar como se fosse um paciente com coronavírus, se isolando e evitando contatos. Se em dois a três dias os sintomas não sumirem ou evoluírem para outros como falta de ar e perda de paladar, deve-se procurar um médico e fazer o teste, pois a vacina não causa essas manifestações.
Se o PCR for positivo é por causa da infecção em si, e não pela vacina. A pessoa pode ter sido vacinada enquanto não tinha sintomas e manifestou depois.
Depois de quanto tempo da 2ª dose, é possível encontrar algumas pessoas com segurança?
Agora estamos passando por um momento muito crítico e as pessoas vacinadas, mesmo com duas doses, ou que já apresentaram infecção natural, ainda que recente, não estão isentas das medidas protetivas recomendadas.
É preciso manter o distanciamento social, uso de máscaras, higienização frequente e adequada das mãos.
Pode tomar a vacina da gripe e de COVID-19 juntas?
Deve ser obedecido um intervalo de 14 dias entre as vacinas de Influenza e COVID-19, independente da ordem entre elas.
E as pessoas que foram infectadas pelo coronavírus devem ter um intervalo de 30 dias a contar a partir do 1º dia de sintomas ou 1ª dia de PCR positivo.
Por que a CoronaVac tem intervalo menor entre doses e a AstraZeneca maior?
Porque são vacinas com plataformas de fabricação diferentes, que utilizam tecnologias distintas.
A AstraZeneca utiliza a tecnologia de vetor viral, com o material genético da COVID-19 dentro dele. Por exemplo, é como se ela fosse o cavalo de Troia, vem com um ‘presente’. Quando abre o cavalo, está o vetor dentro, e ele é apresentado ao sistema imunológico naquele momento.
O vetor viral é um carregador do material genético. O sistema imunológico vai demorar um pouco mais para estimular as células a produzir os anticorpos, já que ele é apresentado ao vírus inativado quando ‘abre’ o vetor.
O vetor viral é um carregador do material genético. O sistema imunológico vai demorar um pouco mais para estimular as células a produzir os anticorpos, já que ele é apresentado ao vírus inativado quando ‘abre’ o vetor.
A CoronaVac utiliza o vírus inteiro e inativado. Não há um vetor que carrega o material, por isso o sistema imunológico consegue ‘aprender a fórmula de fabricação’ mais rápido.
As vacinas acessam o sistema imunológico de formas diferentes, mas isso não quer dizer que uma é superior ou inferior a outra.
Quanto tempo dura a imunidade?
Para essa pergunta ainda não tem uma resposta definitiva. Há estudos preliminares mostrando que isso pode variar de acordo com o indivíduo, o tipo de vacina e da mutação do vírus. Há uma tendência que a vacina de COVID-19 entre para o calendário anual, devido a falta de estudos conclusivos e aparecimento de novas cepas com grande circulação viral.
Qual a relação entre casos de pacientes com trombose que se vacinaram contra COVID-19?
Esses eventos adversos apareceram em algumas pessoas que já tinham histórico familiar de trombose ou comorbidades que favoreciam o aparecimento de eventos tromboembólicos. Não foram casos relacionados à vacina, até o momento já foi descartada a relação causal.
Pessoas com quadros alérgicos devem tomar vacina?
Se o paciente tem uma suspeita ou um histórico de reação alérgica aos componentes da vacina contra COVID-19, ele deve tentar tomar o imunizante que não tenha a substância, principalmente o polisorbato e polietilenoglicol, que estão presentes na vacina da AstraZeneca.
Caso não possa ‘escolher’ entre os imunizantes disponíveis no Brasil, a vacinação deve ser feita em um lugar supervisionado e preparado para reverter uma possível reação anafilática, com um médico observando por 30 minutos.
*Estagiária sob supervisão