Fadiga, dor nas articulações, dificuldade para dormir, palpitações ou dor no peito, ansiedade, depressão e distúrbios cognitivos fazem parte de uma gama de sintomas que pacientes que tiveram COVID-19 grave relatam sentir mesmo meses após a infecção. Estudos realizados em vários países tentam esclarecer melhor as sequelas persistentes causadas pelo vírus Sars-Cov-2, apelidadas de síndrome pós-COVID, à medida que mais pessoas se curam da doença.
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COVID-19 ataca órgãos
O virologista e coordenador do curso de Biomedicina do Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR), Raphael Rangel, explica porque a COVID-19 já é entendida pelos cientistas como uma doença que ataca múltiplos órgãos, com um amplo espectro de manifestações.
“A gente precisa entender que estamos falando sobre ECA2 (enzima conversora da angiotensina 2), que é um receptor que temos na nossa célula. O vírus usa a glicoproteína Spike e ela funciona como uma chave. E não é só no pulmão onde temos esse tipo de receptor em abundância Também temos ECA2 nos vasos sanguíneos, nos rins, intestino e em outros lugares”, explica Rangel.
Principais sequelas da COVID-19
Os primeiros relatórios sobre as consequências infecciosas após casos agudos de COVID-19, conforme estudos dos Estados Unidos, Europa e China, mostram resultados para aqueles que sobreviveram à hospitalização por COVID-19 agudo. Na Itália, 87,4% dos pacientes que receberam alta relataram sintomas como fadiga, falta de ar, dor nas articulações e dor torácica, sendo que 55% dos pacientes continuaram a apresentar três ou mais desses sintomas depois de se recuperarem do coronavírus.
Em um estudo realizado em Wuhan, na China, cidade considerada o marco zero da pandemia de coronavírus, as consequências de longo prazo da COVID-19 aguda foram avaliadas em pacientes seis meses a partir do início dos sintomas. O estudo utilizou questionários de pesquisa, exame físico, testes de caminhada de seis minutos e exames de sangue. Em casos selecionados, foram feitos exames de função pulmonar, tomografia computadorizada de tórax de alta resolução e ultrassonografia para avaliar as lesões provocadas pela COVID- 19.
Distúrbios no cérebro
Um outro estudo conduzido com mais de 230 mil pacientes dos Estados Unidos mostrou que um em cada três sobreviventes da COVID-19 foi diagnosticado com um distúrbio cerebral ou psiquiátrico nos seis meses seguintes à doença. A pesquisa sugere que a pandemia pode provocar uma onda de problemas mentais e neurológicos.
Os pesquisadores disseram que não estava clara a ligação do vírus com as condições psiquiátricas, como ansiedade e depressão, mas que esses eram os diagnósticos mais comuns entre os 14 distúrbios que examinaram. Os casos de AVC, demência e outros distúrbios neurológicos em quem já teve a COVID eram mais raros, mas ainda eram significativos, especialmente naqueles que tiveram a forma grave da doença.
Problemas renais
No Brasil, dos 5% dos pacientes que estão entubados com quadros graves de coronavírus, metade precisa passar por diálise, segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia. Quando o quadro é muito grave, o paciente pode ter lesões renais e precisar de hemodiálise porque o rim para de funcionar. O quadro renal, muito observado em pacientes com coronavírus, é motivo de preocupação, segundo o virologista Raphael Rangel.
“A gente observa que em leitos de UTI muitos pacientes que são entubados e ficam graves acabam evoluindo para um quadro de diálise. E quando temos um paciente que evolui para falência renal é preocupante, porque tem ali um descontrole do corpo, chamado de homeostase, que é quando o corpo não consegue tirar os eletrólitos, filtrar o sangue, então tem problemas que podem desestabilizar o paciente ainda mais”, explica o virologista.
Infecções por outros coronavírus
Pessoas que sobreviveram a infecções anteriores, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave, de 2003, e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, em 2012, demonstraram ter sintomas semelhantes, reforçando a preocupação dos cientistas com as sequelas deixadas pela COVID-19.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Alves