Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Livros: pontes de conexão entre crianças e adultos



A leitura oferece um mundo de fantasia, imaginação e criatividade. Um universo lúdico. Portanto, um dos melhores lugares no planeta para que as crianças sempre estejam presentes e seguras.

A pedagoga Cláudia Onofre exalta que os livros são pontes de conexão entre a criança e o adulto. Além do conteúdo abordado, “o livro, por meio da história apresentada, aproxima olhares, proporciona contato afetivo que são fundamentais desde os primeiros meses de vida”.



Para ter o efeito desejado, Cláudia Onofre avisa que a leitura deve ser adequada para cada faixa etária, garantindo momentos de prazer, aprendizado e interação de forma significativa.

“Em tempos de pandemia, os livros são grandes aliados, contribuem para que crianças e jovens fiquem ativos por meio da leitura: desenvolve a atenção, concentração, vocabulário, memória e raciocínio; estimula a curiosidade, imaginação e criatividade; colabora ativamente para que a criança e o jovem aprendam a lidar com sentimentos e emoções; é essencial no desenvolvimento da empatia; além de contribuir no desenvolvimento do processo de aprendizagem.”
 
Cláudia Onofre destaca que a leitura é uma prática necessária para a saúde mental e emocional das crianças. É importante que essa prática seja consolidada como hábito que deve se iniciar desde a primeira infância até o fim da vida.



“Quando falamos de crianças e jovens em período de pandemia, é inevitável pensarmos no impacto social, emocional e cognitivo. Eles precisam da socialização e do processo ensino-aprendizagem de forma sistematizada por meio das escolas."

Apesar dos danos, o momento é de centrar esforços para que fiquem em casa e em parceria com escolas, professores e famílias encontrar caminhos que proporcionam alegria, compartilhamento, acolhida e brincadeiras.

A leitura é uma grande aliada. Por meio dos livros, enfatiza Cláudia Onofre, tem como manter o aprendizado ativo, estabelecer vínculos afetivos com os avôs ou familiares, brincadeiras com amigos. Mesmo que distante, a especialista diz que é possível leituras compartilhadas que superam o distanciamento e aquecem o coração.
 

Adequação a cada faixa etária

 
Pedagoga Cláudia Onofre avisa que o caminho é escolher livros com temas que a criança gosta ou que sejam divertidos e adequados à faixa etária (foto: Arquivo Pessoal)
E para as crianças que não sabem ler, como usufruir dos benefícios da leitura? Cláudia Onofre explica que as crianças podem não ter uma leitura fluente da escrita, mas são capazes de fazer a leitura por meio de atividades e das ilustrações do livro. Os adultos são os agentes nesse processo de descoberta.



“É importante escolher um lugar apropriado, onde a criança possa ficar à vontade para explorar este momento. Aproveite e mergulhe na história com gestos, tons de voz, caretas etc. Peça que a criança repita ou mostre o que você está falando (sempre adequando à faixa etária). Incentive e elogie a criança com suas descobertas e participação. São momentos divertidos que a criança irá desenvolver ou até mesmo ampliar seu processo de aprendizagem, bem como criar vínculos afetivos que são levados de forma significativa até a vida adulta.”

A pedagoga, consultora da Dentro da História (www.dentrodahistoria.com.br), plataforma de livros personalizáveis para idades até 12 anos, ensina que, para as crianças que não gostam de ler, é preciso de forma leve e acolhedora inserir a leitura na rotina até que seja criado o hábito.

“O melhor caminho é escolher temas que a criança gosta ou que sejam divertidos, como trava-línguas ou o que é o que é?. Sempre são uma boa pedida, as crianças adoram e se divertem, além de estimular o gosto pela leitura de forma prazerosa. Ao término da leitura, é importante mostrar como aquele momento foi importante, gostoso e divertido. Aproveite para propor combinados de leitura diária, estimula o gosto pela leitura.”




 

Ler em família 


A leitura sempre deve se adequada a cada faixa etária (foto: Arquivo Pessoal)
Cláudia Onofre alerta que, neste momento, para os leitores o desafio é muito maior porque lidam com um mundo das aulas on-line e o cansaço e a ansiedade toma conta e a criança não tem mais prazer em ler.

“Nesse caso, é preciso de amor e acolhimento, colocar-se no lugar do outro, mostrar que entende o que está passando, que de fato é desafiador. Mostrar que os livros são aliados para a saúde mental, agentes de felicidade, nos transportando por meio das histórias para outros locais, grandes aventuras e descobertas. Em família, definam juntos como podem superar essa fase de desinteresse e criem algumas regras: todos devem ser exemplo, ou seja, a família toda deverá se comprometer a ler um livro; crie um momento de partilha, onde poderão falar se estão gostando da leitura, contar um pouco da história e até mesmo dizer que não estão gostando e recomeçar a leitura com outro livro; e em tempos de pandemia, organize passeios literários virtuais.”

TRÊS PERGUNTAS PARA: Jaqueline Bifano, psiquiatra


Jaqueline Bifano, psiquiatra (foto: Leca Novo/Divulgação)


1 -Como a leitura e os livros, no isolamento social, contribuem para preservar a saúde mental?
Estamos isolados e impedidos de viver e conviver com outras pessoas há um ano. Desde então, muito se fala sobre os cuidados com o corpo, com a alimentação e com a saúde mental. A leitura é, sem dúvida, uma forma de ocuparmos nosso tempo e mente durante esse tempo. Por meio dela, conseguimos relaxar, ativar a memória, ampliar nossos conhecimentos, tirar o foco das preocupações do dia a dia e mergulhar em outras realidades. Os livros são responsáveis por  nos fazer viajar sem precisar sair de casa. Se estou lendo algo que prenda a minha atenção, os níveis de ansiedade, de estresse e de tristeza, por exemplo, acabam dando espaço para outros sentimentos mais positivos.





2 - Há quem, mesmo em casa, com tempo de sobra, não consegue ler diante da ansiedade, dificuldade de concentração. O que fazer para se entregar à leitura e acalmar a mente?
Muita gente não consegue ler em episódios de ansiedade leve ou moderada porque a concentração fica comprometida. Isso tem a ver com a grande descarga de adrenalina que percorre o corpo. Leitura é hábito, um processo que tende a melhorar a cada dia. Uma dica para quem deseja melhorar a concentração ao ler é sempre ter um ambiente aconchegante, com boa iluminação e longe de aparelhos eletrônicos ou de barulhos. Vale investir em uma posição confortável para a coluna – mas não tão confortável que dê para tirar um cochilo – e, se possível, fazer pausa de tempos em tempos, seja para alongar, seja para comer algo leve ou tomar uma água. A leitura é um hábito e precisamos exercitá-lo. Vale dedicar alguns minutos do dia inicialmente e, aos poucos, o hábito vai fazer parte do dia ou da semana.

3 - Neste momento, qual estilo, gênero de leitura é mais indicado? O que é importante levar em conta pensando em preservar a saúde mental? Livros de autoajuda são a saída?
Não existe um estilo ou gênero que seja melhor para o período; afinal, as pessoas tendem a escolher o que ler de acordo com aquilo que mais as atrai. É válido evitar leituras que falem apenas de situações difíceis, de problemas e epidemias. Afinal, estamos sendo bombardeados por esse tipo de informação 24 horas por dia. Romances, ficção, aventuras, biografias e até autoajuda tendem a favorecer a saúde mental por conseguir tirar o foco do que está acontecendo no mundo real e nos fazer viajar em outras realidades e fatos. Com relação aos livros de autoajuda, eles podem ser benéficos sim, afinal todos estamos precisando exercitar a resiliência e o autoconhecimento. Eles podem ser excelentes companheiros nessa missão durante este período. O que não vale é fazer deles um amuleto. Esses livros costumam dar dicas sobre como viver a vida, como se fosse uma receita de bolo. Sabemos que não funciona dessa forma. Não existe fórmula mágica de como fazer ou agir em determinadas situações. Estamos em constante evolução e precisamos nos transformar profundamente diariamente. Ou seja, as respostas nunca estarão prontas.

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