Não se sabe o primeiro registro, mas o abandono amoroso está presente nas relações com ou sem o uso da tecnologia. No primeiro romance de Jane Austen, publicado em 1811, o clássico “Razão e Sensibilidade”, na história das irmãs Elinor e Marianne, já estava presente um caso de ghosting ao longo da narrativa. A psicóloga Renata Borja, especialista em terapia cognitivo-comportamental, pesquisadora, autora, professora e supervisora clínica, observa que o desparecimento de uma pessoa com a qual se estabeleceu um vínculo, geralmente, vai causar tristeza, raiva, ansiedade, angústia e mais uma série de emoções desconfortáveis.
Para Renata Borja, quem pratica o ghosting, em muitos momentos, faz isso porque muitas vezes lhe falta empatia com a outra pessoa com quem ela está se relacionando. “A empatia é uma capacidade de conexão e se colocar no lugar do outro, calçar o sapato do outro. Agora, é claro que muita gente que deixa o outro no vácuo é por medo de magoar, mas há quem simplesmente age assim porque não entende que tal atitude gera grandes prejuízos à outra pessoa.”
Segundo a psicóloga, o ghosting pode sim reforçar as inseguranças e afetar relacionamentos futuros porque cada situação que uma pessoa vivencia a faz ter várias interpretações e emoções. E cada uma delas vai afetá-la em vários outros momentos da sua vida. Se houve interpretações equivocadas sobre certa situação, se ficou sem compreender porque aquilo ocorreu, isso pode afetar o autoconceito positivo da pessoa, a autoestima, como ela se compreende, como ela acha que os outros entendem e pensam sobre ela.
Para Renata Borja não dá para julgar quem faz o ghosting. “Ao mesmo tempo que pode ser simplesmente falta de empatia, pode ser também atitude de uma pessoa que tenha medo de lidar com as emoções negativas do outro, dificuldade de manejar o que o rompimento vai gerar na outra pessoa, pode ser por fuga, uma estratégia por não saber lidar com o sofrimento alheio. Isso também pode vir de quem já viveu esta situação, foi abandonado e este rompimento anterior a faz ter dificuldade de romper porque sabe o que vai gerar. Há vários motivos para uma pessoa agir assim, não há como ler todas as mentes e saber as razões, mas certamente é quem tem dificuldade de lidar com conflitos e o ghosting é uma estratégia de esquiva. Em vez de romper, deixa a coisa no ar, o não enfrentamento.”
TRAIÇÃO
Durante a pandemia, as pessoas tiveram grande alteração da rotina que gera desconforto na maioria. E as relações também ficaram mias difíceis e conturbadas, o que é compreensível. Muitos vão se sentir infelizes e desconfortáveis nos relacionamentos. “Com isso, pode ocorrer que algumas pessoas utilizem a traição como forma de aliviar este desconforto. Buscar em outra pessoa se sentir mais capaz, melhor, mais interessante para alguém. As pessoas estão procurando por circunstâncias que as façam se sentir bem, atraídas, desejáveis, isso as faz testar outras relações, se interessando e saindo de uma relação sem dar explicações.”
Hoje, muitos querem viver situações em que se sintam melhores, mas nem sempre são favoráveis. Uma pessoa pode escolher comer para aliviar a tensão e se sentir bem ou beber, trair, usar drogas. “São estratégias compensatórias para tentar amenizar o humor negativo. Só que muitas vezes essas estratégias vão lhe trazer sofrimento e levar sofrimento a outras pessoas. E em longo prazo, vão trazer problemas. Buscar alternativa mais fácil, como o ghosting, é uma fuga. Quem pratica, às vezes, está só pensando em seu desconforto, mas não pensa na consequência para a outra pessoa”, atesta a psicóloga.Quem pratica o ghosting também não está bem resolvido nos relacionamentos amorosos. Está apenas se esquivando do problema e, provavelmente, se esquiva de outros problemas da vida. E esta não é a melhor estratégia porque não resolve, só joga as circunstâncias para frente e pode ter graves consequências em outras áreas da vida
Renata Borja, psicóloga
Renata Borja não aponta o ghosting como questão de gênero. Para a psicóloga, há diferenças: “Talvez porque as mulheres são mais abertas a falar de emoções, a discutir o que não está bom, a tentar ajustar, melhorar. E os homens muitas vezes têm dificuldade de expressar mais a emoção. Percebo muito isso, até mais como uma questão social. Eles não gostam muito de discutir as relações como se isso fosse fazê-los se sentir mais fracos, como se fossem julgados. Por preconceito mesmo, de que homem não chora, não pode sentir tristeza, desconfortável em determinadas situações. Talvez seja mais fácil que eles se esquivem para não se mostrarem vulneráveis frente aos seus pares. Mas não dá para falar de forma generalista. Mas há preconceitos culturais relacionados às questões emocionais”.
Para Renata Borja, quem pratica o ghosting também não está bem resolvido nos relacionamentos amorosos: “Está apenas se esquivando do problema e, provavelmente, se esquiva de outros problemas da vida. E esta não é a melhor estratégia porque não resolve, só joga as circunstâncias para frente e pode ter graves consequências em outras áreas da vida”.
REAÇÕES DO ABANDONADO*
1 - A pessoa com perfil triste
Vai se culpar, se sentir desamparada, inadequada, feia, uma pessoa
não amável, incapaz e ela vai fazer para ela vários outros adjetivos negativos, se jogando para baixo, se penalizando, se culpando por esta situação.
2 - A pessoa com perfil ansioso
A tendência é se perguntar o que pode ter feito de errado, o que deu errado na relação, o que pode ter acontecido para ter gerado aquela situação de abandono, se pode ter uma outra situação provocado o sumiço do
parceiro, se a pessoa conheceu mais alguém, ela vai criar uma série de questionamentos buscando entender
isso e ficar pensando no que poderia ter acontecido.
3 - A pessoa com perfil raivoso
Vai responder a este tipo de circunstância com mais raiva e, em geral, vai atribuir culpa ao outro, vai se sentir desrespeitada, desvalorizada, enganada, agredida, algo bem negativo. Julgará o outro como ruim, que fez algo de ruim para prejudicá-la.
*Fonte: Renata Borja, psicóloga clínica especialista em terapia cognitivo-comportamental
TENDÊNCIAS DOS RELACIONAMENTOS EM 2021
O ano de 2020 impactou diversas áreas da vida, incluindo a forma como as pessoas se relacionam. Com as restrições da COVID-19 e medidas de distanciamento social, os encontros presenciais diminuíram enquanto os virtuais atingiam patamares nunca antes alcançados. A analista de dados globais do Badoo, aplicativo de relacionamento, Priti Joshi, compartilha as tendências de relacionamentos do aplicativo para 2021. Confira:
Wbdate
Com certeza, esse foi o ano da chamada de vídeo, a ferramenta que promoveu conexões mais íntimas e seguras do conforto de casa continuará forte ano que vem.
Sexting
Considerado um tabu antes, a relação entre sexo e tecnologia intensificou este ano e com isso gerou mudanças na ordem e quantidade de interações sexuais antes de um encontro na vida real.
DMs mais profundas
Se antes era necessária apenas uma conversa breve por mensagem para marcar um encontro e então duas pessoas se conhecerem melhor, agora os solteiros estão aproveitando o tempo para terem conversas mais profundas com suas conexões mesmo sem a previsão de um encontro ao vivo.
Desacelerar a paquera
A ausência de encontro na vida real colocou uma ênfase no momento pré-encontro. Com isso, a fase da paquera e da conquista on-line se tornou ainda mais importante e duradoura.
Dates mais longos
A tendência é que agora os encontros sejam marcados com bastante antecedência, seguindo as novas medidas de segurança e com mais tempo para planejar atividades que não coloquem em risco o casal.
A maioria das pessoas tem usado mais tempo para refletir sobre si mesmo focando em suas próprias necessidades e desejos mais
profundos. A partir disso, surge um novo tipo de solteiro, alguém mais autoconsciente, com uma nova visão e mais aberto a conhecernovas pessoas. Afinal, saber o que você está procurando e quem você é são fatores importantes para criar uma conexão sincera com alguém.