Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Pacientes renais crônicos seguem se expondo ao risco na pandemia


Cerca de 850 milhões de brasileiros sofrem com algum tipo de doença renal, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). Ainda de acordo com estimativas da entidade, 10 milhões de pessoas têm Doença Renal Crônica (DRC). Enquanto isso, mais de 20 mil pacientes dão início ao tratamento de hemodiálise ou diálise peritoneal a cada ano, conforme aponta pesquisa feita pela “Abril”.  

E, em meio à pandemia de COVID-19, mesmo com o risco de infecção pelo novo coronavírus – pacientes renais são considerados grupo de risco para casos graves, segundo o Ministério da Saúde –, esses brasileiros continuam a se expor cotidianamente para manter o tratamento em dia.



Isso porque a terapia é imprescindível para a longevidade, haja vista os altos índices de mortalidade da doença, segundo a SBN. Cerca de 2,4 milhões de pessoas com Doença Renal Crônica vão à óbito por ano, com taxa crescente. 

Não à toa, também de acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, 120 mil brasileiros não têm condições de seguir o isolamento social em razão da necessidade de manter os tratamentos. E, ainda, mesmo existindo a possibilidade de alguns casos serem tratados em casa, com diálise oferecida pelo SUS, apenas 8% dos brasileiros utilizam essa alternativa.

A comerciante Ana Paula Riccio Frazão, de 45 anos, faz parte dessa minoria e consegue se expor menos, já que faz o tratamento diariamente em casa. 

“Tenho rins policísticos, que é uma doença hereditária. Minha mãe tinha, eu e meus irmãos temos e nossos filhos também. Sei da minha condição desde os 18 anos e sempre mantive o acompanhamento com o nefrologista, mas me tornei uma doente renal crônica há cerca de quatro anos, quando minha doença avançou devido a uma infecção grave nos cistos renais. Desde então, faço diálise peritoneal em casa todos os dias”, conta. 





Porém, mesmo realizando o tratamento em casa, Ana Paula Riccio Frazão ainda se expõe ao risco de infecção, já que mensalmente precisa realizar exames de sangue, sofrendo impactos diretos da pandemia de COVID-19.

Assim como Ana Paula, milhares de brasileiros doentes renais precisam se expor frequentemente. Porém, ao contrário dela, alguns precisam, em média, sair de casa três ou quatro vezes por semana para fazer os tratamentos de reposição renal e terapia para suprir algumas das funções do rim, como filtrar impurezas do organismo. 

Mário Ernesto, diretor médico Renal Care, explica que as condições são ainda piores levando em conta a condição geral dessas pessoas. “Os pacientes renais crônicos compõem uma categoria de pacientes com inúmeras comorbidades. A grande maioria deles é formada de hipertensos e diabéticos, muitos com doença vascular difusa, hipertensão arterial e anemia. Se olharmos com calma veremos que há uma grande coincidência destas comorbidades com aquelas que aumentam os riscos de complicações quando há infecção por COVID-19.” 

“Além disso, como um paciente que tem que se deslocar três vezes por semana para a clínica, muitas vezes de transporte coletivo, conviver com 20 a 40 pacientes do seu turno, além de médicos, enfermeiros, técnicos, atendentes e outros funcionários da clínica podem manter um isolamento social? O risco de contaminação é muito alto e o de complicações graves também”, afirma o médico. 





Segundo ele, na tentativa de minimizar complicações para os pacientes renais, a SBN e a Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN), desenvolveram protocolos e orientações de cuidados a serem tomados, a fim de reduzir o risco para os pacientes e funcionários das unidades.

“O ideal era que o paciente ficasse em casa. A hemodiálise domiciliar praticamente não existe no nosso país e a diálise peritoneal, também feita em casa, tem baixa penetração entre os pacientes em diálise, com apenas 8% dos pacientes renais fazendo uso dela. O ideal era todo mundo em casa.” 

Ele lembra, ainda, que as entidades médicas recomendaram desde o início da pandemia que esses pacientes fossem incluídos nos primeiros grupos de vacinação. 

A DOENÇA RENAL CRÔNICA 


Os rins são fundamentais para o funcionamento do corpo, já que eles são responsáveis por filtrar o sangue e auxiliar na eliminação de toxinas do organismo. Nesse cenário, as Doenças Renais Crônicas (DRC) são alterações que afetam a estrutura e a função renal, com múltiplas causas e fatores de risco.



Segundo o Ministério da Saúde, trata-se de uma doença de curso prolongado, na maioria das vezes grave e que tem evolução assintomática, o que dificulta o diagnóstico precoce. 

Em contrapartida, o diagnóstico é simples e realizado com um exame de creatinina no sangue e urina de rotina, que identificam alterações na função dos rins. Os níveis elevados de creatinina no sangue e a alteração na urina indicam necessidade de uma avaliação com um nefrologista. O tratamento consiste, na maioria dos casos, em hemodiálise ou diálise peritoneal. 

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram 

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