Jornal Estado de Minas

Pesquisa revela

Tumores renais: procedimentos não invasivos têm menor risco de complicações

Procedimentos minimamente invasivos para retirada de tumores renais, como a crioablação e ablação por radiofrequência, têm os mesmos resultados que uma cirurgia tradicional. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo médico radiologista intervencionista Marcos Menezes e publicada pela revista European Radiology. O estudo foi realizado com 85 pacientes entre os anos de 2008 e 2016, no Hospital das Clínicas da FMUSP e no Hospital Sírio-Libanês.





O principal resultado colhido, segundo o especialista, foi que, a longo prazo, a resposta ao procedimento foi semelhante à cirurgia, e com menores complicações e custos. Mas, em que consiste esse tratamento? Trata-se de um modelo de terapia a qual denomina-se de ablativa. É o caso da radiofrequência e da crioablação, que são procedimentos tidos como minimamente invasivos. "Inclusive, elas têm sido amplamente utilizadas no tratamento dos tumores renais na última década, sobretudo em pacientes sem condição cirúrgica", pontua o médico.

No caso da crioablação, há os sucessivos ciclos de congelamento e descongelamento dos tecidos neoplásicos a partir de crioprobes (agulhas) inseridos no interior dos tumores sob orientação radiológica, atingindo temperaturas mínimas de até -100°C, promovendo a destruição tecidual pela ruptura de membranas celulares.

"O congelamento deve-se à propriedade termodinâmica do gás argônio de sofrer acentuada perda de calor durante sua expansão em câmara fechada. O descongelamento é obtido a partir da substituição do argônio pelo gás hélio, cujas propriedades termodinâmicas de expansão têm efeito oposto, aquecendo o sistema. A visualização e monitorização da expansão da bola de gelo permite a otimização do tratamento completo do tumor e menor risco de lesão das estruturas adjacentes", explica Marcos Menezes.





Já na ablação por radiofrequência, a agulha inserida produz um calor capaz de destruir as células tumorais. Foi a qual a mentora e coach de desenvolvimento pessoal e profissional Maria Conceição de Almeida, de 57 anos, se submeteu após descobrir o tumor renal. Ela, que descobriu os cistos após retornar de uma viagem para Portugal com a mãe, conheceu o procedimento por meio de um primo que também recorreu ao método para se tratar do mesmo tipo de câncer de Maria Conceição.

"Eu estava de férias com a minha mãe e ela teve um problema cardíaco por lá. No retorno ao Brasil, deu tudo certo e eu estava há muito tempo sem procurar um cardiologista. Tudo começou com essa história. E depois que eu deixei a minha mãe 'ok', fui fazer o meu checape. Fiz vários exames, inclusive, ressonância do rim, em busca do problema. E, nesse momento, na minha suprarenal perfeita apareceu um nódulo, um cisto classe 3."

"Paralelamente a isso, um primo meu estava com o mesmo problema e ele conheceu esse procedimento. E, então, eu, com o mesmo problema, apesar de ser muito pequenininho, cerca de um centímetro, optei por conhecer as técnicas. E quando o médico me explicou como seria e tendo em vista o resultado que eu já tinha visto com meu primo, tomei a decisão de fazer a ablação", relata.





BENEFÍCIOS 

Maria da Conceição conta que, após se submeter ao procedimento, o sentimento foi um misto de gratidão e alívio. "Graças a Deus, tudo ocorreu muito bem. Internei por volta das13h, e não precisava nada muito prévio, era como se fosse uma endoscopia, acho que menos até, e aí entrei para a sedação e só lembro de quando me disseram que iriam me sedar. Quando acordei, já estava na enfermaria de apoio. No outro dia, por volta das 11h - menos de 24 horas no hospital - já estava indo embora para casa. E foi supertranquilo."

A mentora e coach Maria Conceição de Almeida, de 57 anos, se submeteu à ablação por radiofrequência após descobrir o tumor renal (foto: Arquivo pessoal)
Quanto à recuperação, Maria Conceição lembra que foram dias tranquilos. O retorno a rotina que mantinha antes de realizar o procedimento para tratar o tumor renal foi rápido. "Fiquei três dias trabalhando de casa só para observação e em uma semana voltei a caminhar e aos meus afazeres diários. Não tive nada, foi como se eu tivesse uma cólica menstrual muito leve. É um procedimento que não me arrependo e recomendo para quem possa realizá-lo."

Marcos Menezes relata que os benefícios do procedimento são mesmo muito importantes. Ele pontua que ambos os procedimentos, tanto a crioablação quanto a ablação, não oferecem complicações e diminuem o custo e tempo de internação. "Essas técnicas contribuem para uma melhor qualidade de vida. Além disso, como vantagem principal tem-se a menor invasividade, possibilitando a destruição tumoral sem a necessidade de cirurgias ou incisões", lembra.





Quanto a crioablação especificamente, Marcos Menezes elucida que ela oferece um menor risco de lesão do sistema coletor, dado a relativa resistência do urotélio ao congelamento. "Outro ponto positivo é o efeito analgésico intrínseco decorrente da aplicação das baixas temperaturas nos tecidos peri-tumorais, reduzindo de forma efetiva a dor pós-procedimento."

As contraindicações para a realização dos procedimentos devem ser analisadas com o médico responsável pelo caso. Isso porque, segundo o radiologista intervencionista, dependendo da localização e tamanho do tumor, o método pode não ser o mais indicado para tratar o câncer.

DIAGNÓSTICO 

O câncer de rim é uma doença silenciosa, que não costuma apresentar sintomas em fase inicial. Por isso, é bem comum que pacientes descubram o tumor renal em exames de rotina. Além disso, em razão da falta de sinais da doença na maioria dos casos, o diagnóstico, normalmente, é feito em estágios avançados ou metastáticos da doença, quando as chances de cura são menores.





Porém, quando o corpo tende a apresentar sintomas, podem ser comuns: sangue na urina, dor persistente na região lombar, perda repentina de peso, cansaço, palidez e febre. Em quadros mais avançados da doença, pode ser perceptível o aumento do volume abdominal, inchaço nas pernas, falta de ar, tosse e dores ósseas ou fraturas. Além disso, dores de cabeça, tontura, visão dupla e perda da força muscular em um os lados do corpo podem ser recorrentes.

Segundo o Ministério da Saúde, existem diferentes tipos de câncer que podem atingir o rim, sendo o principal e mais comum deles o conhecido como carcinoma renal de células claras. E alguns fatores de risco podem influenciar no aparecimento da doença, como quadros de hipertensão, histórico familiar, obesidade, síndromes genéticas e tabagismo.

De acordo com dados divulgados pelo levantamento Globocan, da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2018, o câncer de rim está em crescente de casos no mundo, tanto em países desenvolvido quanto em desenvolvimento. Naquele ano, cerca de 403 mil novos casos foram diagnosticados.





No Brasil, conforme elucidado pelo radiologista intervencionista Marcos Menezes, embora não haja dados atuais, estima-se atualmente uma incidência aproximada de 7 a 10 casos por 100.000 habitantes ao ano, segundo estatísticas do Instituto Nacional do Câncer.

Previna-se!

Prevenção é sempre uma boa estratégia para manter a saúde e qualidade de vida. Confira dicas:

» Pare de fumar

As toxinas presentes no cigarro podem causar alterações no DNA das células e levar ao desenvolvimento de tumores

» Tenha uma dieta balanceada

Dê preferência para frutas, legumes, verduras, fibras e cereais

» Pratique atividades físicas regularmente

Os esportes ajudam a eliminar toxinas do organismo que lesionam as células

» Controle a pressão sanguínea

» Evite contato com substâncias tóxicas, como poluentes

Se trabalhar com esses produtos, use equipamentos de proteção

Fonte: Instituto lado a lado pela vida
 
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram

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