Jornal Estado de Minas

Alívio e esperança em meio à pandemia

Isolamento social faz com que as relações pessoais ganhem mais atenção


O coronavírus ensina para as pessoas sobre as verdadeiras coisas que dão sentido à vida, como os laços familiares, a relação com os amigos, o afeto, a importância de que todos estejam bem. Com toda a crise, certo é que muitos valores mudarão. O foco é no que vale a pena: o amor e a liberdade, principalmente quando tudo parece esbarrar em limites. Nesse contexto, no Dia das Mães, muito maior que o presente é o desejo de que esteja bem e segura, sem o risco de se contaminar. Não é hora de grandes proximidades, ainda é tempo de cuidado, mas não por isso o carinho fica de fora. Logo tudo melhora. "Isso vai passar", é o que elas sempre dizem.





A servidora aposentada Celia Evangelina Gonçalves Hilário, de 69 anos, tem três filhos e quatro netos. Já tomou a vacina contra o coronavírus. Lembra que em 2020 o Dia das Mães passou batido. Há um bom tempo sem ver a família, fala sobre a vontade em encontrar todo mundo. "Sinto falta de reunir meus filhos e netos."

Celia diz que a vacina dá mais tranquilidade, ainda que seja preciso esperar alguns dias a mais para ter segurança total sobre a imunização. Mesmo assim, conta que não fica em pânico e com medo do coronavírus. "Procuro não sofrer antes e não entrar em desespero. A vida é muito curta para perder tempo com esses sentimentos. Mas tomo todas as precauções, claro, principalmente com minha família."

A dona de casa Maria Ines del Cantoni Baldo, de 76, é de uma família numerosa. Tem 10 irmãos, três filhos e cinco netos, e vive com uma das filhas e duas netas, além do marido Joel, de 80. O casal está vacinado. O encontro no Natal, ano novo e Dia das Mães é força de lei. "Sempre estivemos todos juntos nessas datas. Irmãos, cunhados, sobrinhos, genros e noras, netos, todos", recorda.





A dona de casa Maria Ines, de 76 anos, é de uma família numerosa. Ela conta que só os do núcleo mais próximo vão participar do almoço neste Dia das Mães, depois de fazerem teste para COVID (foto: Arquivo pessoal)

Mas isso mudou com a pandemia. Agora, só mesmo os familiares do núcleo mais próximo para o almoço das mães e, mesmo assim, todos fizeram teste para COVID antes. "Estou mais aliviada por ter vacinado, mas ainda tenho medo, tem muito pouca gente protegida. De qualquer jeito, este ano vai ser diferente. Moro em um sítio em Vespasiano, um local aberto, arejado, e tem poucos casos por aqui", diz a dona de casa. Para ela, o desejo é que no próximo ano todos possam estar juntos novamente, como sempre foi. "Que tudo isso acabe", conclama.
 
APREENSÃO 

A empresária Tânia Campos, de 60 anos, com o marido, Marcelo Tavares, ambos já imunizados, e o filho, Samuel Campos: almoço reservado em casa
Na data dedicada às mães em 2020, a empresária Tânia Campos, de 60 anos, lembra da atmosfera de apreensão devido ao coronavírus. "Tudo muito quieto, porque foi logo no início da pandemia. Ninguém sabia direito do que se tratava, nem os próprios médicos", recorda. Sempre nesse domingo especial, o costume era a ida a restaurantes para a celebração. Mas, no ano passado, como agora, será mesmo um almoço reservado em casa, para Tânia e o marido, os dois imunizados, e o filho do casal com a namorada.

Festança mesmo só quando a mãe de Tânia ainda era viva. "Sempre gostei de rua, tomar uma cervejinha neste dia. 2021 vai ser o mesmo que 2020, porém estou mais tranquila, já que vacinei. Será em casa mesmo, para ter segurança até garantir a imunização de fato. Continuo com os mesmos cuidados", afirma a empresária, que já teve a COVID-19. Das atividades rotineiras que pararam com o coronavírus, ela agora vai retomar o pilates e os treinos na academia.





"Em 2020, a humanidade experimentou algo que nunca havia experimentado. De uma hora para outra, nós nos encontramos distanciados, e isso para um povo que se caracteriza pelo afeto, pelo abraço e pela proximidade. Nos foi retirada essa manifestação afetiva. O Dia das Mães foi marcado pelo isolamento e pelo afastamento entre as pessoas mais jovens das mais velhas, uma vez que os mais idosos compõem o chamado grupo de risco", diz o psicólogo clínico Carlos Azevedo.

Em 2021, por outro lado, lembra Carlos, a vacinação traz a possibilidade de restabelecer o contato, pois, teoricamente, aqueles que foram vacinados estariam imunizados. A retomada dos encontros em família faz com que laços afetivos sejam reafirmados,  gerando conforto e segurança emocional.

Estrutura familiar ressignificada

A pandemia também ensina. Evidencia, por exemplo, a necessidade de ter de volta o convívio familiar. Muitas vezes, a vida cotidiana seguia para uma deterioração da relação entre mães e filhos, como observa o psicólogo clínico Carlos Azevedo, enquanto avós, babás, escolas e creches, e até mesmo a televisão e o celular, tomavam mais espaço de importância na vida de muitas crianças que as próprias mães. "Com a pandemia, muitas mães tiveram que aprender a conviver com os filhos, enquanto outras tiveram que reaprender. Isso gerou diversos conflitos, mas também muito aprendizado", diz Carlos Azevedo.





Neste ponto, segue o psicólogo, a estrutura familiar foi ressignificada. Aprender ou reaprender a estar em família, ser criativo, criar metodologias cativantes, retomar as mais variadas formas de diálogo são exigências desse tempo. "Penso que um dos maiores desafios para a família está sendo re-humanizar-se, ou seja, voltar a conviver com pessoas e sair da tecnologia", constata.

Maria Helena Lemos Gontijo, de 71 anos, tem dois filhos e três netos. Vive em Lagoa Santa, na Grande BH, com o marido e a mãe, de 97. A farmacêutica aposentada e o marido, assim como a mãe, estão vacinados. O casal contraiu a COVID-19 em fevereiro. Com a filha e os dois netos que moram em São Paulo, os contatos acontecem mesmo por meios virtuais, mas ela se lembra da angústia experimentada em 2020 em relação ao filho que mora em BH com a esposa e sua neta. "Só conseguia falar com eles a metros de distância. Minha neta dentro do carro, acenando e mandando beijos", conta.

A aposentada Maria Helena, de 71 anos, com a família. Separados pela pandemia, ela espera rever os filhos em Lagoa Santa (foto: Tiago Gontijo/Divulgação)

No ano passado, no início da manhã do Dia das Mães, Maria Helena recebeu o carinho dos herdeiros na forma de uma linda cesta de café da manhã, com flores e frutas. Agora, está esperando a turma para um lanche especial, cercada de cuidados. "Estamos mais tranquilos e seguros. E a saudade não está mais apertando tanto. Eles têm passado alguns dias aqui em casa." Com o núcleo em São Paulo, a celebração vai ser pelas telas.





EMOÇÃO 

"Em 2020, o Dia das Mães foi muito difícil. Não pudemos estar todos juntos. Agora, estamos mais seguros para encontrar quem amamos com todos os cuidados necessários. E minha família é a alegria da minha vida", diz satisfeita e contente a autônoma Maria das Dores Anício Magalhães, de 61, com o alívio de ter sido vacinada. Ela é mãe de dois e avó de três.

Geralmente, neste dia, ela também tem a companhia dos pais, Iraci, de 88, e Salvador, de 92, que vivem em Joanésia, mas no ano passado esse encontro não aconteceu – os dois estão imunizados. Maria das Dores e uma das filhas, Pollyana, vivenciaram a doença, mas com sintomas leves. Com a vacina parece ter saído um peso das costas. "Para mim a palavra que define esse dia é gratidão. Pela vida, por estar aqui. Isso é o mais importante", diz.

Para a filha Pollyana, de 34, enfermeira e também mãe de Levi, esse Dia das Mães é um momento de união, e de agradecer por ter saúde, por poder estar junto. "Tem tanta gente que perdeu pessoas queridas nesse último ano. O que realmente importa é o carinho, o amor, a família, que é a base de tudo, nosso lar, nosso porto seguro", afirma.





A autônoma Maria das Dores, de 61 anos, com a filha, Pollyana, e um dos netos, Levi: já vacinada, ela não esconde a emoção com o Dia das Mães (foto: Marcos Vieira/em/d.a press)

OCASIÕES DIFÍCEIS 

O psicólogo Carlos Azevedo faz parte do projeto A Chave da Questão, canal criado por um grupo de psicólogos primeiramente para aconselhamento terapêutico para pessoas que vivem conflitos ou dúvidas. A ideia original do site é ajudar no manejo de ocasiões difíceis e, com o início da pandemia, o foco voltou-se também para assistir indivíduos em sofrimento por conta do coronavírus, com uma equipe de atendimento multidisciplinar que atua muito no sentido de aliviar tensões.

Quando o assunto são as relações interpessoais nesse momento em particular, ele conta que muitos são os relatos que lhe chegam. A falta do contato, ao lado da excessiva preocupação com o cuidado e a saúde daqueles que são mais próximos, é acrescida a um sentimento de medo e culpa, quando o sujeito acredita, por exemplo, que pode ser o causador de algum mal aos pais, quando idosos.

Mantenha a segurança

»  Dê preferência a ambientes abertos e arejados para o encontro do Dia das Mães

»  Mantenha a casa bem ventilada e, de preferência, a visita deve ocorrer em algum espaço mais amplo da casa, como no jardim ou na varanda, se possível

» Não se esqueça de higienizar as mãos

»  Use máscara. Retire apenas para comer ou beber

»  Mantenha distância mínima de 1 metro de outras pessoas, principalmente quandofor conversar

»  Antes de realizar a visita, pense se você ou qualquer pessoa da sua casa apresentou quaisquer sintomas há menos de 21 dias

»  Evite circular por outros locais, como supermercados, imediatamente antes de ir até a casa de sua mãe.Vá direto de casa

»  Não traga coisas da rua para casa sem antes higienizar corretamente

»  Nas visitas presenciais, se a família for grande e todos queiram fazer a visita, uma boa opção é criar um rodízio, estabelecendo horários intercalados para cada pessoa, a fim de evitar muita gente junta




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