Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Estudo aponta que quadros de diabetes tipo 2 aumentam risco de demência


O diabetes tipo 2 é uma doença crônica e progressiva, que pode levar o paciente à perda de audição, cegueira, doenças cardíacas, derrame, insuficiência renal e danos vasculares tão graves que exigem amputação de membros. Porém, novos estudos apontam, também, para uma associação de quadros da doença com casos de demência – deterioração das capacidades mentais com perda de funções cerebrais, como memória e discernimento.





De acordo com dados colhidos por universidades europeias, cada caso de diabetes está associado a um risco 24% maior de demência cinco anos depois do diagnóstico em comparação com pessoas sem a doença. E, quanto mais novo for o paciente quando descobrir a doença, maior risco de sofrer com complicanções demenciais.

Nesse cenário, um paciente de 70 anos com diabetes há menos de cinco anos tem risco 11% maior de demência, enquanto que um paciente com diagnóstico por volta dos 65 anos tem 53% de chance de desenvolver demência. 

Um diagnóstico aos 60 anos tem risco 77% maior. Uma pessoa com diagnóstico de tipo 2, entre 55 e 59 anos, tem mais de duas vezes o risco de demência na velhice em comparação a alguém na mesma faixa etária sem diabetes, aponta a pesquisa. 

Esses índices são observacionais, ou seja, foram colhidos com base em um rastreamento de diagnóstico, com acompanhamento e exames clínicos a cada quatro ou cinco anos –, de cerca de 10.095 pessoas sem a doença, entre 35 e 55 anos, por 32 anos. Portanto, os dados não podem provar se, de fato, o diabetes pode causar os quadros clínicos de demência.  

Apesar disso, trata-se de uma pesquisa de longa duração e com grande população, onde fatores que afetam o risco de demência foram controlados, como raça, educação, problemas cardíacos, derrame, tabagismo e atividade física, e a ligação diabetes-demência persistiu. Os dados apontam para um registro, ao longo da pesquisa, de 1.710 casos de diabetes tipo 2 e 639 de demência. 





E não para por aí. Rodrigo Moreira, vice-presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabolia (SBEM), aponta que “artigos publicados mostram que o diabetes aumenta em 73% o risco de qualquer forma de demência, em 56% o risco de Mal de Alzheimer e em 127% o risco da demência vascular, que é aquela demência relacionada à aterosclerose, ao entupimento dos vasos do cérebro”. 
 
 

Mas por que essa relação existe? Como o diabetes pode influenciar no aparecimento de casos de demência? “Todos nós sabemos que o diabetes tem uma série de complicações. Quando falamos em diabetes, as pessoas pensam no pé diabético, no risco de amputação, na perda de visão, na retinopatia diabética, na diálise. E, nesses últimos meses, vimos que o diabetes é um fator de risco também para a COVID-19.” 

“Isso mostra que o diabetes interfere em outras doenças, inclusive na demência de maneira geral. Então, temos, nos últimos 10 anos, uma série muito grande de artigos científicos que colocam o diabetes como um fator de risco para Mal de Alzheimer e para formas de demências de uma maneira geral. Temos uma série de dados bem interessantes que mostram isso. E é muito interessante a fisiopatologia do diabetes.” 

Isso porque, segundo ele, o diabetes tipo 2 é caracterizado pela resistência à insulina, isto é, a insulina não funciona direito. Nesse cenário, tem-se também os neurônios que formam a memória e precisam da insulina funcionando bem. Então, a resistência à insulina, que é a base fisiopatológica do diabetes, também é a base fisiopatológica da demência.

“Não podemos dizer que uma pessoa é mais predisposta à demência. Só podemos dizer que os pacientes com diabetes, de uma maneira geral, têm um risco maior de desenvolver Alzheimer e demência do que um paciente sem diabetes”, justifica Rodrigo Moreira.  


CUIDE-SE! 


A fim de evitar complicações mais sérias e rastrear o quanto antes sequelas da doença, como o caso da demência, o vice-presidente da SBEM recomenda que pacientes diagnosticados com diabetes façam triagens, ou seja, exames de rotina para identificar agravamentos de saúde em razão da doença precocemente.  

“É importante fazer exame de olho uma vez ao ano para ‘pegar’ a retinopatia logo que ela apareça e examinar os pés uma vez ao ano para identificar as alterações, por exemplo. E, hoje, existe a recomendação de que, no momento do diagnóstico de diabetes, e uma vez a cada dois ou três anos se faça testes para triar a demência. É importantíssimo tratar bem o diabetes e há novos medicamentos sendo desenvolvidos para o diabetes, que tem mostrado benefícios sobre a cognição e o risco de demência.” 

No Brasil, segundo Rodrigo Moreira, existem algumas opções de medicações, nesses casos. “Esse tipo de medicamento está cada vez mais aparecendo em estudos, sugerindo que, além de ter o benefício de melhorar o controle da glicose, parece ter benefício no retardo da progressão do Mal de Alzheimer e das formas de demência”, diz. 

Além disso, alimentação equilibrada e prática de atividades físicas são ótimos aliados no controle do diabetes em si. Ainda, o monitoramento dos níveis de açúcar no sangue pode ajudar no controle da doença. 

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram 




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