Com mais de um ano de isolamento social em razão da pandemia de COVID-19, o organismo tem sofrido alterações, assim como a rotina das pessoas, haja vista a mudança de hábitos. E, segundo estudo italiano publicado pela revista "Italian Journal of Pediatrics", houve aumento de 188% nos casos de puberdade precoce em 2020.
Na pesquisa, foram excluídas as causas orgânicas – tumores ou lesões no sistema nervoso central – que causam maturação sexual antes dos oito ou nove anos de idade, quando a puberdade normalmente tem início.
Na pesquisa, foram excluídas as causas orgânicas – tumores ou lesões no sistema nervoso central – que causam maturação sexual antes dos oito ou nove anos de idade, quando a puberdade normalmente tem início.
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Puberdade precoce: entenda do que se trata e saiba como tratá-laSedentarismo na pandemia pode levar à piora de doenças crônicasCOVID-19: estudo mostra como as crianças compreendem e sentem a pandemiaPesquisa: o que as crianças sentem em meio a um mundo doente com a COVID-19UNA oferece atendimento nutricional gratuito para pacientes com COVID-19E por que isso tem ocorrido? Qual a relação da pandemia, e mais precisamente do isolamento social, com o aumento de casos de puberdade precoce? Wallace Miranda, endocrinologista e membro da Doctoralia, explica que, primeiramente, é preciso entender o porquê a puberdade precoce pode acometer meninas e meninos.
Segundo ele, as causas são diversas. “A principal é idiopática, quando não tem outra doença provocando a maturação sexual precoce. Mas existem fatores de risco, como obesidade, baixo peso ao nascer, genética e emocional.”
Segundo ele, as causas são diversas. “A principal é idiopática, quando não tem outra doença provocando a maturação sexual precoce. Mas existem fatores de risco, como obesidade, baixo peso ao nascer, genética e emocional.”
Marcela Ferreira de Noronha, pediatra e também membro da Doctoralia, afirma, ainda, que pode haver influência de medicações ou mesmo a produção adiantada sem causa aparente. “No que tange à genética, filhas de mãe que tiveram sua puberdade adiantada ou com histórico de puberdade precoce na família paterna tem maior tendência a puberdade precoce. Uma outra possível hipótese para a antecipação da puberdade é o contato das crianças com os chamados desreguladores endócrinos”, completa.
Essa desreguladores, no caso, diz respeito a substâncias presentes em agrotóxicos e plásticos capazes de alterar o funcionamento do sistema endócrino-hormonal. “O bisfenol-A, presente em diversos plásticos e embalagens, é um dos desreguladores suspeitos”, diz a pediatra.
Segundo ela, essa seria, inclusive, uma das causas do aumento de casos de puberdade precoce na pandemia. “Acredita-se que isso venha ocorrendo devido a alimentação excessiva e não saudável repleta de agrotóxicos, parabenos, bisfenol-A e outros desreguladores endócrinos durante o período de quarentena.”
Segundo ela, essa seria, inclusive, uma das causas do aumento de casos de puberdade precoce na pandemia. “Acredita-se que isso venha ocorrendo devido a alimentação excessiva e não saudável repleta de agrotóxicos, parabenos, bisfenol-A e outros desreguladores endócrinos durante o período de quarentena.”
Wallace Miranda pontua, também, que, com a necessidade de isolamento social, as crianças ficaram tempo considerável dentro de casa, o que intensificou o uso de aparelhos eletrônicos, o sedentarismo e fez com que o ganho de peso crescesse gradualmente.
“Depois de um mês, surgiram espinhas na testa e o broto mamário. Levei ao pediatra que encaminhou para um endócrino pediatra e, com exames simples, tivemos o diagnóstico de puberdade precoce.”
Para a mãe, a quarentena influenciou, e muito, no quadro, o que a chateou. “Acredito que o isolamento social tenha afetado o surgimento da puberdade precoce e isso me deixou mais chateada. A Luísa sempre foi muito ativa e, além de brincar na escola, fazia ballet, ginástica e patinação. Mas, com a pandemia, acabou ficando sedentária, o que pode ter impactado no descontrole hormonal”, desabafa.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
A puberdade precoce, por mais improvável que pareça, pode sim causar danos à saúde de meninas e meninos em maturação sexual antes do ideal – oito anos para meninas e nove para meninos. Inclusive, Marcela Noronha pondera que muitos podem ser os malefícios causados pela puberdade precoce. “Baixa estatura, transtornos psicológicos e de comportamento são alguns deles”, afirma.
“Para confirmar a condição, é preciso ter avaliação clínica com pediatra e endocrinologista, com exames laboratoriais para a área hormonal e exames de imagem, como raio-x, para identificar a idade óssea e ultrassonografia pélvica exclusivamente em meninas. Também é válido que os pais estejam atentos às mudanças físicas e comportamentais da criança. É vital que o diagnóstico seja confirmado o mais rápido possível para que, assim, a criança consiga realizar o tratamento de bloqueio da puberdade precoce.”
Esse tratamento, conforme a pediatra Marcela Noronha, consiste no uso de medicação para bloquear o desenvolvimento da puberdade, a fim de permitir um crescimento saudável até o momento em que é possível suspender o tratamento e permitir que a criança volte a ter seu desenvolvimento fisiológico.
Porém, a especialista pontua que cada caso é único e deve ser avaliado por um endocrinologista pediátrico experiente, sempre o quanto antes possível. “Isso porque o tratamento depende, antes de mais nada, da causa da condição.”
Porém, a especialista pontua que cada caso é único e deve ser avaliado por um endocrinologista pediátrico experiente, sempre o quanto antes possível. “Isso porque o tratamento depende, antes de mais nada, da causa da condição.”
Luísa Lux percebeu essa importância em sua condição. Segundo Carolina Simonetti, mãe da criança, logo após o reconhecimento do quadro de puberdade antes do ideal a filha começou a tomar as medicações recomendadas. “Como ela não chegou a menstruar, tomou os remédios antes disso e não afetou muito a vida dela, apenas a mudança de humor mesmo, estava sempre nervosa, irritada, chorona, impaciente e, agora, medicada está normal. Os sintomas regrediram em um mês.”
CUIDE-SE!
Haja vista os fatores desencadeantes da puberdade precoce, principalmente em casos sem doença pré-existente, os especialistas destacam a importância de se adotar hábitos saudáveis para prevenir a puberdade precoce.
“Recomendo a realização regular de check-ups com pediatras. Além disso, é importante ficar atento ao tempo livre da criança e ao uso do celular, no intuito de evitar o excesso de tempo em frente às telas”, diz Wallace Miranda.
“Recomendo a realização regular de check-ups com pediatras. Além disso, é importante ficar atento ao tempo livre da criança e ao uso do celular, no intuito de evitar o excesso de tempo em frente às telas”, diz Wallace Miranda.
Marcela Noronha indica, também, uma alimentação saudável e balanceada para as crianças e a prática de atividade física regularmente. “Em caso de dúvida, converse com um especialista. No caso de uma puberdade precoce, cada dia conta, por isso, busque ajuda o quanto antes”, afirma a pediatra.
O QUE É A PUBERDADE?
A puberdade é a fase de transição entre a infância e a vida adulta. Nesta fase, ocorre o desenvolvimento de caracteres sexuais. O primeiro sinal de puberdade nas meninas é o aparecimento do broto mamário e, nos meninos, do crescimento dos testículos.
É nessa fase, também, que há crescimento em estatura, os pelos pubianos e nas axilares começam a crescer, aparece o odor mas axilas e o aumento de oleosidade da pele acaba por propiciar o aparecimento de acne.
É nessa fase, também, que há crescimento em estatura, os pelos pubianos e nas axilares começam a crescer, aparece o odor mas axilas e o aumento de oleosidade da pele acaba por propiciar o aparecimento de acne.
"A primeira menstruação das meninas, chamada menarca, normalmente aparece dois anos após o aparecimento das mamas. Em meninas, a puberdade ocorre entre 8 e 13 anos e em meninos entre 9 e 14 anos. Quando as crianças iniciam com o desenvolvimento dos caracteres sexuais antes dos 8 anos nas meninas e antes dos 9 anos em meninos, temos uma puberdade precoce”, explica a pediatra Marcela Noronha.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram