Com a vacinação contra COVID-19, aos poucos, sendo ampliada, tem sido recorrente casos em que pessoas passaram mal no momento de receber a dose do imunizante. Pode até ser de felicidade para alguns, mas o fato é que muitos desses casos são, na verdade, episódios de pânico e de verdadeira fobia por agulha.
Alguns desses momentos, inclusive, viralizaram nas redes sociais, com vídeos de pacientes que desmaiaram ou vomitaram em razão do medo. Mas, o que os especialistas alertam é: não é frescura.
Alguns desses momentos, inclusive, viralizaram nas redes sociais, com vídeos de pacientes que desmaiaram ou vomitaram em razão do medo. Mas, o que os especialistas alertam é: não é frescura.
“Muitos medos podem parecer banais e sem valor. Mas, para algumas pessoas, os medos ganham status de sofrimento e se caracterizam como fobias, impactando vários aspectos na vida da pessoa. É preciso valorizar e reconhecer quando algo está acima do próprio controle e que causa impactos negativos para aquela pessoa”, afirma Katiúscia Caminhas Nunes, psicóloga do Hospital Felício Rocho.
Justamente por isso, o psiquiatra Lucas Bifano destaca que esse medo é uma ação normal do organismo humano, ao mesmo tempo em que se caracteriza como um importante mecanismo de defesa.
“Quando ele desencadeia comportamentos desproporcionais às circunstâncias apresentadas, é considerado fobia. Indivíduos com medo de agulha sentem um mal-estar que vai muito além da própria picada ao tomar uma injeção, tirar sangue e fazer exames. O medo ou pavor e a vontade de se preservar do momento faz com que a pessoa se sinta sufocada.”
“Quando ele desencadeia comportamentos desproporcionais às circunstâncias apresentadas, é considerado fobia. Indivíduos com medo de agulha sentem um mal-estar que vai muito além da própria picada ao tomar uma injeção, tirar sangue e fazer exames. O medo ou pavor e a vontade de se preservar do momento faz com que a pessoa se sinta sufocada.”
Trata-se, então, de um medo inconsciente. E, no caso da aicmofobia, os objetos fóbicos capazes de causar gatilhos de pânico são as agulhas e demais ferramentas pontiagudas.
“A maioria das pessoas que sofrem com essa fobia tendem a ter também fobia a dor, conhecida como agliofobia. Por conta do medo de sentir dor, o indivíduo acaba evitando agulhas, pois acreditam que ela vai causar sofrimento. Outros vários sintomas também podem acabar surgindo, como fraqueza, tontura e desmaios, devido à falta de oxigenação do cérebro.”
“A maioria das pessoas que sofrem com essa fobia tendem a ter também fobia a dor, conhecida como agliofobia. Por conta do medo de sentir dor, o indivíduo acaba evitando agulhas, pois acreditam que ela vai causar sofrimento. Outros vários sintomas também podem acabar surgindo, como fraqueza, tontura e desmaios, devido à falta de oxigenação do cérebro.”
Mas, apesar de ser considerado como um sintoma, o desmaio é uma defesa do organismo. É uma espécie de reação mental para fugir do momento de angústia, fazendo assim com que o indivíduo seja “desligado”, com o propósito de tirá-lo da situação desconfortável. Além disso, quadros de taquicardia, pressão alta ou baixa e tremores podem ser recorrentes em momentos de fobia.
É o caso da representante comercial Patrícia Lima dos Santos, de 42 anos. Ela conta que o medo da agulha teve origem após alguns anos diante de uma situação que viveu ainda na infância quando teve pneumonia.
“O grau dessa pneumonia fez com que eu ficasse internada e as minhas veias são muito finas, então eles aplicaram no braço, eu tinha 8 anos, e uma das últimas vezes que me aplicaram foi na mão a ponto de ela ficar muito inchada. Após esse incidente, fiquei muito apavorada.”
“O grau dessa pneumonia fez com que eu ficasse internada e as minhas veias são muito finas, então eles aplicaram no braço, eu tinha 8 anos, e uma das últimas vezes que me aplicaram foi na mão a ponto de ela ficar muito inchada. Após esse incidente, fiquei muito apavorada.”
“E é terrível, porque é algo que não quero ter, porque é simples, mas causa medo. Eu passo mal, suo só de pensar, minha mão começa a transpirar, coração palpita. Eu fico muito mal e estressada. Fico muito tensa. Já tive episódio de passar muito mal, a ponto de desmaiar. E eu tive dois outros problemas de saúde, que tive de ficar internada e foi muito difícil de trabalhar essas questões. O mais difícil foram as internações, porque a todo momento é uma agulha no braço. Nunca fiz tatuagem pelo medo, fui tentar fazer uma tatuagem e desisti porque eu sabia que não iria aguentar aquilo”, relata.
Aos poucos, a fobia se torna limitante, conforme declarado pela representante comercial. A tatuagem ficou para trás, mas, além dela, exames podem ser deixados de lado e vacinas negligenciadas pelo temor. “São muitas limitações. A fobia é limitação. Afinal, ela sempre vai limitar as pessoas de algo. E, nesse caso, limitar, também, de saúde, porque a agulha é uma aliada da saúde em exames, remédios e vacina”, comenta a psicóloga Sônia Eustáquia, que destaca, ainda, que quadros de pressão alta ou demais complicações podem surgir desse contexto.
Ainda, o estresse causado pela aicmofobia pode impedir, inclusive, que aquele que sofre com o transtorno procure atendimento médico quando necessário, diminuindo a chance de diagnósticos precoces e tratamentos mais efetivos em casos de doenças graves.
No que diz respeito à vacinação, por exemplo, Sônia ressalta que é melhor enfrentar o medo do que ficar sem tomar a vacina, mas é uma questão que deve ser trabalhada. “Eu ainda não tomei a vacina, mas vou enfrentar o medo porque preciso e quero. Eu até estou lutando para que consiga tomar. Mas, há esse conflito da vacina e desse pavor que tenho, como que vai ser isso? E se acontecer alguma coisa, como eu vou reagir a esse episódio? Eu tenho pensado nisso e tido crise de ansiedade sobre essa questão”, comenta Patrícia dos Santos.
PARA ALÉM DO MOMENTO
Assim como Patrícia dos Santos, há muitas pessoas que sentem os impactos da fobia antes mesmo do momento da aplicação da vacina ou da coleta de sangue, por exemplo. É um pânico que não se restringe a somente o momento da aplicação.
O advogado Pedro Freitas, de 35, é exemplo disso. Ele, que já tomou a vacina contra COVID-19 em razão de também ser professor universitário, se recorda que, no momento da aplicação, sequer olhou para a agulha e contou com a ajuda da enfermeira para se acalmar.
O advogado Pedro Freitas, de 35, é exemplo disso. Ele, que já tomou a vacina contra COVID-19 em razão de também ser professor universitário, se recorda que, no momento da aplicação, sequer olhou para a agulha e contou com a ajuda da enfermeira para se acalmar.
Porém, antes disso, quando se submeteu ao exame de sangue para saber se havia se contaminado com o vírus, não conseguiu evitar, e os desdobramentos ocorreram minutos depois. “Eu já desmaiei tirando sangue, chego a me debater. E isso desde os 14 anos. Sempre me sinto muito mal. O sentimento é de um desconforto tremendo, como se eu estivesse sendo submetido a fazer algo contra a minha vontade. Tive vários episódios de passar mal em decorrência da fobia. Recentemente, ao fazer exame de COVID-19, me senti muito mal."
“Mas, só passei mal depois, quando fui ao banheiro. Já havia se passado uns cinco minutos, eu já havia me sentado e esperado amenizar. Mas, no banheiro, eu desmaiei. Às vezes, minha mão sua e eu desmaio. Isso ocorre com muita frequência”, relata o jovem.
O paciente pode tentar técnicas de respiração, olhar para um ponto fixo ao invés de olhar para a agulha ou o local onde será aplicado determinado medicamento, dar preferência para locais onde os profissionais são altamente qualificados e falar sobre o que está sentindo.
Lucas Bifano, psiquiatra
Já a aposentada Anita Milagres, de 76 anos, além de passar mal antes mesmo do momento de contato com a agulha, ela também se sente mal após as crises de pânico.
“Tenho muita fobia por agulha, principalmente na veia. Eu tenho isso desde pequena e sinto muito mal estar. Já passei mal várias vezes, mesmo lutando contra, me fazendo de forte, teve vezes que eu não desmaiei no momento da coleta, mas quando estava saindo do laboratório, desmaiava ou antes mesmo. Então, por maior esforço que faça, é maior que eu.”
“Tenho muita fobia por agulha, principalmente na veia. Eu tenho isso desde pequena e sinto muito mal estar. Já passei mal várias vezes, mesmo lutando contra, me fazendo de forte, teve vezes que eu não desmaiei no momento da coleta, mas quando estava saindo do laboratório, desmaiava ou antes mesmo. Então, por maior esforço que faça, é maior que eu.”
“Recentemente, em um exame que fiz, eu passei mal e não vi mais nada. Cheguei a desmaiar. Quando eu volto ao normal, dá um mal-estar muito grande. Ao longo do dia, me sinto mal. Fico bem impressionada mesmo. Antes da minha cirurgia de catarata, por exemplo, eu passei mal só de tomar o soro, e foi preciso esperar eu melhorar para me levarem para a mesa de cirurgia. Eu já tentei muitas vezes não contar sobre o meu pânico para que eu não desmaiasse, mas aconteceu do mesmo jeito. Não é fácil.”
A também aposentada Ivani Fernandes Lima, de 71, conta que até mesmo no dentista a luta é grande. “Não tomo anestesia, e se é canal, fecho o olho e seguro a perna da calça, e na hora da fincada, eu vou me segurando. É um pânico enorme.”
O QUE FAZER?
Se é difícil controlar a fobia, os especialistas alertam que é possível adotar medidas para evitar crises, como manter o enfermeiro ciente. “O paciente pode tentar técnicas de respiração, olhar para um ponto fixo ao invés de olhar para a agulha ou o local onde será aplicado determinado medicamento, dar preferência para locais onde os profissionais são altamente qualificados e falar sobre o que está sentindo”, destaca Lucas Bifano.
Mas, segundo Sônia Eustáquia, é importante também que o enfermeiro saiba lidar com a situação e mantenha a calma e a tranquilidade para também transmitir isso ao indivíduo, ao mesmo tempo que recomenda que a pessoa que sofre do transtorno relaxe os músculos e mantenha a calma. Ainda, é possível tratar a aicmofobia.
“Como o medo tem uma relação forte com a ansiedade, é importante tentar tratar o problema psicologicamente, seja por terapia cognitivo comportamental e a hipnose, ou por meio de técnicas de meditação, ioga e respiração, acupuntura ou medicação, quando necessário”, destaca o psiquiatra Lucas Bifano.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram