Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Especialistas alertam para importância de reforçar cuidados com estomizados


Neste sábado (26/6), é lembrado o Dia Mundial da Estomaterapia. Com a proximidade da data, especialistas alertam sobre a importância de se debater sobre essa condição, que, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), afeta, em média, 15 mil pessoas por ano, com uma base crescente de dados, já que projeções da entidade indicam o aumento de diagnósticos de câncer colorretal, principal causa de estomias. Torna-se importante alertar, também, para a necessidade de elevar os cuidados aos pacientes com esse quadro. 





Segundo especialistas, além de haver um tabu, essa é uma situação de saúde íntima pouco comentada e vista com preconceito, muito em razão do desconhecimento acerca do tema. “Primeiro, é preciso entender o que é essa condição e como ela afeta o paciente, para, assim, otimizarmos os cuidados oferecidos a esses pacientes. Estomizados são pessoas que precisaram passar por um procedimento cirúrgico que cria um novo trajeto para eliminar a urina ou as fezes, com a necessidade de utilização das bolsas coletoras.” 

“Mais conhecida como bolsa de colostomia (para o intestino grosso), ela pode ser também de ileostomia (para o intestino delgado) ou urostomia (para a bexiga), conforme a condição do usuário. Esse novo trajeto chama-se estoma de eliminação e atinge cerca de 120 mil brasileiros, sendo 15 mil novos casos por ano. Destes, 75% (90 mil) vão receber os materiais através do Sistema Único de Saúde (SUS) e 25% (30 mil) por meio de operadoras privadas. É um produto essencial e que faz parte do dia a dia de milhares de brasileiros”, explica Luiz Tavares, diretor geral da Coloplast. 

Desse modo, para manter a boa qualidade de vida, os estomizados devem ter uma rotina de cuidados, como fazer uso permanente de uma bolsa de estomia, que podem ser adquiridas em uma única peça – bolsa acoplada a uma base adesiva – ou em duas peças – a base adesiva que fica fixada à pele mais a bolsa em si, que se encaixa à base adesiva e pode ser descartada após o uso. “Além disso, os estomizados devem usar os chamados adjuvantes. Os mais utilizados são produtos que protegem a pele e previnem a infiltração das fezes e urina. As preocupações são referentes a vazamentos e irritações na pele.” 

“Produtos de qualidade reduzem as chances desses dois problemas acontecerem e oferecem uma melhor qualidade de vida aos usuários”, comenta Vinícius Agatão, gerente de mercado Ostomy Care, da Coloplast. 

Mais cuidados...


Apesar de haver uma “saída” para essa condição, os especialistas alertam que muito ainda há de se fazer para que esses pacientes tenham os cuidados necessários a seu dispor. Não à toa, de acordo com Luiz Tavares, uma das principais reclamações de pacientes estomizados é o desconhecimento. “São diversas perguntas que surgem quando esses pacientes se vêm nessa nova condição de saúde. Qual bolsa de estomia comprar? O que é adjuvante? Quantas preciso por dia? Como trocar a bolsa? E se infeccionar? Como faço para dormir com ela?” 

“Como evitar o cheiro e o constrangimento? Como tomo banho sem molhar a bolsa? Como fazer sexo? Como fazer exercício? E se eu engravidar, o que acontece? O que posso comer depois de me tornar estomizado? Como ter acesso às bolsas via SUS? E pelo plano de saúde? Para atender a todas essas questões, existe o Programa Coloplast Ativa, 100% gratuito e o maior programa de suporte ao usuário com estomia ou continência urinária no Brasil, presente em todos os estados e que já atendeu mais de 115 mil usuários desde 2002”, destaca o diretor geral da Coloplast.




 
(foto: Coloplast/Divulgação)
 

Segundo ele, o programa conta com uma equipe multidisciplinar, com enfermeiras estomaterapeutas, psicólogas, nutricionistas e fisioterapeutas para orientar os usuários em todas as dúvidas, a fim de oferecer um tratamento direcionado 

Porém, é importante, também, conforme Vinícius Agatão, que os ambientes públicos tenham formas de oferecer condições para os cuidados básicos. É o caso da Portaria 400/2009 que estabeleceu as diretrizes nacionais para a atenção à saúde das pessoas ostomizadas no âmbito do Sistema Único de Saúde. “Ela é o resultado de um esforço de associações, sociedades médicas e enfermeiros que representam as pessoas com estomia, além da própria indústria.” 

“Na maior parte dos estados brasileiros, o SUS fornece dez bolsas por mês. Somos um dos países que oferece o menor número de bolsas. Este é um produto que deve ser descartado a cada uso. No entanto, ao receberem um número tão reduzido, os estomizados são obrigados a reaproveitá-las, tendo que lavá-las depois do uso, colocando em risco a saúde. A melhora no acesso a esses produtos e a ampliação do atendimento conforme as necessidades do público, de modo que seja garantida a qualidade de vida e saúde, deve nortear o que determina a Portaria 400/2009, cuja intenção é elevar o padrão de cuidado.” 

Modelo de banheiro ideal para uso de pessoas estomizadas (foto: Coloplast/Divulgação)


 
Conforme o especialista, “os programas de estomia podem ser considerados onerosos para a administração pública, porém, com exemplos de outros países, mostrando que um padrão de cuidado mais elevado pode trazer economia para a saúde pública. E aqui estamos falando de evitar complicações que oneram mais o sistema para serem tratadas, como lesões de pele, além de outros impactos, como afastamento das atividades laborais e até mesmo depressão”, pontua. 
 
Para ele, a iniciativa de algumas cidades do país deve servir como exemplo. “Em Petrópolis (RJ), Blumenau (SC), Brasília (DF) e até mesmo o estado do Mato Grosso aprovaram a lei que determina que locais públicos são obrigados a terem banheiros exclusivos para estomizados. Essa é uma iniciativa que deve ser estendida a todo o país. Ir ao banheiro para um estomizado não é uma tarefa tão simples como é para quem não tem essa condição de saúde. Para que o esvaziamento da bolsa seja feito de forma higiênica, a cuba sanitária deve ser elevada, na altura da cintura, de modo que facilite a operação de esvaziar a bolsa”, destaca. 

Conscientização


A condição de ter uma estomia costuma ser retratada de forma negativa, como um problema, conforme os especialistas, o que torna o assunto um tabu ainda maior e causa estranhamento. “É preciso quebrar barreiras, preconceitos e trazer o tema à tona. Abraçar a causa da inclusão, do respeito às pessoas com deficiência como são classificados os estomizados, da qualidade no acesso a quem tem necessidades íntimas de saúde é importante para mostrar que uma estomia não define ninguém.” 

“Por meio do site 'Minha estomia não me define', incentivamos os estomizados a contarem suas histórias de superação, utilizando as hashtags #minhaestomianaomedefine, #eupossomaisdoquevoceimagina e #maisdoquevoceimagina, como forma de motivação e empoderamento dos usuários de bolsas de colostomia. Diversos voluntários já mostraram o quanto a bolsa não os define”, aponta. 





As causas 


A estomia é causada por diversas condições, como doenças ou má formação congênita, que alteram o funcionamento do intestino e do trato urinário; traumas, como ferimento por arma de fogo ou facadas na região abdominal; câncer colorretal; Doença de Chron; endometrioses e câncer de intestino e no reto. “Essa cirurgia, no entanto, é a cirurgia da vida. Qualquer um de nós está sujeito a precisar dela um dia. É a cirurgia que dá a chance de se continuar vivendo, com sua família, seus amigos, seus bichos de estimação, seu trabalho, sua casa e fazendo tudo aquilo que se gosta de fazer”, destaca Vinícius Agatão. 

* Estagiária sob a supervisão da subeditora Ellen Cristie. 

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