Pesquisa recente, publicada na revista científica Jama, aponta que a perda de olfato em razão de uma infecção por COVID-19 pode ser recuperada, em média, até 12 meses após o quadro clínico. O estudo, realizado por pesquisadores das Universidades de Estrasburgo, na França, e McGill, no Canadá, contou com a participação de 97 pacientes que tiveram perda total do olfato – anosmia – ou redução da percepção de cheiro – hiposmia – em decorrência da contaminação pelo novo coronavírus.
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Segundo a otorrinolaringolista Luciane Michel, apesar da importância do estudo e dos dados apresentados, é preciso cautela, haja vista as limitações de execução. Entre elas, a amostragem pequena – apenas 97 pessoas –, e o fato de que apenas 50% dos pacientes foram submetidos ao teste chamado de objetivo, conforme citado pelo estudo.
“Existem dois tipos. Um deles é o subjetivo, ou seja, você pergunta para a pessoa o que ela está achando, sendo 0 melhora nenhuma e 10 melhora absoluta.”
“Existem dois tipos. Um deles é o subjetivo, ou seja, você pergunta para a pessoa o que ela está achando, sendo 0 melhora nenhuma e 10 melhora absoluta.”
“Só que, quando vamos pesquisar, fazemos o teste objetivo, em que o paciente cheira algo, no caso do estudo o feltro, para saber objetivamente e exatamente a perda do olfato. E eles só avaliaram 50% dos pacientes dessa forma. Então, é outra limitação e, inclusive, foi colocado no estudo como discussão", explica.
"Outra limitação é que a maior parte dos pacientes são menores de 50 anos (média de 38,8 anos) e mulheres (69% do total). E sabe-se que mulheres têm sensibilidade olfatória maior que os homens, e os menores de 50 anos também. E esses grupos também não são a maioria das pessoas acometidas pela COVID.”
"Outra limitação é que a maior parte dos pacientes são menores de 50 anos (média de 38,8 anos) e mulheres (69% do total). E sabe-se que mulheres têm sensibilidade olfatória maior que os homens, e os menores de 50 anos também. E esses grupos também não são a maioria das pessoas acometidas pela COVID.”
Nesse cenário, apesar das limitações, Luciane Michel destaca algumas hipóteses que podem ter causado uma recuperação mais rápida do olfato em alguns pacientes. Segundo ela, o tratamento precoce, ou seja, o quanto antes iniciado pode ser peça-chave nesse “quebra cabeça”.
“Quanto antes iniciar a avaliação da cavidade nasal e o tratamento da medicação via oral, via spray e a reabilitação olfatória melhor e mais rápido o paciente terá a melhora do olfato”, comenta. Porém, de acordo com a especialista, é possível que alguém demore anos para recuperar, de fato, a capacidade olfativa total.
“Quanto antes iniciar a avaliação da cavidade nasal e o tratamento da medicação via oral, via spray e a reabilitação olfatória melhor e mais rápido o paciente terá a melhora do olfato”, comenta. Porém, de acordo com a especialista, é possível que alguém demore anos para recuperar, de fato, a capacidade olfativa total.
“A perda pode permanecer por mais tempo e até anos. Eu, inclusive, tenho pacientes com mais de um ano de perda, de anosmia. Com teste básico, diagnostiquei pacientes que, após mais de um ano, têm ainda 0% de olfato – esse paciente teve COVID-19 em maio do ano passado. Já são mais de um ano sem o olfato”, pontua.
COMO RECUPERAR?
Luciane Michel destaca que há várias formas de tratamento as quais o paciente com perda ou redução de olfato pode ser submetido para recuperar a capacidade de sentir cheiros. Técnicas até mesmo antigas.
Ainda assim, segundo o infectologista Guenael Freire, há muito o que aprender sobre a doença e outros métodos de otimizar os tratamentos. “Ainda estamos aprendendo sobre essa manifestação, mas é importante relatar que a anosmia é transitória e o olfato tende a retornar relativamente rápido.”
Ainda assim, segundo o infectologista Guenael Freire, há muito o que aprender sobre a doença e outros métodos de otimizar os tratamentos. “Ainda estamos aprendendo sobre essa manifestação, mas é importante relatar que a anosmia é transitória e o olfato tende a retornar relativamente rápido.”
“Existem técnicas profissionais e caseiras de reabilitação do olfato que funcionam. Consiste em expor o paciente a determinados odores marcantes, algumas vezes ao dia, de forma a treinar o cérebro a reconhecer novamente os cheiros”, comenta o especialista.
E a otorrinolaringologista explica melhor algumas técnicas. Segundo ela, o treinamento olfatório não é a única forma de fazer a recuperação do olfato. “Temos outras formas”, pondera. Entre as possibilidades, há o uso do corticoide via oral, do ômega 3, da aplicação tópica do corticoide oral, entre outros métodos.
“Todos esses fazem parte do tratamento”, afirma a especialista. Quanto ao treinamento olfativo, ela pondera que há técnicas médicas, mas há também as caseiras, que podem ajudar, e muito na recuperação do olfato.
“Todos esses fazem parte do tratamento”, afirma a especialista. Quanto ao treinamento olfativo, ela pondera que há técnicas médicas, mas há também as caseiras, que podem ajudar, e muito na recuperação do olfato.
“O treinamento olfatório é muito utilizado. E é assim: pegamos essências – são quatro essências básicas – e faz-se o cheiro, mas não é simplesmente cheirar, é fungar, fazer com que o cheiro entre. O que faz o estímulo são os óleos essenciais, ele tem que entrar e é no teto do nariz onde fica o nervo, então ele tem que chegar até lá. Faz por 15 segundos, para por 30 e repete. Existe, ainda, o treinamento do professor Hummel, usado desde 1989, inclusive a maior causa de perda de olfato é a rinosinusite crônica. Ou seja, já fazíamos esse tratamento antes, e agora fazemos para a COVID-19. E existe o treinamento olfatório caseiro que é com essências caseiras, como café, cravo, suco de tangerina e essência de baunilha, por exemplo”, explica.
POR QUE HÁ PERDA OLFATIVA?
Que há perda ou redução da capacidade olfativa já se sabe. Mas, o que causa essa disfunção? Sintoma comum da COVID-19, essa manifestação afeta quase metade dos pacientes com a doença, conforme Guenael Freire.
“Sabemos que alguns pacientes tem anosmia por mais tempo, mas não se sabe ao certo quais são os fatores de risco para a perda mais prolongada do olfato. Ela é provocada pela inflamação do nervo olfatório e do epitélio da cavidade nasal”, explica o especialista.
“Sabemos que alguns pacientes tem anosmia por mais tempo, mas não se sabe ao certo quais são os fatores de risco para a perda mais prolongada do olfato. Ela é provocada pela inflamação do nervo olfatório e do epitélio da cavidade nasal”, explica o especialista.
Ainda, conforme ele, há pacientes que recuperam a condição relativamente rápido, dentro de poucos dias. Porém, há quem sofra com o problema por mais tempo. “Interessante ressaltar que muitos relatam uma perversão do olfato e do paladar, ou seja, sentem cheiro ou gosto diferente do usual.”
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram
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