Pesquisa recente, publicada na revista científica Jama, aponta que a perda de olfato em razão de uma infecção por COVID-19 pode ser recuperada, em média, até 12 meses após o quadro clínico. O estudo, realizado por pesquisadores das Universidades de Estrasburgo, na França, e McGill, no Canadá, contou com a participação de 97 pacientes que tiveram perda total do olfato – anosmia – ou redução da percepção de cheiro – hiposmia – em decorrência da contaminação pelo novo coronavírus.
Além disso, conforme os índices, 85,9% deles já tinha recuperado a percepção de cheiro seis meses depois do início do estudo. Ainda, um ano após a infecção, apenas duas pessoas não recuperaram por completo o olfato, segundo resultados de testes objetivos, ao mesmo passo que 14 pessoas disseram, em questionário subjetivo, que haviam recuperado a capacidade olfativa somente parcialmente.
Segundo a otorrinolaringolista Luciane Michel, apesar da importância do estudo e dos dados apresentados, é preciso cautela, haja vista as limitações de execução. Entre elas, a amostragem pequena – apenas 97 pessoas –, e o fato de que apenas 50% dos pacientes foram submetidos ao teste chamado de objetivo, conforme citado pelo estudo.
“Existem dois tipos. Um deles é o subjetivo, ou seja, você pergunta para a pessoa o que ela está achando, sendo 0 melhora nenhuma e 10 melhora absoluta.”
“Existem dois tipos. Um deles é o subjetivo, ou seja, você pergunta para a pessoa o que ela está achando, sendo 0 melhora nenhuma e 10 melhora absoluta.”
“Só que, quando vamos pesquisar, fazemos o teste objetivo, em que o paciente cheira algo, no caso do estudo o feltro, para saber objetivamente e exatamente a perda do olfato. E eles só avaliaram 50% dos pacientes dessa forma. Então, é outra limitação e, inclusive, foi colocado no estudo como discussão", explica.
"Outra limitação é que a maior parte dos pacientes são menores de 50 anos (média de 38,8 anos) e mulheres (69% do total). E sabe-se que mulheres têm sensibilidade olfatória maior que os homens, e os menores de 50 anos também. E esses grupos também não são a maioria das pessoas acometidas pela COVID.”
"Outra limitação é que a maior parte dos pacientes são menores de 50 anos (média de 38,8 anos) e mulheres (69% do total). E sabe-se que mulheres têm sensibilidade olfatória maior que os homens, e os menores de 50 anos também. E esses grupos também não são a maioria das pessoas acometidas pela COVID.”
A perda pode permanecer por mais tempo e até anos. Eu, inclusive, tenho pacientes com mais de um ano de perda, de anosmia. Com teste básico, diagnostiquei pacientes que, após mais de um ano, tem ainda 0% de olfato. Esse paciente teve COVID-19 em maio do ano passado. Já são mais de um ano sem o olfato.
Luciane Michel, otorrinolaringolista
Nesse cenário, apesar das limitações, Luciane Michel destaca algumas hipóteses que podem ter causado uma recuperação mais rápida do olfato em alguns pacientes. Segundo ela, o tratamento precoce, ou seja, o quanto antes iniciado pode ser peça-chave nesse “quebra cabeça”.
“Quanto antes iniciar a avaliação da cavidade nasal e o tratamento da medicação via oral, via spray e a reabilitação olfatória melhor e mais rápido o paciente terá a melhora do olfato”, comenta. Porém, de acordo com a especialista, é possível que alguém demore anos para recuperar, de fato, a capacidade olfativa total.
“Quanto antes iniciar a avaliação da cavidade nasal e o tratamento da medicação via oral, via spray e a reabilitação olfatória melhor e mais rápido o paciente terá a melhora do olfato”, comenta. Porém, de acordo com a especialista, é possível que alguém demore anos para recuperar, de fato, a capacidade olfativa total.
“A perda pode permanecer por mais tempo e até anos. Eu, inclusive, tenho pacientes com mais de um ano de perda, de anosmia. Com teste básico, diagnostiquei pacientes que, após mais de um ano, têm ainda 0% de olfato – esse paciente teve COVID-19 em maio do ano passado. Já são mais de um ano sem o olfato”, pontua.
COMO RECUPERAR?
Luciane Michel destaca que há várias formas de tratamento as quais o paciente com perda ou redução de olfato pode ser submetido para recuperar a capacidade de sentir cheiros. Técnicas até mesmo antigas.
Ainda assim, segundo o infectologista Guenael Freire, há muito o que aprender sobre a doença e outros métodos de otimizar os tratamentos. “Ainda estamos aprendendo sobre essa manifestação, mas é importante relatar que a anosmia é transitória e o olfato tende a retornar relativamente rápido.”
Ainda assim, segundo o infectologista Guenael Freire, há muito o que aprender sobre a doença e outros métodos de otimizar os tratamentos. “Ainda estamos aprendendo sobre essa manifestação, mas é importante relatar que a anosmia é transitória e o olfato tende a retornar relativamente rápido.”
“Existem técnicas profissionais e caseiras de reabilitação do olfato que funcionam. Consiste em expor o paciente a determinados odores marcantes, algumas vezes ao dia, de forma a treinar o cérebro a reconhecer novamente os cheiros”, comenta o especialista.
E a otorrinolaringologista explica melhor algumas técnicas. Segundo ela, o treinamento olfatório não é a única forma de fazer a recuperação do olfato. “Temos outras formas”, pondera. Entre as possibilidades, há o uso do corticoide via oral, do ômega 3, da aplicação tópica do corticoide oral, entre outros métodos.
“Todos esses fazem parte do tratamento”, afirma a especialista. Quanto ao treinamento olfativo, ela pondera que há técnicas médicas, mas há também as caseiras, que podem ajudar, e muito na recuperação do olfato.
“Todos esses fazem parte do tratamento”, afirma a especialista. Quanto ao treinamento olfativo, ela pondera que há técnicas médicas, mas há também as caseiras, que podem ajudar, e muito na recuperação do olfato.
A perda olfativa é provocada pela inflamação do nervo olfatório e do epitélio da cavidade nasal.
Guenael Freire, infectologista
“O treinamento olfatório é muito utilizado. E é assim: pegamos essências – são quatro essências básicas – e faz-se o cheiro, mas não é simplesmente cheirar, é fungar, fazer com que o cheiro entre. O que faz o estímulo são os óleos essenciais, ele tem que entrar e é no teto do nariz onde fica o nervo, então ele tem que chegar até lá. Faz por 15 segundos, para por 30 e repete. Existe, ainda, o treinamento do professor Hummel, usado desde 1989, inclusive a maior causa de perda de olfato é a rinosinusite crônica. Ou seja, já fazíamos esse tratamento antes, e agora fazemos para a COVID-19. E existe o treinamento olfatório caseiro que é com essências caseiras, como café, cravo, suco de tangerina e essência de baunilha, por exemplo”, explica.
POR QUE HÁ PERDA OLFATIVA?
Que há perda ou redução da capacidade olfativa já se sabe. Mas, o que causa essa disfunção? Sintoma comum da COVID-19, essa manifestação afeta quase metade dos pacientes com a doença, conforme Guenael Freire.
“Sabemos que alguns pacientes tem anosmia por mais tempo, mas não se sabe ao certo quais são os fatores de risco para a perda mais prolongada do olfato. Ela é provocada pela inflamação do nervo olfatório e do epitélio da cavidade nasal”, explica o especialista.
“Sabemos que alguns pacientes tem anosmia por mais tempo, mas não se sabe ao certo quais são os fatores de risco para a perda mais prolongada do olfato. Ela é provocada pela inflamação do nervo olfatório e do epitélio da cavidade nasal”, explica o especialista.
Ainda, conforme ele, há pacientes que recuperam a condição relativamente rápido, dentro de poucos dias. Porém, há quem sofra com o problema por mais tempo. “Interessante ressaltar que muitos relatam uma perversão do olfato e do paladar, ou seja, sentem cheiro ou gosto diferente do usual.”
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram
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