Nesta sexta-feira (2/7), comemora-se o Dia do Hospital, que, mais que um ambiente de tratamento e luta pela vida, se apresenta como uma espécie de lar para milhares de pessoas que, diariamente, travam verdadeiras batalhas em busca da cura para enfermidades diversas.
Em meio à pandemia de COVID-19, de repente, mais pacientes dependeram dessa “casa”. Porém, os hospitais, desde sempre, fazem parte da rotina de crianças, adultos e idosos, que precisam de cuidados especiais. Há quem, inclusive, trave “guerras” diárias por melhores condições de saúde desde os primeiros meses de vida.
Em meio à pandemia de COVID-19, de repente, mais pacientes dependeram dessa “casa”. Porém, os hospitais, desde sempre, fazem parte da rotina de crianças, adultos e idosos, que precisam de cuidados especiais. Há quem, inclusive, trave “guerras” diárias por melhores condições de saúde desde os primeiros meses de vida.
Não à toa, a Santa Casa BH, hospital onde realiza as consultas de acompanhamento desde que recebeu alta para realizar a hemodiálise peritoneal em casa, foi o seu lar por anos. E ainda é. Seu irmão, Gabriel Oliveira de Moura, de 13, é também seu irmão de luta, já que, também com problema renal crônico, o jovem garoto travou longas batalhas.
“Os meninos fazem acompanhamento renal desde 2015, e o que eu tenho a dizer é que, desde que começamos o tratamento, fomos muito bem recebidos, o que nos fez optar por levar o Gabriel para fazer o tratamento renal também na Santa Casa. E eu só tenho a agradecer. É muito gratificante, porque hoje meu Samuelzinho transplantado e em tratamento está bem e com saúde, assim como Gabriel. Tenho meu quarto e minha casa adaptada para eles fazerem a diálise em casa. Mas, de vez em quando, eu vou para o hospital com os meninos para fazer consultas, e a Santa Casa é uma casa maravilhosa, é uma casa que nos acolheu.”
É o que conta o pai dos meninos, o auxiliar de serviços gerais Ailton Francisco de Moura, de 46, que, há um ano, enfrenta essa luta de frente com os filhos sozinho, já que perdeu a sua companheira, Ivani.
O caso dos meninos é acompanhado por uma verdadeira família, como o próprio pai afirma, uma equipe multidisciplinar que, além de cuidado e tratamento, oferece amor e carinho, transformando o hospital em uma casa, mas também em um bom ajudante dos pequenos heróis, que lutam diariamente contra um vilão: a doença.
O caso dos meninos é acompanhado por uma verdadeira família, como o próprio pai afirma, uma equipe multidisciplinar que, além de cuidado e tratamento, oferece amor e carinho, transformando o hospital em uma casa, mas também em um bom ajudante dos pequenos heróis, que lutam diariamente contra um vilão: a doença.
Karina de Castro Zocrato, médica especialista em nefrologia pediátrica da Santa Casa BH, é parte dessa família. Ela acompanha Samuel e Gabriel desde os primeiros passos na luta contra o problema renal. Foi ela, inclusive, que deu a notícia aos pais dos pequenos que eles precisariam de se submeterem à diálise.
Assim, foi se estabelecendo uma relação de confiança e um vínculo capaz de tornar o hospital um ambiente muito mais amável. “É uma relação muito longa. A mãe deles chegou para a gente de outro serviço e eu tive que dar a notícia para ela que o Samuel ia para a diálise.”
Assim, foi se estabelecendo uma relação de confiança e um vínculo capaz de tornar o hospital um ambiente muito mais amável. “É uma relação muito longa. A mãe deles chegou para a gente de outro serviço e eu tive que dar a notícia para ela que o Samuel ia para a diálise.”
“Então, um bebê – ele tinha menos de um ano – precisar fazer diálise é uma notícia muito pesada, muito difícil, e que a família tem que confiar muito na equipe médica que está ali e no serviço, no hospital que está fornecendo o melhor tratamento para a criança. E eles, no momento da diálise, sofreram, mas não questionaram a nossa decisão, assim como quando indicamos para o Samuel o transplante renal. Eles não questionaram a nossa indicação, porque sabiam que estávamos ali para fazer o melhor. Então, essa confiança garante que a equipe médica tenha liberdade e confiança para fazer o melhor para o paciente.”
Karina relata que o vínculo com Samuel foi tão forte que ele aprendeu a entender e identificar as preocupações dela. “Ele sabe quando estou ansiosa ou preocupada com algo relacionado a ele. Então, teve uma vez que ele fez uma biópsia renal e teve uma complicação relacionada à biópsia que pode acontecer, e eu fiquei muito preocupada, e depois que resolveu tudo, a Ivani, mãe deles, me falou que ele disse que eu estava realmente preocupada, ele ficou com o olho arregalado para mim de preocupação.”
“Então, é grande o vínculo que a gente acaba desenvolvendo com as crianças e familiares, e a gente acaba desenvolvendo muito amor por eles. Quanto ao Gabriel, ele chegou para a gente mais tardiamente, ele já era mais velho e ele também tem doença, diferente da do Samuel, mas também renal, e foi eu que dei a notícia para a mãe dele que ele ia precisar de diálise, e ela novamente não questionou a minha decisão. Ela sabia que eu já tinha tentando tudo antes de chegar nesse ponto. Então, isso é uma coisa que para a gente nos deixa à vontade para conduzir o paciente, e eles confiam”, conta.
UM LAR NA ONCOLOGIA...
O hospital também é a segunda casa de Sofia Parola, de 3 anos e 2 meses. Ela trata um câncer rabidiomiosarcoma desde novembro do ano passado.
“Um dia, a Sofia, que já estava sem apetite, caiu brincando na casa da minha mãe, chorou e, quando abri a fralda, estava muito inchado, porque o câncer é na região pélvica. Ficamos cerca de um mês fazendo exames e começamos o tratamento de quimioterapia e radioterapia.”
“Um dia, a Sofia, que já estava sem apetite, caiu brincando na casa da minha mãe, chorou e, quando abri a fralda, estava muito inchado, porque o câncer é na região pélvica. Ficamos cerca de um mês fazendo exames e começamos o tratamento de quimioterapia e radioterapia.”
Desde então, segundo a mãe da pequena, a pastora Fernanda Parola, de 40, a equipe médica tem sido uma família para a pequena heroína, ela e seu marido, o também pastor Alexandre Rodrigues Parola, de 52, com cuidados médicos, claro, mas como muito apoio, carinho, amor e oração.
“Tem pessoas de vários lugares orando por Sofia. Fizemos e fazemos amizade com enfermeiros, técnicos, médicos, enfim todos em nosso redor. Agradeço a Deus pela Santa Casa BH, onde temos a oportunidade e toda estrutura para fazermos o tratamento da minha filha.”
“Tem pessoas de vários lugares orando por Sofia. Fizemos e fazemos amizade com enfermeiros, técnicos, médicos, enfim todos em nosso redor. Agradeço a Deus pela Santa Casa BH, onde temos a oportunidade e toda estrutura para fazermos o tratamento da minha filha.”
“Todo o cuidado dos profissionais, carinho e amor com a Sofia faz com que nos sintamos abraçados. Desde o início do tratamento, a trato não como doente. Faço tudo para que ela se sinta em casa. No hospital, a trato como se estivesse em casa. E sim, ela se sente em casa quando está lá. Estamos há 14 dias na radioterapia, onde ela é apaixonada com a equipe, assim como na quimioterapia. Foi doado um velotrol ao hospital e a Sofia todos os dias dá uma voltinha pelo hospital. E quando demora a ser chamada para o tratamento, ela vai até a porta da rádio e pergunta: ‘Titia, titio você me chamou?’. Todo carinho para que ela se sinta amada.”
Raquel de Souza, enfermeira da Santa Casa BH que acompanha Sofia desde os primeiros dias no hospital, destaca que a pequena luta como uma guerreira. “Ela é a nossa princesa. Não é nada fácil todo o processo, porque ela é muito pequena, tanto que fizemos a tomografia de planejamento com sedação, e nos programamos para fazer todas as sessões de radioterapia também com sedação. Porém, na segunda sessão, ela já chegou falando que não queria o cheirinho, que é o anestésico inalatório que os anestesistas usam para fazer a sedação.”
Raquel conta que Sofia não quis usar e não foi necessário, pois ela ficou quietinha. "Colocamos música para ela, a gente conversa e aos poucos ela foi tendo confiança em toda a equipe, e hoje ela chega e já quer saber qual é o horário que ela vai entrar, faz a radioterapia tranquilamente sem sedação, conhece todos da equipe, chama todo mundo de tio, e isso é uma relação de confiança que nós desenvolvemos com ela e com a mãe."
Então, hoje, ela chega tranquila, faz o tratamento, brinca, corre pela radioterapia, fica na brinquedoteca, "e o tratamento para ela está sendo muito leve, a própria mãe nos conta que ela acorda já falando que tem que ir fazer o tratamento”.
Então, hoje, ela chega tranquila, faz o tratamento, brinca, corre pela radioterapia, fica na brinquedoteca, "e o tratamento para ela está sendo muito leve, a própria mãe nos conta que ela acorda já falando que tem que ir fazer o tratamento”.
Cheia de sorrisos e alegria, assim é a pequena Sofia, que também é forte e faz questão de ressaltar isso. “Ela sempre diz: Sou forte, corajosa e guerreirinha de Cristo, mamãe. A chamamos de pequeno Cristo. Simplesmente dividimos tudo que recebemos com todos no hospital. Ou seja, muito amor. Fácil não é, mas temos que escolher fazer do que estamos passando no momento de espera o melhor momento”, conta a mãe, Fernanda Parola.
UM HOSPITAL, UM LAR
As famílias e as crianças enxergam o hospital como um verdadeiro lar. Mas, como é fazer esse acolhimento de forma a deixá-los à vontade e “em casa”? As profissionais de saúde da Santa Casa BH, hospital da rede pública de saúde, conta que tudo passa por uma missão.
E, também, pela necessidade de amenizar a dor de quem luta por dias, meses e até anos pela vida. “O paciente oncológico, por exemplo, faz um tratamento longo. Não são dias, não são meses, normalmente são anos de acompanhamento.”
E, também, pela necessidade de amenizar a dor de quem luta por dias, meses e até anos pela vida. “O paciente oncológico, por exemplo, faz um tratamento longo. Não são dias, não são meses, normalmente são anos de acompanhamento.”
Então, o hospital se torna uma segunda casa, um segundo lar, e as pessoas com as quais os pacientes e seus familiares convivem se tornam, como eles mesmos costumam dizer, uma segunda família, porque passam muito tempo juntos.
"Então, é de suma importância desenvolvermos uma relação de confiança para que o paciente se sinta seguro diante do tratamento que vamos disponibilizar. E isso é nítido. Conseguimos mesmo desenvolver essa confiança, porque, quando se fala de um tratamento oncológico, as pessoas ainda veem com sentença de morte, e tratamento oncológico não é isso, temos sucesso nos tratamentos.”
"Então, é de suma importância desenvolvermos uma relação de confiança para que o paciente se sinta seguro diante do tratamento que vamos disponibilizar. E isso é nítido. Conseguimos mesmo desenvolver essa confiança, porque, quando se fala de um tratamento oncológico, as pessoas ainda veem com sentença de morte, e tratamento oncológico não é isso, temos sucesso nos tratamentos.”
É o que comenta Raquel de Souza. Segundo ela, quando há essa confiança, os resultados no tratamento também são mais positivos. “Quando a gente passa essa confiança para os pacientes e familiares, o tratamento flui de forma que a gente tem um sucesso maior, com essa confiança que eles demonstram ter na equipe, e que nós passamos para eles também.”
O hospital se torna uma segunda casa, um segundo lar, e as pessoas com as quais os pacientes e seus familiares convivem se tornam, como eles mesmos costumam dizer, uma segunda família, porque passamos muito tempo juntos.
Raquel de Souza, enfermeira da Santa Casa BH
Um ponto positivo, conforme a enfermeira da área de oncologia da Santa Casa BH, é que os pacientes desistem menos do tratamento. Para Karina Zocrato, até os processos ficam mais “facéis”.
“Quando o paciente se sente dentro do hospital de forma além da doença, ele se vê como uma pessoa, um ser humano que é querido e atendido pela equipe, que tem carinho e atenção para além da doença, e começa a desempenhar e ajudar a fornecer esse tratamento. Então, a pulsão de um acesso se torna mais fácil, a troca de um curativo se torna mais fácil e até o ato de dar um banho se torna mais fácil, porque ele sabe que as pessoas estão ali querendo o melhor para ele.”
“Quando o paciente se sente dentro do hospital de forma além da doença, ele se vê como uma pessoa, um ser humano que é querido e atendido pela equipe, que tem carinho e atenção para além da doença, e começa a desempenhar e ajudar a fornecer esse tratamento. Então, a pulsão de um acesso se torna mais fácil, a troca de um curativo se torna mais fácil e até o ato de dar um banho se torna mais fácil, porque ele sabe que as pessoas estão ali querendo o melhor para ele.”
Um lar, uma casa, uma vida. Segundo a médica nefrologista, os pacientes crônicos, dado o tempo de tratamento, chegam ao hospital com uma demanda maior e além da doença. “Os recebemos também com demandas sociais e familiares. Isso aproxima muito as equipes com essas famílias. O hospital sabe dessa importância de acolher esses pacientes que vão internar várias vezes, e busca sempre integrar a psicologia e outra áreas, sempre buscando trazer para esse paciente atividades que possam melhorar o dia a dia dele dentro hospital e facilitar essa rotina.”
“Além disso, em muitos casos, esses pacientes acabam estando internados em momentos em que temos que estar com a família, como Páscoa e Natal. E o hospital decora com o motivo da festa, recebe doações para as crianças, como presentes de Natal, então, isso tudo faz com que as crianças fiquem felizes. Inclusive, tem criança que gosta de estar internada na época de Natal, porque ganha muito presente. E os pais ficam loucos, porque querem ir embora, mas as crianças gostam. Então, o hospital, a Santa Casa, sempre tem esse olhar diferenciado para os pacientes, é uma equipe multidisciplinar muito presente que busca sempre um olhar diferenciado para o paciente fora da doença para dar essa sensação de extensão da casa.”
HUMANIZAÇÃO
Em meio ao hospital como lar, o atendimento humanizado é um grande aliado. “É um dever”, aponta Karina Zocrato. E, nesse cenário, participar de várias famílias se torna também um privilégio, comenta Raquel de Souza.
“Eu me sinto extremamente privilegiada em fazer parte da vida de cada família que nós atendemos na radioterapia. É um desafio, claro, porque eles passam por vários momentos, mas ao mesmo tempo é muito gratificante vê-los chegando de uma forma e saindo totalmente diferente, conseguindo terminar o tratamento, saindo confiantes.”
“Eu me sinto extremamente privilegiada em fazer parte da vida de cada família que nós atendemos na radioterapia. É um desafio, claro, porque eles passam por vários momentos, mas ao mesmo tempo é muito gratificante vê-los chegando de uma forma e saindo totalmente diferente, conseguindo terminar o tratamento, saindo confiantes.”
“E eu faço questão realmente de fazer parte de cada momento, de acompanhar, de saber como que está o tratamento em si, como eles estão reagindo. Eu sou extremamente apegada aos meus pacientes, sou aquela que meus pacientes têm minhas redes sociais, meu telefone particular, me mandam mensagens no WhatsApp, porque eu quero ter certeza que eles vão ter a quem recorrer, eu quero que eles saibam que eu estou 100% disponível para ajudá-los a travar essa luta que é o tratamento oncológico. E eu fico extremamente feliz por ter um retorno positivo de fazer parte mesmo e sentir que eles percebem esse objetivo de acolhê-los nesse momento que é muito difícil para eles.”
Já Karina se caracteriza como uma verdadeira “cuidadora”. “Sabemos das histórias, dos nomes e contexto social. E é muito bom quando temos vitórias, mas é muito ruim as perdas. Vibramos muito nas vitórias, mas sofremos muito nas perdas. Então, quando a gente tem uma perda é um momento de muita dor. Sofremos juntos. E, no ano passado, quando perdi uma criança, junto com a Ivani (mãe de Samuel e Gabriel), sofri muito. E na época a mãe da criança, mesmo sofrendo, me confortou dizendo para continuar, que eu havia nascido para cuidar dessas crianças. Por isso, me sinto realizada fazendo parte disso.”
Em meio à pandemia, a missão se complicou um pouco, haja vista a necessidade de distanciamento, porém, a humanização segue firme, com o hospital sendo porta para o lar de muitas crianças e pacientes crônicos.
“Essa questão do distanciamento abala bastante. E aqui, que a gente tem o costume de abraçar, beijar e segurar na mão nos momentos mais difíceis. Tem sido um desafio diário, mas tentamos ficar o mais próximo possível com palavras de acolhimento e contato. Mas, independentemente, continuamos próximos e à disposição, e eles sabem que o hospital, os profissionais e a equipe estão sempre, literalmente, de braços abertos para acolhê-los”, diz Raquel de Souza.
“Essa questão do distanciamento abala bastante. E aqui, que a gente tem o costume de abraçar, beijar e segurar na mão nos momentos mais difíceis. Tem sido um desafio diário, mas tentamos ficar o mais próximo possível com palavras de acolhimento e contato. Mas, independentemente, continuamos próximos e à disposição, e eles sabem que o hospital, os profissionais e a equipe estão sempre, literalmente, de braços abertos para acolhê-los”, diz Raquel de Souza.
Karina Zocrato concorda. Segundo ela, o toque, o abraço, o contato e o aperto de mão, muito característicos do brasileiro, fazem falta. Mas, o olhar, o gesto e a busca por tentar resolver e ajudar o paciente mantêm o cuidado do paciente. “Eles sabem tudo que a equipe faz e o hospital busca fazer por ele”, destaca. Para Raquel de Souza, é esse o “SUS que deu certo.”
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram