Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Exercícios em espaços fechados: faça a escolha certa e consciente

Além do uso da máscara, a higienização e ventilação do espaço são importantes (foto: Taco Fleur/Pixabay)

Se não for por um quadro clínico específico, a prática de atividade física é uma das poucas coisas na vida em que não é possível ser do contra.



Há quem goste, não vive sem, quem faz por obrigação, mas fato é que todos têm de se exercitar e podem começar mudando atitudes rotineiras: seja uma caminhada de meia hora por dia, trocar o elevador e as escadas rolantes por escadas, descer do ônibus um ou dois pontos antes do trabalho, trocar o carro pela bike...

Com os espaços fechados liberados para voltar a funcionar, seja academias, estúdios de pilates, templos de meditação, salas de dança, no atual cenário, será que vale arriscar? Marconi Gomes da Silva, médico cardiologista, especialista em medicina do exercício e do esporte e diretor clínico da SPORTIF – Clínica do Exercício e do Esporte, enfatiza que ficar sedentário é muito pior do que se manter fisicamente ativo.

Entretanto, colocar-se de maneira vulnerável em locais de maior risco de contágio também é um problema, porque, embora a doença tenha curso benigno em mais de 80% dos casos, ela pode ter formas mais graves e moderadas, inclusive com internação em CTI e sequelas cardíacas, pulmonares e de outros sistemas.





Então, segundo Marconi Gomes, deve-se pesar a questão de onde vai treinar, se as medidas de distanciamento e proteção (do local e dos outros) são seguidas. Se está em um ambiente mais controlado, no qual de fato todos usam as máscaras adequadas, há toda a higienização, espaços fiscalizados e com as regras respeitadas, ele acredita que a balança favorável é fazer o exercício porque se manter sedentário é muito pior, mesmo nestas condições de um risco aumentado de contágio.
 
  
 
Marconi Gomes chama a atenção para a escolha da máscara em relação ao tipo de exercício. “A relação é que, se a pessoa chega com uma máscara desgastada pelo uso ao longo do dia na academia, o ideal é trocá-la. A depender do tipo de exercício, uma máscara pode ser usada até o final da sessão, sobretudo se for exercício de força, como a musculação, porque o grau de sudorese é menor e a máscara vai ser menos afetada no seu funcionamento e manter as propriedades filtrantes e de eficácia.”

Se vai treinar a parte aeróbia, na academia ou em ambiente aberto, como sua bem mais, a máscara pode ficar muito molhada e a respirabilidade da máscara será afetada.

“A pessoa terá dificuldade de expulsar o ar dos pulmões, vai causar o que chamamos de compensação da pessoa para o exercício proposto. Por isso, muitos abaixam a máscara ou a colocam no queixo porque não a toleram, já que necessitam exalar e puxar o ar para dentro. Assim, o praticante terá resistência nos dois sentidos com a máscara molhada", explica.



"Nesse caso, vai entrar em fadiga, por isso a importância de trocar a máscara. Inclusive, pode haver necessidade de trocar de máscara para ir para casa ou trabalho depois do exercício físico por que ela pode ter perdido a funcionalidade. O seguro é ter de três a quatro máscaras quando for à academia para que esteja protegido e proteja os outros.”


HIPERVENTILAÇÃO E FADIGA 


Gostando ou não de se exercitar, a máscara é um problema e a questão é o quanto ela prejudica. O cardiologista explica que depende da intensidade do exercício. Se ele for de leve a moderado, provavelmente a máscara não terá potencial para atrapalhá-lo.

Porém, se está disposto a treinar em alta intensidade, aula de crossfit, corrida indoor ou mesmo corrida de rua, a máscara certamente vai atrapalhar porque ela já é uma barreira e com o tempo se tornará ainda mais bloqueante porque o suor fará com que ela umedeça e perca a respirabilidade. Daí a necessidade de usar mais de uma.





“É importante usar mais de uma, senão terá dificuldade de respirar porque a musculatura vai fadigar rapidamente. Isso ocorre porque em exercício de maior intensidade é preciso adaptar o corpo. Uma das formas é respirar mais rapidamente, não só para colocar mais ar para dentro, mas porque o produto desse exercício físico envolve CO2 e água. O gás carbônico tem de ser expelido porque há uma acidose do meio interno do corpo e a hiperventilação, que é um mecanismo compensatório. Isso ocorre para a pessoa não entrar em fadiga."

Em exercícios mais intensos, a máscara será um impeditivo ou um agente que vai forçar a redução do ritmo e a intensidade do treino. "Agora, fundamental é que se a pessoa tiver consciência do uso da máscara, ela irá rever o tipo de treino, diminuir a intensidade para dar conta de praticar.”



Quanto à adaptação à máscara, o especialista em medicina do exercício e do esporte afirma que varia. Pessoas mais condicionadas ou naturalmente mais condicionadas do que outras têm aptidão física melhor e mecanismos compensatórios melhores.



Elas, de fato, vão se adaptar. Mas mesmo elas terão de rever a quais exercícios vão se submeter. Já a sem condicionamento ou sedentária, que queira começar a fazer exercícios agora, terá mais dificuldade, sobretudo o que chamamos de musculatura inspiratória e expiratória, explica.

No entanto, há quem realmente tem problema ao usar a máscara durante a atividade física, casos específicos. Segundo o especialista, indivíduos cardiopatas, com problemas cardiológicos graves, pneumopatas, com problemas pulmonares graves, terão adaptabilidade ainda pior à máscara, porque os mecanismos compensatórios delas são menos eficientes e a aptidão física já é prejudicada.

Então, para se exercitarem – elas são as de maior risco e precisariam de máscaras mais vedantes ou mais filtrantes, em locais abertos ou fechados – terão a tolerância à máscara inferior àquelas desprovidas de problemas de saúde.



“Há casos em que a máscara pode ser até impeditivo para um exercício físico um pouco mais intenso. A capacidade é tão prejudicada que a máscara se torna um elemento limitante. É preciso ter mais paciência, fazer mais pausas e, se a situação for grave, ter os exercícios supervisionados por uma equipe de fisioterapia, educação física e, eventualmente, até por médicos.”
 
 

BRASILEIROS SENDENTÁRIOS

O Projeto ConVid – Pesquisa de Comportamento, feito pela Fundação Oswaldo Cruz em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revelou que as pessoas ficam diante da TV em média três horas por dia (1h20min a mais que antes da pandemia) e diante do computador mais de cinco horas diárias (1h30min a mais que em 2019).

Outro dado alarmante está ligado ao sedentarismo. O estudo entrevistou 44.062 brasileiros. Desses, 62% disseram que deixaram de praticar qualquer atividade física durante a pandemia. O combo, muitas horas sentado mais a falta de exercícios físicos, é a receita ideal para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes, entre outras. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reitera que todos devem exercitar-se, ao menos, 30 minutos por dia.
 
 
 
 


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