Assuma o compromisso de evitar julgamentos nocivos ou desvalorizar-se infligindo punição a si. Há como viver de maneira mais leve, mesmo lidando com todos os obstáculos destinados a cada um. Do contrário, correrá o risco de paralisar, estagnar e de perder a capacidade de se amar e, consequentemente, o próximo.
Cynthia Dias Pinto Coelho, psicóloga cínica e sexóloga, explica que a autoagressão psicológica pode ser definida como um comportamento cujo padrão de julgamento é severo ao extremo, marcado pela autodesvalorização, críticas excessivas a si mesmo, desqualificação de suas características físicas, pessoais ou profissionais.
Cynthia Dias Pinto Coelho, psicóloga cínica e sexóloga, explica que a autoagressão psicológica pode ser definida como um comportamento cujo padrão de julgamento é severo ao extremo, marcado pela autodesvalorização, críticas excessivas a si mesmo, desqualificação de suas características físicas, pessoais ou profissionais.
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Amor-próprio tem a ver com afetos recebidos e não se autodepreciarAmor-próprio: cultive se amar e não a autopunição“Normalmente, a autoagressão está ligada a sentimentos inadequados ou distorcidos sobre si mesmo, de baixa autoestima, da sensação de insuficiência ou falta de amor-próprio. Esses sentimentos podem ter origem na infância, marcada por críticas e julgamentos frequentes vindos dos pais e da família, mas também podem ser fruto de uma autopercepção equivocada acerca de si mesmo ou em consequência de alguma frustração diante de objetivos não alcançados, sem a devida persistência ou capacitação.”
A psicóloga lembra que, em algum momento da vida, todo mundo já se chamou de lerdo, burro, incapaz ou feio, por exemplo, em situações em que o resultado fora diferente do planejado, e isso não é patológico. Conforme Cynthia Dias, a patologia ocorre quando a pessoa sempre se desqualifica, não se satisfaz com seus resultados e conquistas, deixando de ver seus pontos fortes para exaltar suas fraquezas numa postura autopunitiva.
Cynthia Dias enfatiza que esse comportamento é bem comum nas pessoas perfeccionistas e extremamente exigentes, que tendem a querer ações e atitudes de perfeição, esquecendo-se de que o erro e a imperfeição fazem parte do caráter humano e que são essas as atitudes que os impulsionam para conquistas, aprendizados e mudanças.
“Para elas, a situação sempre poderia ter sido melhor, diferente do que foi, e assim deixam de vibrar com alegria pelas suas realizações. Há um toque de insatisfação e pessimismo em tudo e corre-se o risco de elas se apresentarem como aquelas pessoas que sempre reclamam ou criticam, aquelas que põem um defeito em si e também nos outros, tornando-se rabugentas, reclamonas e insatisfeitas.”
“Para elas, a situação sempre poderia ter sido melhor, diferente do que foi, e assim deixam de vibrar com alegria pelas suas realizações. Há um toque de insatisfação e pessimismo em tudo e corre-se o risco de elas se apresentarem como aquelas pessoas que sempre reclamam ou criticam, aquelas que põem um defeito em si e também nos outros, tornando-se rabugentas, reclamonas e insatisfeitas.”
Segundo Cynthia Dias, elas são diferentes das pessoas que usam a autocrítica como base para o desenvolvimento pessoal, crescimento e melhoria, pois o objetivo da queixa passa pelo julgamento duro de seu comportamento, atitude ou personalidade pela simples autoflagelação.
MEDO DE FALHAR : A AUTODESVALORIZAÇÃO
Conforme a psicóloga, esse comportamento é encontrado tanto em homens quanto em mulheres, mas, em geral, a mulher se cobra e se critica pouco mais, já que acaba por assumir múltiplas funções e jornadas, dentro e fora de casa. Pela questão da estruturação da sociedade, ela é mais cobrada a “provar” sua capacidade e, com isso, pode se tornar crítica severa de si mesma.
Para Cynthia Dias, ainda que alguns convivam desde sempre com a autodepreciação, é possível mudar esse padrão de comportamento por meio de um processo terapêutico que aborde a ressignificação de autopercepção, a reconstrução do amor-próprio e uma leitura não idealizada de si mesmo.
Ela explica que existem psicopatologias, como a depressão ou o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), que podem ter em seus sintomas, entre outros, o sentimento de constante desvalorização de si mesmo, uma sensação de insuficiência diante dos desafios ou até das tarefas cotidianas. As pessoas ansiosas podem ter baixo autoconceito, criticando-se previamente antes que alguém o faça, num mecanismo de defesa.
Ela explica que existem psicopatologias, como a depressão ou o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), que podem ter em seus sintomas, entre outros, o sentimento de constante desvalorização de si mesmo, uma sensação de insuficiência diante dos desafios ou até das tarefas cotidianas. As pessoas ansiosas podem ter baixo autoconceito, criticando-se previamente antes que alguém o faça, num mecanismo de defesa.
Já as impulsivas, que acabam por ter atitudes impensadas ou inconsequentes, também acabam por se autodesvalorizar, já que suas ações podem ter consequências desastrosas, corroborando com o autoconceito ruim de que ela sempre faz tudo errado. Num grau de patologia mais profunda, algumas pessoas chegam a se punir por meio da automutilação e até mesmo do suicídio. “Nesses casos, deve-se procurar um médico psiquiatra e psicólogo para o devido tratamento, que pode incluir o uso de medicação e sessões de psicoterapia.”
De qualquer forma, a autodesvalorização traz muito sofrimento e angústia, fazendo com que, além de se sentir mal e sempre se sentir insatisfeita consigo, a pessoa se limita, evitando ações que considera ousadas para si, como, por exemplo, tentar disputar uma vaga de promoção no trabalho, desistir de tentar se aproximar amorosamente de alguém a quem muito admira, por se sentir “feia, inferior ou desinteressante”, não se reconhecendo como merecedora daquele amor ou daquele emprego.
De qualquer forma, a autodesvalorização traz muito sofrimento e angústia, fazendo com que, além de se sentir mal e sempre se sentir insatisfeita consigo, a pessoa se limita, evitando ações que considera ousadas para si, como, por exemplo, tentar disputar uma vaga de promoção no trabalho, desistir de tentar se aproximar amorosamente de alguém a quem muito admira, por se sentir “feia, inferior ou desinteressante”, não se reconhecendo como merecedora daquele amor ou daquele emprego.
“Vale ressaltar que uma pessoa pode ser totalmente segura de si em um setor de sua vida e totalmente autodepreciativa em outro. Ela pode se sentir segura e competente no âmbito profissional, estabelecendo uma carreira de sucesso, mas se sentir insuficiente na vida amorosa, fugindo de relacionamentos construtivos e de boa qualidade por se ver incapaz de sustentá-los, acabando por dizer que 'tem o dedo podre no amor'. Na verdade, a sua insegurança não lhe permite confiar no amor do outro. E assim o prejuízo para sua vida é grande, pois ela acaba por abandonar seus sonhos, desistindo seja daquela relação, carreira ou estudos.
Cynthia Dias alerta sobre os sinais que indicam que você está se maltratando, para que possa logo pegar outro caminho: “Você percebe que está sendo tóxico e abusivo consigo mesmo quando se desqualifica e se critica com frequência, quando não consegue rir dos próprios erros e tropeços, perdoando-se generosamente por suas falhas, quando cuida de todos, mas não cuida de si mesmo, quando se desdobra para atender à vontade alheia, mas não move uma palha para a realização da sua felicidade ou nem sequer sabe reconhecer quais são as suas necessidades para ser feliz”.
Para a psicóloga, talvez o primeiro passo seja parar de olhar a grama do vizinho e passar a olhar amorosamente para si e para as suas conquistas. “Depois, é preciso ser paciente e tolerante com seus erros e medos, entendendo que eles fazem parte da jornada. Por fim, ter orgulho de si mesmo, independentemente das circunstâncias, pois ainda que não se consiga alcançar o objetivo final, tentar melhorar e evoluir, sem desistir, é um passo e tanto para se chegar à felicidade. Você é a única pessoa que estará sempre com você mesmo; portanto, ame-se.”
"ESPELHO, ESPELHO MEU..."
A autodepreciação mina a autoestima e abala profundamente as relações afetivas e interpessoais, a começar pela relação mais importante que existe: a do sujeito consigo mesmo. A afirmação é de Renata Feldman, psicóloga clínica, escritora e psicoterapeuta humanista com foco nas relações afetivas.
“Em primeiro lugar, é preciso reconhecer o quanto essa postura de vida faz mal: é danosa, capaz de gerar sofrimento e fragilidade diante de todos os setores da vida: familiar, amoroso, social e profissional. A depreciação envolve um processo de comparação com o outro e consequentemente diminuição de si. É preciso buscar ajuda psicoterápica para ressignificar as crenças negativas acerca de sua singularidade, seu modo de existir no mundo, e fortalecer assim a autoestima.”
“Em primeiro lugar, é preciso reconhecer o quanto essa postura de vida faz mal: é danosa, capaz de gerar sofrimento e fragilidade diante de todos os setores da vida: familiar, amoroso, social e profissional. A depreciação envolve um processo de comparação com o outro e consequentemente diminuição de si. É preciso buscar ajuda psicoterápica para ressignificar as crenças negativas acerca de sua singularidade, seu modo de existir no mundo, e fortalecer assim a autoestima.”
Qual seria a origem de algumas pessoas terem a cobrança e a autocrítica interna tão fortes e presentes? Para Renata Feldman, a infância é um importante lugar para revisitarmos no intuito de buscar compreender as fontes de uma autoestima fragilizada. É “lá”, nesse precioso espaço de interação com os pais, educadores, amigos, vizinhos, que a criança escuta mensagens negativas a seu próprio respeito: “Você é burro!”; “Você faz tudo errado!”; “Desse jeito você não vai dar em nada!”; “Você só me dá tristeza!”; “Você não presta!”.
Seja por inabilidade emocional, dificuldade de se conectar afetivamente ou mesmo por uma baixa autoestima, esses “mensageiros” muitas vezes não têm noção do estrago que podem gerar na autoestima daqueles que os escutam.
Seja por inabilidade emocional, dificuldade de se conectar afetivamente ou mesmo por uma baixa autoestima, esses “mensageiros” muitas vezes não têm noção do estrago que podem gerar na autoestima daqueles que os escutam.
“E aí gera-se um ciclo vicioso: a criança não é vista como uma pessoa boa, capaz, inteligente, vitoriosa... e segue vida afora vivenciando a autodepreciação. Se não recebeu palavras amorosas em relação ao seu modo de existir no mundo, dificilmente vai receber essa importante carga afetiva de si próprio. Mas isso pode ser ressignificado, reconstruído em um processo psicoterápico. É lá, diante do terapeuta, que o sujeito irá chorar seu passado, se ouvir, se libertar de seus fantasmas e memórias mais doídas.”
AUTOAFIRMAÇÃO: DESENVOLVER O AUTOAMOR
Renata Feldman, portanto, garante que é possível desenvolver o autoamor. E de que forma? “Mudando o olhar, ressignificando o passado e as crenças negativas que foram carregadas vida afora, causando sofrimento e dor. Ao passo que a autodepreciação vai sendo desconstruída, a autovalorização ganha espaço por meio do autocuidado, seja ele físico ou emocional. Acima de tudo, se priorizar, como bem nos lembra a clássica fala da aeromoça: 'Em caso de despressurização, máscaras de oxigênio cairão automaticamente. Puxe uma delas, coloque-a sobre o nariz e a boca, e somente depois ajude quem estiver ao seu lado, mesmo que crianças ou idosos'. É isso. Questão de sobrevivência: aprender a se colocar em primeiro lugar.”
A psicóloga enfatiza que ao se autoafirmar uma pessoa ruim em diversos sentidos, o sujeito cria paradoxalmente uma espécie de escudo protetor em relação ao olhar do outro. É como se, ao se rotular de forma tão negativa, o outro não precise fazer isso (e se fizer, não será uma surpresa, um susto, uma quebra violenta de expectativa).
“Só que esse reconhecimento negativo e na maioria das vezes desproporcional, equivocado, distorcido de si mesmo, acaba desprotegendo o indivíduo, que entra num ciclo emocional vicioso de enfraquecimento e fragilidade psíquica, afetando a sua vida de forma global.”
“Só que esse reconhecimento negativo e na maioria das vezes desproporcional, equivocado, distorcido de si mesmo, acaba desprotegendo o indivíduo, que entra num ciclo emocional vicioso de enfraquecimento e fragilidade psíquica, afetando a sua vida de forma global.”
AUMENTE O SOM
Uma lista com sugestões de músicas para se soltar, ver que todos podem se sentir para baixo em algum momento, que está tudo bem, mas o quanto é importante se aceitar, se amar...
- “Beautiful”, de Christina Aguilera: a cantora fala sobre baixa autoestima, insegurança e superação, uma canção inspiradora.
- “Flawless”, de Beyoncé e Nicki Minaj: música para a mulher se sentir empoderada e poderosa.
- “Who you are”, de Jessie J: canção chama a reflexão: vale a pena trair quem você é?
- “Felicidade”, de Marcelo Jeneci: o compositor lembra que não somos felizes sempre, e está tudo bem, e que é possível encontrar a felicidade na forma de ser.
- “In my blood”, de Shawn Mendes: a música fala sobre superar momentos difíceis e que não devemos ter medo de pedir ajuda à queles que amamos.
- “Born this way”, de Lady Gaga: a estrela diz que não há nada de errado em amar quem você é.
- “Firework”, de Katy Perry: a letra ensina que todos são importantes e especiais e que é preciso lembrar disse sempre que ficará para baixo.
- “Man! I feel like a woman”, de Shania Twain: clássica, hino da liberdade de poder fazer o que quiser, sem medo de ser julgada.
- “All About that bass”, de Meghan Trainor: o refrão diz: “Eu vejo as revistas abusando daquele Photoshop /Sabemos que essa porcaria é uma ilusão /Fala sério, faça isso parar / (...)”
- “This is me”, de Demi Lovato: a cantora pop canta: “Isso é real, essa sou eu / Estou exatamente onde eu deveria estar, agora /(...)”