O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi diagnosticado, de acordo com o governo federal, com uma obstrução intestinal decorrente do atentado a faca ocorrido em 2018. Ainda, conforme as informações, os médicos irão avaliar a necessidade de uma cirurgia de emergência. Do que se trata a obstrução intestinal e o que ela pode causar ao organismo? E por que pode ser necessário um procedimento invasivo?
Segundo Marcos Zambelli, cirurgião-geral do Hospital João XXIII, essa condição se dá quando o material digerido é impedido de passar normalmente pelo intestino. De acordo com Antonio Lacerda Filho, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), essa obstrução é conhecida popularmente como "nó na tripa", que impede o conteúdo intestinal de progredir.
“Isso ocorre por causa de um tumor por dentro que obstrui o intestino ou, como no caso do presidente, por ele ter feito várias cirurgias no abdômen, há aderência, ou seja, os órgãos ficam colados e o intestino pode ‘dobrar’, impedindo a passagem dos líquidos e alimentos", explica Zambelli. Além disso, o uso de medicamentos pode causar o quadro.
Nos últimos dias, Bolsonaro já havia reclamado de soluços persistentes, que perduravam por 10 dias. Inclusive, chegou a citar o problema em transmissão ao vivo nas redes sociais.
E sim, esse soluço tem a ver com o quadro clínico do presidente. Isso porque, conforme Marcos Zambelli, o estômago fica muito cheio e as secreções não conseguem descer.
"A obstrução leva a uma dilatação do estômago e do intestino acima do local obstruído e essa dilatação irrita o diafragma, podendo causar esses soluços", completa Lacerda Filho.
Outros sintomas comuns são dor abdominal, náuseas e vômitos, parada da eliminação de gases e fezes e distensão abdominal – essa manifestação ocorrendo mais tardiamente.
''Quando se entra nessa barriga, está tudo grudado. Então, corre o risco de machucar o intestino do paciente, de sangrar. Toda 'reoperação' é muito mais perigosa do que uma pessoa que se submete a cirurgia pela primeira vez''
Marcos Zambelli, cirurgião geral do Hospital João XXIII
Conforme a Sociedade Brasileira de Coloproctologia, há vários critérios para classificar esse quadro: quanto ao nível (delgado alto e baixo ou cólon), ao grau (completa, incompleta – suboclusão ou “alça fechada”), ao estado de circulação sanguínea (simples ou estrangulada), ao tipo de evolução (aguda ou crônica) e à natureza da obstrução (mecânica, vascular ou funcional).
Apesar dos diversos graus da doença, Marcos Zambelli explica que o tratamento, a princípio, é clínico. “Passamos uma sonda no nariz, ela vai até o estômago, hidratamos o paciente com soro, porque o quadro de obstrução pode levar a desidratação, e tratamos a dor. São todos recursos clínicos. Muitas vezes, essas medidas resolvem o problema. Se o tratamento não está sendo suficiente, precisamos fazer uma cirurgia para desobstruir, tirar as aderências ou o tumor, que é a causa do problema. Assim, o paciente volta a ter o trânsito intestinal normal.”
A necessidade de cirurgia é em último caso, conforme o especialista. Além disso, ele ressalta que, no caso do presidente, pelo fato de ser um abdômen que já foi submetido a vários procedimentos, a operação pode ser considerada como de risco.
“Quando se entra nessa barriga, está tudo grudado. Então, corre o risco de machucar o intestino do paciente, de sangrar. Toda 'reoperação' é muito mais perigosa do que uma pessoa que se submete a cirurgia pela primeira vez”, explica.
*Estagiária sob a supervisão da editora-assistente Vera Schmitz