"A ivermectina para COVID-19 nasceu de uma fraude e é fundamentada em estudos de péssima qualidade." A afirmação é do cardiologista José Alencar, que publicou este ano o Manual de Medicina Baseada em Evidências, praticamente um dossiê sobre o assunto.
O médico cita estudos a favor do uso da ivermectina para tratar a infecção pelo novo coronavírus que, inclusive, foram despublicados, diante de argumentos sem consistência sobre a eficácia do antiparasitário nesses casos. José Alencar tem larga experiência na análise de boas evidências médicas e reforça que o uso do remédio é completamente baseado em fraudes.
Quase um ano e meio depois do início da pandemia, ainda está em pauta o debate sobre a aplicação de fármacos sem eficácia comprovada no enfrentamento à doença, dentro do conjunto de produtos preconizados para o chamado "tratamento precoce", no que a ivermectina continua no centro da discussão.
Um estudo coordenado pelo médico Ahmed Elgazzar, da Benha University, no Egito, por exemplo, com análise defensora da ivermectina, acaba de ter seu acesso retirado do alcance de quem poderia se interessar pelo texto. Isso também tem reflexo nas demais análises que o têm como base, as meta-análises, que agora também estão descredibilizadas. "Quando uma história começa com uma mentira, todo o restante dela será também provavelmente mentirosa. A ivermectina para tratamento da COVID é uma bizarrice defendida por leigos, médicos leigos e charlatões", salienta José Alencar.
Como explica Alencar sobre a origem da discussão sobre a ivermectina com indicação para tratar a COVID-19, um ponto de partida seria o documento chamado Ivermectina em doença crítica por COVID, que veio a público em abril de 2020, quando, logo depois, em maio, o governo peruano elencou o fármaco em sua diretriz nacional de enfrentamento à pandemia, seguindo na mesma decisão a Bolívia e a cidade brasileira de Natal.
"O estudo diz que analisou três pacientes que usaram ivermectina para COVID no continente africano até 1º de março de 2020, quando só havia dois casos confirmados em todo o continente", esclarece o cardiologista. Agora, a pesquisa que começou com a ilusão sobre a ivermectina também não existe mais. "Não está mais publicado em lugar nenhum. Foi retirado do ar em 31 de maio de 2020", continua Alencar.
No manual, Alencar cita inclusive o caso da empresa norte-americana Surgisphere, de análise em saúde, que precisou fechar as portas depois de apoiar estudos a favor da ivermectina. "Em resumo, a ivermectina tem baixa probabilidade pré-teste porque é um vermífugo; mais baixa ainda porque nasceu de uma fraude e porque é fundamentada em estudos de péssima qualidade", acrescenta.
Outros remédios preconizados para tratar a COVID-19 também são motivo de discussão. O Ministério da Saúde, por exemplo, mudou de opinião sobre a cloroquina e hidroxicloroquina, medicamentos do kit COVID. Em nota técnica enviada à CPI da COVID, informa que não recomenda o uso, contrariando sua própria decisão, divulgada há alguns meses.
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