Após mais de um ano e quatro meses do início da pandemia de COVID-19, diversas variantes do Sars-CoV-2 surgiram em decorrência das mutações do vírus no código genético. Conforme as variantes são detectadas em um país ou região, as atenções se voltam para tentar decifrá-las, entendendo como se comportam no corpo humano, quais são os principais sintomas e reações às vacinas já existentes.
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Primeira dose aumenta proteção contra variantes só em quem já teve COVID-19A potencial vantagem da CoronaVac contra variantes da COVID-19Variantes do coronavírus: veja os perigos de mutações ao combate à COVID-19O que você precisa saber sobre variante Delta, nova preocupação da pandemiaPacientes suspeitos e positivos para COVID-19 são atendidos pelo UniBHGama plus: pesquisadores brasileiros encontram nova versão da variante Mesmo com avanço da vacinação, variante Delta preocupa infectologistas Mamografia deve ser adiada por 30 dias após vacina contra a COVIDEstudos comprovam aumento da automedicação para dormir na pandemiaAtualmente, existem quatro variantes distintas em circulação, algumas concentradas em determinada região. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a variante Alfa foi identificada no Reino Unido, a Beta na África do Sul, a Gama no Brasil e a variante Delta na Índia.
Variantes e proteção das vacinas
Eduardo Finger, clínico geral e imunologista parceiro da operadora de saúde Care Plus, explica um pouco mais sobre as quatro variantes, em circulação no mundo, e a importância das vacinas para a prevenção do contágio.
Variante Alfa: segundo estudos, ela tem transmissibilidade até 50% maior que a outras linhagens, mas isso não quer dizer que seja a mais perigosa.
Segundo o imunologista, estudos sobre maior risco de hospitalização e mortalidade não estão confirmados, mas acendem um alerta para a importância da vacinação, diante da efetividade das vacinas oferecidas atualmente contra essa variante.
Variante Beta: descoberta na África do Sul, é uma variante que preocupa pela resposta imune, podendo ocorrer casos de reinfecções, além de taxa alta de transmissibilidade.
“Estudos apontam que as vacinas da Pfizer e Janssen são eficazes contra a Beta. Entretanto, esse não deve ser um impeditivo para tomar alguma outra vacina disponível, já que essas análises estão em andamento e estudos de eficácia são constantes”, alerta o imunologista.
Variante Gama: também com altos índices de transmissibilidade, é a variante que assustou os brasileiros nos últimos meses, levando ao pico das internações em março e abril.
Finger explica que ela tem uma boa resposta às vacinas disponíveis no Brasil. Por isso, de acordo com ele, é imprescindível que as pessoas busquem a vacina no posto de saúde mais próximo e fiquem atentas à data da segunda dose.
Variante Delta: os estudos estão voltados para o comportamento dessa variante no organismo, por ser a descoberta mais recente. No entanto, já se sabe que ela é altamente contagiosa. As vacinas da Pfizer e AstraZeneca têm eficácia comprovada contra a mutação, e outros testes estão em andamento em relação às outras vacinas.
“Sendo a variante Alfa, Beta, Gama ou Delta, o vírus continua circulando, e é mais que necessário manter os procedimentos sanitários e de segurança, independentemente se o indivíduo já tomou a vacina e, principalmente, quando outros membros da família ainda não tomaram. O uso da máscara precisa continuar sendo um hábito imprescindível, assim como a higiene das mãos e o distanciamento entre as pessoas, em lugares abertos e fechados. Somente dessa forma, a imunidade ao vírus será alcançada”, completa.
Vacinas: todas são eficazes e protegem contra casos graves
Após seis meses desde que a primeira dose de vacina contra COVID-19 foi aplicada no país, em 17 de janeiro, a vacinação começa a mostrar seus efeitos positivos no combate à pandemia. Pela primeira vez desde dezembro de 2020, nenhum estado brasileiro está com mais de 90% dos leitos de unidade de terapia intensiva ocupados, em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS).
Atualmente, existem quatro vacinas contra o coronavírus sendo aplicadas no Brasil: CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen.
A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, explica que as quatro foram submetidas a rigorosos protocolos de testagem e tiveram os resultados checados por agências reguladoras de credibilidade reconhecida, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Segundo a médica, recusar uma vacina específica ou atrasar a aplicação para esperar outro imunizante são decisões que não fazem sentido e ameaçam a saúde individual e coletiva.
“Qualquer um de nós pode ter uma forma grave e morrer. Não dá para negar uma vacina que vai te proteger principalmente desses desfechos. Todas as vacinas utilizadas no país estão mostrando efetividade para formas graves e para mortes, o que, nesse momento, é o que a gente mais se preocupa. Esse é o objetivo principal, e todas estão cumprindo o seu papel”, afirma.
“A escolha de recusar e adoecer não é só sua. Você vai fazer outros adoecerem também.”
Além de proteger contra casos graves, outra semelhança é que os quatro imunizantes têm como alvo a proteína S, que forma os espinhos usados pelo coronavírus para se ligar às células humanas.
As vacinas da Pfizer, Janssen e Oxford/AstraZeneca usam mecanismos diferentes, mas ambas estimulam as células a conhecerem essa proteína e se prepararem para neutralizá-la. Já a CoronaVac apresenta ao organismo humano todo o vírus, só que inativado por reações químicas, fazendo com que nossas defesas reconheçam a proteína S e outras estruturas.
CoronaVac
A primeira vacina contra a COVID-19 aplicada no Brasil fora dos testes clínicos. Ela foi desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, parceiro do Instituto Butantan nos testes e na produção do imunizante.
Foi a responsável pela imunização dos grupos de maior risco no segundo pico da pandemia, quando a média móvel superou 3 mil mortes por dia.
O imunizante é o único dos utilizados até o momento no país que se baseia na tecnologia de vírus inativado. A vacina contém o microorganismo "morto" que, ao entrar no organismo, faz com que as defesas dele consigam conhecê-lo e se preparar para uma infecção.
A CoronaVac precisa de duas doses, aplicadas em um intervalo de duas a quatro semanas, conforme consta na bula, que foi aprovada com autorização de uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
AstraZeneca
A primeira dose da vacina Oxford/AstraZeneca foi aplicada no Brasil também em janeiro. As primeiras doses vieram do Instituto Serum, na Índia, mas, a partir de março, elas começaram a ser produzidas no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz).
Foi uma das primeiras vacinas de vetor viral a serem usadas em campanhas de vacinação no mundo, junto com a Janssen e a Sputnik V. O nome vetor viral significa que outro vírus é usado para transportar as informações genéticas do SARS-CoV-2, que farão as defesas do organismo reagirem.
No caso desse imunizante, o vetor usado é um adenovírus de chimpanzé que não é capaz de se replicar e foi modificado em laboratório.
A vacina foi testada em voluntários brasileiros no ano passado e recebeu registro definitivo da Anvisa neste ano. O esquema vacinal prevê duas doses, aplicadas com intervalos de quatro a 12 semanas.
Entre janeiro e junho, ela foi aplicada com 12 semanas de intervalo, mas, a partir de julho, alguns estados e municípios decidiram encurtar esse período para oito semanas, em razão da chegada da variante Delta ao país.
Pfizer/BioNTech
Terceira vacina contra COVID-19 aplicada no Brasil, começou a ser usada em maio, mas também foi testada em brasileiros no ano passado.
As doses do imunizante contêm apenas partículas de RNA mensageiro do coronavírus produzidas sinteticamente. Esse ácido nucleico sintético leva informações que permitem que as células repliquem a proteína S e a reconheçam para preparar as defesas do organismo.
Essa vacina também é aplicada em duas doses, com intervalo de 21 dias, sugerido pelo fabricante. Apesar disso, países como o Brasil, o Reino Unido e o Canadá decidiram estender esse prazo, com base em pesquisas que apontam que ela já produz imunidade na primeira dose.
Mesmo assim, a segunda dose continua sendo necessária para que a vacina atinja a proteção ideal. No Brasil, o prazo é de 12 semanas após a aplicação da primeira.
Janssen
Assim como a vacina da AstraZeneca, ela foi testada no Brasil e em outros países e apresenta a tecnologia de vetor viral, baseada em um adenovírus de humanos.
A principal diferença desse imunizante para os outros é o seu esquema vacinal, que prevê a aplicação de uma dose única, em vez de duas doses. Além disso, ela não é produzida no Brasil e já chega ao país pronta para ser aplicada.
O imunizante começou a ser usado no PNI em junho, após autorização de uso emergencial concedida pela Anvisa.
(Com informações da Agência Brasil)
*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria