Uma pesquisa de opinião feita em 25 países traz uma visão desalentadora de boa parte da população global a respeito de suas respectivas instituições políticas — e os brasileiros têm uma percepção negativa acima da média mundial.
Mais de dois terços (69%) dos mil brasileiros entrevistados afirmam que o país está em declínio, o maior índice observado entre todos os países participantes da pesquisa de opinião Broken-System Sentiment in 2021, realizada pela empresa Ipsos.
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A média global, nesse caso, é de 56%.
É importante que a liderança em um ranking de sentimentos tão negativos cause desconforto no Brasil, opina Helio Gastaldi, porta-voz da Ipsos.
"Espero que a pesquisa cumpra o papel de dar um chacoalhão. A crítica (às instituições políticas) é generalizada ao redor do mundo, mas não de forma tão aguda quanto no Brasil", afirma Gastaldi à BBC News Brasil.
Esse sentimento já havia se manifestado nas pesquisas anteriores da Ipsos sobre o mesmo tema, em 2016 e 2019.
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"É um sentimento que persiste e que coincide com o que notamos em outros estudos e pesquisas que fizemos para clientes, em que se percebe hoje no Brasil um sentimento de decepção e insegurança. Passa uma ideia de grande preocupação com o futuro", prossegue Gastaldi.
Populismo e 'líderes dispostos a quebrar as regras'
De modo geral, a pesquisa traz um panorama de desconexão e decepção das pessoas com suas instituições: na média, 71% dos entrevistados globais concordam com a frase de que "a economia está manipulada para favorecer os ricos e poderosos".
E 68% concordam com a ideia de que partidos e políticos tradicionais não se preocupam com as "pessoas como eu".
E, quanto maior a sensação de viver sob um "sistema falido", maior é também a manifestação de apoio a modelos populistas ou antielite, aponta o Ipsos.
No Brasil, por exemplo, 74% dos entrevistados disseram concordar com a frase "o Brasil precisa de um líder forte para retomar o país dos ricos e poderosos", dez pontos percentuais acima da média global.
Um índice menor, mas igualmente alto (61%) de brasileiros afirmou que "para consertar o país, precisamos de um líder forte, disposto a quebrar as regras". A média global, aqui, é de 44%.
"Isso reforça o discurso populista de que as instituições não servem e de que tem de vir alguém de fora para consertá-las — um remédio que a gente já sabe que não funciona", afirma Helio Gastaldi.
No lugar de depositar as esperanças em um líder que derrote o sistema e milagrosamente resolva os problemas, prossegue Gastaldi, o mais produtivo seria fortalecer as instituições e aumentar a participação popular nelas.
Uma ressalva importante nesse ponto, diz Gastaldi, é de que o apoio a um "líder forte que quebre as regras" é maior entre os mais velhos (acima dos 50 anos) do que entre os mais jovens, "que parecem mais predispostos a (confiar em) soluções institucionais".
De qualquer modo, analisa ele, "é um índice alto, preocupante, que reflete um certo saudosismo da ditadura (militar no Brasil), uma visão nublada e incorreta desse período como sendo um de mais ordem ou de menos corrupção. Isso também alerta para a necessidade de um diálogo intergeracional".
Ainda segundo a pesquisa, 82% dos brasileiros acham que a elite política e econômica não se importa com as pessoas que trabalham duro. Três quartos dos entrevistados (76%) acreditam que a principal divisão da sociedade do Brasil é entre cidadãos comuns e a elite política e econômica.
"As pessoas entendem que quem pode ou tem responsabilidade de fazer algo (para melhorar o país) o faz em benefício próprio", prossegue Gastaldi.
"São vários indicadores negativos em que o Brasil está muito acima da média mundial, mostrando que a população se sente muito desassistida."
Migração
O único ponto da pesquisa em que os brasileiros ficam abaixo das médias internacionais diz respeito a temas migratórios.
Aqui, 53% concordam com a frase "quando os empregos são escassos, empregadores devem priorizar nativos a imigrantes", contra 57% da média global.
E apenas 26% acham que o Brasil seria mais forte se deixasse de receber imigrantes, contra 38% no resto do mundo.
A pesquisa da Ipsos foi feita online com 19 mil respondentes de 16 a 74 anos, entre março e abril, em EUA, Canadá, Malásia, África do Sul, Turquia, Bélgica, França, Alemanha, Reino Unido, Austrália, Itália, Japão, Espanha, Hungria, México, Holanda, Peru, Polônia, Rússia, Coreia do Sul, Suécia, Argentina, Chile, Colômbia e Brasil.
Segundo a Ipsos, as amostras são representativas da composição populacional dos países — embora, em parte deles (Brasil inclusive), ela reflita a opinião de uma população majoritariamente urbana, próspera e com mais acesso à educação.
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