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Estado de Minas SAÚDE

Exames de rastreamento são deixados de lado devido à pandemia

Especialistas alertam que interromper um tratamento ou mesmo adiar checapes por conta própria pode fazer com que doenças que estavam controladas evoluam


22/08/2021 09:50 - atualizado 22/08/2021 10:08

O checape precisa ser anual, sem adiamentos(foto: Gerd Altmann/Pixabay )
O checape precisa ser anual, sem adiamentos (foto: Gerd Altmann/Pixabay )

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) alertou, em abril de 2021, que o cancelamento e reagendamento de consultas ginecológicas, em função da pandemia, geraram redução no diagnóstico dos cânceres de mama e colo de útero.

Levantamento feito pela Fundação do Câncer, com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS), publicado pelo Instituto Oncoguia em outubro de 2020, revelou queda de 84% no número de mamografias feitas no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus, em comparação ao mesmo período de 2019, o que também vale para outras neoplasias, como câncer de cólon e de colo uterino.

Oncologista do Grupo Oncoclínicas, Carolina Vieira afirma que aumentou o número de casos de câncer com diagnósticos em estágios mais avançados (foto: Arquivo Oncoclínicas )
Oncologista do Grupo Oncoclínicas, Carolina Vieira afirma que aumentou o número de casos de câncer com diagnósticos em estágios mais avançados (foto: Arquivo Oncoclínicas )
A oncologista do Grupo Oncoclínicas Carolina Vieira lamenta a perda de prosseguimento entre os pacientes com câncer, que, com o início da pandemia, deixaram de procurar os médicos para exames de rastreamento, como mamografia e colonoscopia.

Com isso, explica a médica, já ocorre um impacto negativo, com a mudança no perfil dos pacientes que se apresentam nos ambulatórios de oncologia. "Aumentou o número de casos com diagnósticos em estágios mais avançados", constata.
 
Ao mesmo tempo, pessoas que já vinham em tratamento e precisam continuar em controle com exames periódicos, físicos e complementares, a fim de evitar recidivas, além do acompanhamento de sintomas e melhores hábitos de vida, tiveram atrasos em suas consultas de retorno. "Muitos só voltaram ao consultório quando já apresentavam sintomas mais significativos dessas doenças."


MORTALIDADE 


O diretor médico da iMEDato Consulta e Exames, Diogo Umann, lembra que, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, as chamadas doenças crônicas não transmissíveis são a causa principal de mortalidade e de incapacidade prematura na maioria dos países do continente, inclusive no Brasil. "Parar e/ou interromper um tratamento ou acompanhamento médico por conta própria, por medo e desinformação com relação ao coronavírus, pode fazer com que doenças que estavam controladas evoluam, gerando, inclusive, consequências fatais."

A contadora aposentada Waltemicir Isabel José de Souza, de 67 anos, começou a apresentar alguns desequilíbrios de saúde a partir dos 50. Hoje, tem diabetes, hipertensão e obesidade. Também já começa a manifestar problemas na retina por causa do diabetes. O controle de suas condições físicas ocorre sempre de seis em seis meses, mas, com o coronavírus, isso mudou.

Tinha uma consulta agendada para março de 2020, logo que se agravou a pandemia. Ao chegar ao posto médico, lembra que se desesperou em ver tanta gente junta, e com máscaras. "Nem saí do carro. Fiquei em pânico. O medo de pegar o vírus e morrer é muito grande. Minha pressão subiu só de chegar no posto e ver aquilo", relata. Em novembro, voltou ao posto e a situação se repetiu. Compareceu para consulta com uma nutricionista; logo que chegou teve novamente uma alta de pressão, e foi encaminhada ao clínico geral, que contornou o problema.
 
Com medo da pandemia, a contadora aposentada Waltemicir Isabel José de Souza, de 67 anos, tem evitado sair de casa para fazer um checape(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 25/11/20)
Com medo da pandemia, a contadora aposentada Waltemicir Isabel José de Souza, de 67 anos, tem evitado sair de casa para fazer um checape (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 25/11/20)
O último checape que fez foi nessa ocasião. Agora, acompanhamento mesmo apenas duas vezes por semana de fisioterapia, com profissional que recebe em domicílio, para atividades como caminhadas e ginástica. Waltemicir não tem saído de casa para nada - só para o estritamente necessário. "Se tenho que atender quem bate à porta, sempre de máscara", conta. E também demonstra que não se preocupa tanto com os acompanhamentos médicos adiados. "Estou me sentindo bem", diz.

PALAVRA DE ESPECIALISTA: ACOMPANHAMENTO NECESSÁRIO

Lucas Bifano
Médico da família e especialista em saúde pública

"Os pacientes deixaram que o medo do coronavírus os impedisse de procurar os serviços de saúde. Muitos já eram diabéticos, hipertensos, tinham algum problema de saúde mental, entre outros, e deixaram que essas doenças progredissem de forma incontrolada. Em alguns casos, isso levou à morte, como em quadros de insuficiência cardíaca ou síndrome metabólica graves, pois a prevenção e a promoção da saúde foram abandonadas. Situações que poderiam ter sido controladas com facilidade ganharam proporções estratosféricas, e o coronavírus, por ser uma doença viral, fez usufruto disso. Sobretudo em um período pandêmico, o paciente deve manter o acompanhamento médico. É essencial que as pessoas voltem ao seu acompanhamento, não só o que vinham fazendo, mas que, proativamente, evitem que outros problemas de saúde ocorram."

Principais exames de rotina

  1. Hemograma completo
  2. Glicemia em jejum
  3. Colesterol e triglicerídeos
  4. Ureia e creatina
  5. TGO (AST) e TGP (ALT)
  6. TSH e T4 livre
  7. Ácido úrico
  8. Exame de urina
  9. Eletrocardiograma e ecocardiograma
  10. Mamografia e Papanicolau (para as mulheres a partir  da idade recomendada)
  11. Dosagem de PSA e toque retal  (para os homens a partir da  idade recomendada).


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