Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Stalking: tome as rédeas e evite ser perseguido e controlado

Ser vítima de stalking transforma a vida, que é colocada de ponta-cabeça e vira um pesadelo. Imagina a sensação e a vivência de ser vigiada, perseguida o tempo todo? Seguramente, a saúde mental será afetada diante de um turbilhão de emoções e sentimentos.



Pode afetar muito, muito mesmo, dependendo de como acontece a insistência, a perseguição, e de como a pessoa que é perseguida se posiciona perante a situação.

O sentimento de medo vai crescendo e a insegurança cresce junto. “Crescem a ponto de a vítima acreditar que não há saída para a situação e que a sua vida está nas mãos do agressor. Às vezes, chega-se nesse nível mesmo, de maneira real, mas antes disso acontece de a vítima estar sendo controlada por seus próprios medos. Podemos perceber também a presença de um sentimento de culpa. Nem sempre de maneira clara, mas ele costuma ser um dos componentes do sofrimento”, destaca Fernanda Berni, psicóloga clínica.
 
Para Fernanda Berni, além da proteção legal, é muito importante buscar ajuda profissional. “A psicoterapia pode ajudar a pessoa a lidar melhor com tudo isso, preservando-se da própria situação e de possíveis danos emocionais – momentâneos ou futuros. Por outro lado, considero importante 'não' buscar ajuda em fontes controversas.

As redes sociais e a internet estão cheias de pseudoprofissionais da saúde mental dando conselhos, prometendo resultados rápidos, garantidíssimos, para todo tipo de problema. Dificilmente eles dão certo e há um grande risco de se perder tempo (no mínimo, tempo) acreditando em bobagens. Suas argumentações contraditórias confundem, em vez de ajudar. Infelizmente, quando a pessoa está vulnerável, sensibilizada, ela nem percebe...”





MULHERES E HOMENS 


Fernanda Berni, psicóloga clínica, diz que conhecer os próprios limites e respeitá-los é um bom começo para perceber melhor a situação e se fortalecer, tentar se preservar e se defender (foto: Arquivo pessoal)
A psicóloga confirma que as vítimas de stalker são na maioria mulheres. “Isso pode ser explicado por vários ângulos. Temos questões históricas e culturais envolvidas, e muito da forma como os homens tendem a lidar com questões de sua história pessoal. Sabemos que cada indivíduo é único, que tem uma evolução ao longo da vida, que é completamente particular. Mas também podemos perceber algumas semelhanças dentro dos gêneros. Os homens tendem a ter um pouco mais de reações agressivas. E as formas como lidam com sofrimentos, perdas, traumas podem estar na estrutura de formação de comportamentos assim, de posse, de perseguição, de não aceitação da recusa, entre outros, de forma mais agressiva ou até violenta.”

O stalking é tão sério diante de o stalker ser portador de alguma psicopatologia e se tornar ainda mais perigoso para a vítima. “Os stalkers podem ter uma psicopatologia. Eu poderia citar algumas, entre as possíveis, mas o psiquiatra é o profissional indicado para fazer esse diagnóstico. É muito delicado. Uma certa psicopatologia pode abranger sintomas compatíveis com o comportamento do stalking, mas não necessariamente toda pessoa com o mesmo diagnóstico, a mesma psicopatologia, irá desenvolver tais sintomas e comportamentos”, enfatiza a psicóloga.
 

SENTIMENTOS CONFLITANTES 


O stalking é tão sério diante de o stalker ser portador de alguma psicopatologia e se tornar ainda mais perigoso para a vítima (foto: Tumisu/Pixabay )
Para Fernanda Berni, alguns sintomas do stalker até são perceptíveis, mas, muitas vezes, eles não são percebidos logo no começo do contato, que pode começar com atitudes sedutoras, o que normalmente confunde a vítima. “Depois, a própria pessoa, a vítima, percebe quando a situação está fugindo do seu controle. É quando o incômodo e o desconforto começam a crescer e o medo começa a surgir. Ela vai passando a ser controlada pelo próprio medo, como se já não tivesse mais a pose da própria vida, nem a sua liberdade.”




 

Ao passar por situações de stalking, principalmente quando se conhece o perseguidor, é natural surgirem sentimentos conflitantes de não querer magoar, dar mais uma chance e até se sentir culpada.

Para Fernanda Berni, realmente isso ocorre e é natural. Por isso, conhecer os seus próprios limites e respeitá-los é um bom começo para perceber melhor a situação e se fortalecer, tentar se preservar e se defender. “Nessa busca pelo autoconhecimento e autoaceitação, pode-se encontrar com as suas fragilidades e forças também. E assim usar as forças a seu favor. Nos pontos frágeis, buscar ajuda. Ou aceitar ajuda. Mas aceitar ajuda de quem nos quer bem de verdade.”

As mulheres são as principais vítimas do stakler, mas homens também sofrem perseguição (foto: Gerd Altmann/Pixabay)
 

STALKING: CONSEQUÊNCIAS NA SAÚDE FÍSICA


  1. Distúrbios digestivos
  2. Alterações de apetite
  3. Náuseas
  4. Dores de cabeça
  5. Insônia
  6. Pesadelos
  7. Fraqueza
  8. Cansaço
  9. Exaustão
  10. Alterações na aparência física (exemplo: mudar a cor e/ou cortar o cabelo)
  11. Em consequência de ferimentos causados pelo (a) perseguidor pode ocorrer lesões físicas, tais como: hematomas, queimaduras, ferimentos de arma branca e de fogo.





CONSEQUÊNCIAS NA SAÚDE MENTAL E NO BEM-ESTAR EMOCIONAL
  1. Medo
  2. Culpa
  3. Hipervigilância
  4. Desconfiança
  5. Sensação de perigo iminente
  6. Sentimentos de abandono
  7. Desânimo
  8. Confusão
  9. Falta de controle
  10. Comportamentos de distanciamento, evitando as pessos, isolamento
  11. Ansiedade, como estresse pós-traumático e depressão
  12. Tentativas de suicídio
  13. Aumento do consumo de medicação ou automedicação
  14. Aumento do consumo de álcool/tabaco

 
STALKING: CONSEQUÊNCIAS NO ESTILO DE VIDA
  1. Alteração de rotinas diárias
  2. Redução dos contatos sociais
  3. Abandono e/ou distanciamento de atividades sociais
  4. Mudança de cidade, de residência, de carro, e/ou de emprego
  5. Aumento de encargos econômicos, despesas em sem necessidade ou reforçar medidas de segurança (exemplo: mudar a fechadura de casa; aquisição de alarmes etc.)
  6. Redução no rendimento seja na produtividadeprofissional, na acadêmica ou escola
  7. Aumento do absentismo e/ou redução da assiduidade
  8. Diminuição do salário devido a dias de trabalho perdidos

 *Fonte: Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), instituição particular de solidariedade social, pessoal e coletiva de utilidade pública, em Lisboa, Portugal, que promove e contribui para a informação, proteção e apoio aos cidadãos vítimas de infrações penais.

 
 

audima