O toque é tão precioso que é curativo. Com o mundo privado deste contato mais próximo há mais de um ano, diante do enfrentamento da pandemia da COVID-19, a massagem se apresenta como uma saída, controlada, para absorver toda a energia das mãos diante do poder quando ela se encontra com o corpo. Uma das mais antigas e simples formas de terapia, presente há milhares de anos no Oriente, há registros de pinturas de murais, em túmulos e nas cerâmicas da China, Japão, Egito e Pérsia (hoje Irã) há mais de 5 mil anos. É a forma mais primitiva e intuitiva de tratar.
No Ocidente, foi aplicada na medicina por gregos e romanos. Hipócrates, o pai da medicina, recomendava suas propriedades terapêuticas das fricções para cuidar do corpo. E, desde então, faz parte da vida do ser humano, e só evoluiu com descobertas que trazem benefícios para melhorar a qualidade de vida.
Quando pensamos em massagem, a primeira coisa que nos vêm à mente é a sensação de relaxamento. Existe uma razão para isso. “O toque é o primeiro sentido que adquirimos ao nascer. É também a arma secreta em relacionamentos de sucesso. Isso começa lá dentro da barriga da mãe, quando antes de nascer recebemos as informações em forma de vibração dos batimentos cardíacos que vêm ampliados pelo líquido amniótico. Ao nascer, esse toque ganha uma amplitude na relação de mãe/filho/pai, em toques que transmitem para a criança a relação de apego, de segurança, de amor. E a pele, sendo nosso maior órgão, é uma fonte rica de informações sobre o que estamos pensando e sentindo. É por meio dela que, muitas vezes, transmitimos o que se passa por dentro de nós. Por isso é tão importante incluir a massagem na rotina quando pensamos em cuidar da saúde”, explica Raquel Negri, terapeuta integrativa, massoterapeuta e instrutora de ioga e meditação no Espaço Chama.
Deu um ‘bug’ na cabeça das pessoas, que passaram a ter o contato com o mundo via tela de computador ou do telefone. Medo de adoecer, da morte, de ficar sem emprego. Medo do futuro. Essa carência de afeto, de toque, de contato ficou evidenciada. Todos estão sentindo a falta do abraço”
Raquel Negri, terapeuta
Raquel Negri destaca que essa massagem pode ser feita por cada um, a chamada automassagem, ou por um profissional qualificado. “O que percebo, em meus atendimentos, é que, mesmo antes da pandemia, como o mundo anda muito acelerado e cobrando uma produtividade além dos limites, as pessoas já estavam apresentando uma saúde física e mental abalada em função de corresponder ao nível estimado de expectativas, independentemente da idade”, afirma.
Segundo ela, com a COVID-19 somada a essa perspectiva, veio a história da falta de contato social, home office, relações particulares misturadas às relações de trabalho, intimidades das casas invadidas pelas intermináveis reuniões virtuais. “Deu um ‘bug’ na cabeça das pessoas, que passaram a ter o contato com o mundo via tela de computador ou do telefone. Medo de adoecer, da morte, de ficar sem emprego. Medo do futuro. Essa carência de afeto, de toque, de contato ficou evidenciada. Todos estão sentindo a falta do abraço, dos encontros. Esse sentimento e essa carência abriram caminho para novas patologias serem evidenciadas: muita gente com crise de pânico, transtorno de ansiedade, depressão e problemas com o sono. Está faltando o hormônio do ‘aconchego’, que é a oxitocina.”
Por isso a massagem é tão fundamental. Para a terapeuta integrativa, diante deste cenário caótico, a massagem, como terapia, ganhou espaço em função da restrição social. “O toque foi ressignificado e houve uma valorização. Ele ganhou este cunho terapêutico com mais respeito. Claro, que, de novo, buscando bons profissionais que atendem à risca os protocolos de segurança e os levaram para os ambientes dos consultórios.”
Há vários tipos de massagens, mas Renata Negri joga luz sobre a terapêutica, a mais essencial neste período. “Massagem terapêutica é quando se usa o corpo e todas as informações contidas nos sinais que esse corpo traz para, por meio do toque, buscar um caminho de se tratar terapeuticamente. Muitas vezes, ela pode ser bem relaxante, outras não. Depende do contexto e da demanda de cada um. Por isso é importante procurar por profissionais qualificados para este tipo de ‘tratamento’. Trabalho especificamente com dois tipos que considero eficazes. O shiatsu, oriundo da medicina tradicional chinesa, onde usamos os mesmos pontos da acupuntura, porém com a pressão dos dedos, sem a necessidade de agulhas.”
E a segunda é a massagem restaurativa, que é uma adaptação da ioga restaurativa, que Raquel Negri levou para a maca. “A ioga restaurativa é uma modalidade em que usamos posturas passivas da ioga com o intuito de proporcionar um estado de introspecção e relaxamento profundo. Concilio isso ao toque suave, ainda com a ajuda da aromaterapia (uso de óleos essenciais). Isso tem demonstrado excelentes resultados no manejo de estresse, ansiedade e distúrbios emocionais variados. Sempre buscando trazer um ambiente com características marcantes de afeto, calma, acolhimento e tranquilidade.”
REVITALIZADA
Raquel Negri, também especializada no manejo do estresse, ansiedade e distúrbios do sono, enfatiza que o resultado da massagem terapêutica é a pessoa se sentir revitalizada. “É como se esta parada fosse uma carga na energia, além de dar uma limpada no que não estava muito legal. A resposta do relaxamento é uma restauração dos corpos físico, mental e emocional. Dessa forma, a busca por ajuda para 'se entender' no meio deste processo aumentou (e muito). Seja por meio dos serviços on-line ou, quando possível, presencial. E neste espaço que se abriu para se observar, abriu-se caminho para se buscarem recursos de equilíbrio físico, mental e emocional. E a terapia integrativa que usa, entre os seus diversos recursos, a massagem, acabou unindo esses dois mundos.”
A relações-públicas Rafaella Campos, de 30 anos, conta que cansada e muito ansiosa com seu trabalho, decidiu procurar alternativas para aliviar o estresse. “Ajudou não só meu corpo cansado, mas também a minha mente. Lembro-me de que na minha primeira sessão, a Raquel Negri fez uma entrevista e disse que seu trabalho ia além da massagem e funcionava como terapia integrativa. Ela entendeu meu momento, minhas angústias e quando deitei na maca de massagem tudo fez sentido. Ela trouxe a aromaterapia para me auxiliar na ansiedade, trabalhou na massagem dos meridianos do corpo, que me dariam mais coragem, e aplicou as técnicas de reiki e shiatsu.”
Rafaella destaca que é engraçado dizer, mas sentiu uma melhora instantânea. “Saí da sessão mais leve e nos dias seguintes ainda foi possível sentir os efeitos das técnicas utilizadas em mim. Continuo fazendo regularmente as minhas sessões desde então, e acredito que elas me ajudam a ter mais qualidade de vida.”
Já a preparadora física Laura Malheiros, de 26, faz sessões terapêuticas se- manalmente. É o seu momento de autocuidado em meio à agitação da semana. “A Raquel sempre usa óleos essenciais, o que potencializa o efeito. Quando estou agitada, ela usa lavanda para me ajudar a acalmar e controlar a ansiedade. Sinto meu corpo mais relaxado e com menos pontos de tensão. Também recorro a ela quando estou triste ou desmotivada pra deixar meu astral mais elevado.”