Jornal Estado de Minas

COVID-19

Laboratório mostra avanço da variante Delta em várias capitais brasileiras

A variante Delta é predominante em mais 50% das amostras avaliadas em Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Além disso, ela tem avançado em outras capitais como Fortaleza (33,3%), Brasília (32,4%), São Paulo (29%), Palmas (16,6%), Goiânia (14,2%), Belo Horizonte (10,5%) e Porto Velho (10%).





 

 


Esse é o resultado dos últimos dados coletados pelo Sistema de Vigilância Genômica desenvolvido pelo Grupo Pardini, por meio de sua equipe de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em colaboração com o laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

O monitoramento da dinâmica das variantes da COVID-19 nas principais capitais do Brasil é feito desde abril deste ano pela rede nacional de laboratórios do instituto.    

Para a coordenadora de Pesquisa & Desenvolvimento do Grupo Pardini, Danielle Zauli, esse rastreamento efetivo e em tempo real das variantes contribui para avaliar o cenário da doença no país, além de orientar ações de saúde pública para conter a transmissão do coronavírus.

Em agosto, foram analisadas 551 amostras distribuídas pelas seguintes capitais: 

  • Belém (33)
  • Belo Horizonte (19)
  • Boa Vista (12)
  • Brasília (74)
  • Campo Grande (3)
  • Curitiba (30)
  • Fortaleza (63)
  • Goiânia (56)
  • Macapá (13)
  • Manaus (15)
  • Palmas (36)
  • Porto Alegre (69)
  • Porto Velho (40)
  • Rio de Janeiro (26)
  • São Paulo (62) 

As variantes de SARS-CoV-2 foram identificadas através da genotipagem por PCR em tempo real para 7 mutações no gene da espícula viral, com o objetivo de identificar a variante Delta. 





As capitais da região Norte e Centro-Oeste apresentam os menores níveis da variante Delta, com predominância da Gama (P.1), surgida no estado do Amazonas. 
 
Vale lembrar que o número de amostras investigadas nessas capitais é menor quando comparado com as demais e que esses resultados demonstram a importância do monitoramento dessas regiões para uma maior cobertura regional.
 

Em Minas

 
No sábado (11/9), o governo de Minas Gerais confirmou a sexta morte pela variante Delta no estado. 

Até agora, a variante fez duas vítimas em Caratinga. Já os municípios de Piraúba, Rio Novo, Claro dos Poções e Uberaba confirmaram uma ocorrência cada.





Juiz de Fora é a cidade com maior número de resultados positivos para a Delta, são 38. Belo Horizonte aparece em segundo lugar, com 25 registros. Itabirito e Unaí têm 12 cada uma, Muriaé aparece com 10 casos e Carangola com 7.

Ao todo, segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, são 261 casos confirmados da variante no estado. 
 

Monitoramento constante e avanço da Delta


A estratégia deste sistema de vigilância é o monitoramento constante e em tempo real da dinâmica de todas as variantes já descritas no Brasil, especialmente as variantes Delta e Mu. Detectada na Índia pela primeira vez, em outubro de 2020, a Delta tem uma capacidade de transmissão muito maior que as outras variantes.  

Segundo a infectologista da rede de laboratórios do Grupo Pardini, Melissa Valentini, a Delta está avançando num momento em que mais pessoas estão vacinadas no Brasil. Mas, para ela, é importante observar também que em outros países a Delta avançou com uma população expressiva já vacinada. 

Dose de reforço


“Com o envelhecimento do sistema imunológico qualquer vacina é menos eficaz em pessoas mais velhas porque o organismo envelhece e o sistema imunológico envelhece. Com isso, a vacina tem uma resposta menor”, explica Melissa. 





No Brasil, grande parte dos idosos tomou a CoronaVac. “Ela é uma vacina boa, eficaz e evitou muitas mortes no país, só que comparada às outras vacinas, ela tem uma eficácia menor.”

Segundo a infectologista, as vacinas de vírus vivos inativados, teoricamente, têm uma proteção menor para a doença. “E essas pessoas já estão há mais de 6 meses vacinadas com CoronaVac, que seria o tempo em que a vacina diminuiria sua atividade. Então, é recomendável que se faça uma dose de reforço, com uma outra vacina (heteróloga).”

Melissa ressalta que as vacinas de RNA mensageiro, como as da Pfizer, são as que mostraram ter maior proteção contra a COVID, com mais de 90%. 

“Nessa população (idosos acima de 70 anos), é interessante pela questão da idade, a eficácia das vacinas, independente de qual for, vai ser menor em comparação com a população jovem. Além disso, já se passaram 6 meses dessa vacinação.”

Outro grupo que precisará de uma terceira dose são os pacientes que estão em quimioterapia ou têm alguma doença imunossupressora. Os estudos mostraram que é necessária uma dose de reforço para melhorar a imunidade dessas pessoas. Por isso, eles também serão vacinados. 




 
Já para quem não faz parte desse público e tomou CoronaVac, a infectologista explica que, por enquanto, ainda não tem nada definido sobre a necessidade de uma terceira dose. 

Um público que precisará ser revisto, segundo ela, são os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à pandemia. 

“Foram os primeiros a se vacinar, tomaram CoronaVac e estão imunizados há mais de 7 meses. Muito provavelmente a proteção dessas pessoas está caindo e eles estão na linha de frente. Eu acho que eles deveriam ser incluídos nessa revacinação, já que a linha de frente não pode adoecer.” 

Para os outros públicos, a adoção da dose de reforço vai depender da evolução da pandemia, com as novas variantes. “Principalmente a Delta que chega com força. Além disso, eles foram vacinados mais recentemente e têm um tempo de imunidade mais alto.” 

Que vamos precisar de uma dose de reforço, não tenho dúvidas que vamos, mas ainda não sabemos qual vai ser o intervalo dessa dose e para qual público ela será necessária”, completa.

Vacinação heteróloga


No caso dos idosos isso já está bastante claro, explica Melissa. Segundo ela, estudos mostraram que há uma melhora da imunidade, ainda mais com uma vacina diferente da aplicada no primeiro ciclo vacinal. Neste caso, acontece uma vacinação heteróloga.  

Existem três tipos de vacina contra a COVID-19: as de vírus vivo inativado (Coronavac), as de vírus de vetor viral (Janssen e Astrazeneca) e as de RNA mensageiro (Pfizer). 





“O que existe de experiência no mundo seria uma dose de vetor viral e a de reforço com RNA mensageiro. Tem também um estudo recente com vírus inativado e RNA mensageiro. Os estudos estão surgindo e é uma alternativa interessante que se faça vacinas diferentes para aumentar a imunidade induzida por elas.” 

A infectologista alerta que, mesmo após a dose de reforço, as pessoas podem se contaminar pelo coronavírus. A terceira dose vai proteger contra casos mais graves da doença. 

“Isso serve para toda vacina. Quando se compara o grupo vacinado com o não vacinado, o último vai ter mais mortes, vai ter casos mais graves e se contaminar mais. Mas, não quer dizer que não vai ter caso grave e infecção no primeiro grupo. Pode acontecer, mas a chance de uma pessoa vacinada ter um quadro grave é muito menor do que das pessoas não vacinadas.”

Melissa explica que na Europa, com o avanço da variante Delta, percebeu-se que a vacina protegia contra formas graves, mas não contra a infecção.
 
“Muitos deles se infectaram, mas foram assintomáticos. Daí a importância de reforçar a vacinação e, por enquanto, ainda continuar com as medidas de proteção porque ainda temos um percentual de pessoas ainda não vacinadas ou não totalmente imunizadas com a segunda dose.” 
 
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie. 





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