A pandemia daCOVID-19 aumentou a incidência de transtornos depressivos e distúrbios de ansiedade a nível mundial, sendo que mulheres e jovens são os mais afetados. A conclusão, feita por pesquisadores da Austrália, foi divulgada na revista The Lancet e tem como base dados de 204 países. Os cientistas observaram que os territórios com altas taxas de infecção pelo Sars-CoV-2 e grandes reduções no movimento de pessoas — uma consequência de medidas de isolamento social — são os que mais registram esse aumento das complicações. O Brasil faz parte desse grupo e, segundo os autores, está na lista das nações mais atingidas pelo fenômeno.
Antes da pandemia, as estimativas indicavam 193 milhões de casos de transtorno depressivo maior (2.471 casos por 100 mil habitantes) globalmente, antes da crise sanitária. Durante o período pandêmico analisado, o número subiu para 246 milhões de casos (3.153 por 100 mil habitantes), um aumento de 28% (adicional de 53 milhões de casos). Os pesquisadores também observaram que mais de 35 milhões de casos adicionais foram diagnosticados em mulheres, contra 18 milhões em homens.
Em relação à ansiedade, o estudo mostrou 298 milhões de casos de transtornos de ansiedade (3.825 por 100 mil habitantes) globalmente. Com a chegada da pandemia, esse número subiu para 374 milhões de casos (4.802 por 100 mil habitantes), um aumento de 26%. Dos 76 milhões casos adicionais, quase 52 milhões foram de mulheres.
O estudo mostrou, ainda, que os mais jovens foram os mais afetados pelos dois tipos de distúrbio. “A prevalência adicional desses transtornos atingiu o pico entre aqueles com idade entre 20 e 24 anos (1.118 casos adicionais de transtorno depressivo por 100 mil habitantes e 1.331 casos adicionais de transtornos de ansiedade por 100 mil habitantes)”, relatam os autores. A equipe também conseguiu especificar os países em que o fenômeno foi mais crítico: Estados Unidos, Brasil e Reino Unido.
Com base nos dados, os autores pedem uma ação urgente dos governantes para fortalecer os suportes psicológico e psiquiátrico nos próximos anos. “Mesmo antes do período pandêmico, os sistemas de saúde mental, na maioria dos países, apresentavam poucos recursos e eram desorganizados em sua prestação de serviços. Atender à procura adicional, requerida devido à covid-19, será um desafio. É preciso dar atenção a essa necessidade”, enfatiza, em comunicado, Damian Santomauro, pesquisador do Centro de Queensland de Pesquisa em Saúde Mental, na Austrália, e um dos autores do estudo.