O corpo se transforma e os desejos estão em ebulição. Quando o adolescente busca conhecer e interpretar o mundo, tentando entender tudo o que ocorre à sua volta, a literatura precisa seduzir, recomenda a escritora e professora Madu Costa. "Todos somos responsáveis por continuar envolvendo esses adolescentes no prazer da literatura. E muitos escritores já aprenderam o que seduz esse público. É preciso ser estrategista. Se estou diante de um leitor iniciante e ofereço leituras densas, não vou conseguir seduzi-lo", alerta.
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Literatura desperta jovens para a compreensão do mundo e o autoconhecimentoLeitura em voz alta é tecnica para adolescentes compartilharem compreensãoA surpreendente queda de criatividade em adolescentes do mundo detectada pela OCDEConheça 5 erros nos seus conceitos sobre o melasmaCresce a terapia assistida por cãesA neta de Madu, a estudante Bruna Maestro, de 18 anos, desde criança foi incentivada por ela a se embrenhar pelas letras. A experiência evoluiu aos poucos e foi se transformando em cada etapa de crescimento. De clássicos da literatura, alguns que pedem uma leitura mais atenta, os gêneros foram variando com o passar do tempo. Hoje, Bruna conta que os livros que mais aprecia são aqueles que seguem mais os seus interesses ou momentos de vida.
Entre os temas de que mais gosta tratam do fantástico, narrativas sobre disputas, dramas, brigas e poder. Bruna também já percorreu o caminho das leituras religiosas. Ela diz que não gosta de ler pelo celular. “A tela é muito pequena, tem que ficar dando zoom, cansa a vista. Prefiro o livro físico. E quando é sobre coisas que estou vivendo, não necessariamente sobre isso, mas temas com os quais me identifico, isso me estimula mais”, diz a estudante, que tem muitas amigas praticantes da leitura assídua.
E eram muitos, sempre divertidos. A mãe seguia na missão de ler para ela, até que concluiu a alfabetização, aos 6 anos. Isabelle lembra de atividades lúdicas na escola, quando escolhia as obras para fazer resenhas ou desenhos, como forma de estimular a interpretação textual.
Em um momento seguinte, quando mudou da escola, o processo de leitura arrefeceu devido às dificuldades de se adaptar ao novo ambiente, mas nada que o título “Matilda”, de Roald Dahl, não a ajudasse a superar.
"Tinha 11 anos quando ganhei o livro de um amigo e eu me apaixonei de novo pela leitura. Comecei a buscar outros livros, fui atrás dos assuntos de que gostava. Passei a frequentar a biblioteca toda semana."
Isabelle lê de tudo um pouco. O repertório vai de mitologia grega, romance, ficção científica, fantasia e aventura, utopias, passando dos clássicos de William Shakespeare (seus preferidos são “Romeu e Julieta” e “A megera domada”), às histórias de Harry Potter, Percy Jackson, Nárnia, Jogos Vorazes, Divergente, e a coleção “Fazendo meu filme”, de Paula Pimenta, entre muitos outros de uma lista extensa.
Durante as férias, Isabelle lê um livro por semana e, em época de aulas, uma obra por mês. As exceções ficam por conta das trilogias ou coleções que, de tão admiradas, é como se ela as devorasse em poucos dias. Para a estudante, além de os livros terem a ajudado a escrever melhor, representam um refúgio, lugar para onde vai quando quer esquecer os problemas.
“Não leio tantos livros de realidade justamente por isso. Quero sair dos problemas da vida normal, sair daquela hora em que tudo está ruim. E o livro me dá muita coisa em troca. Fico por ali horas, viajo para outro lugar. É diferente do cigarro, por exemplo, que para alguns também é uma forma de fuga, mas que traz doenças”, compara.
A leitura para a formação do indivíduo, comenta Madu Costa, é como água para matar a sede. Ela diz que busca a literatura na sala de aula como o primeiro passo para abrir a mente.
“Não é apenas o processo escolar, mas a formação humana, de uma forma mais holística. O cidadão que não lê não tem repertório, referências, argumentos, corre o risco de acreditar em tudo que escuta nas igrejas, nas campanhas políticas. Ele se torna uma pessoa limitada, fácil de ser dominada e manipulada”, alerta.
O DESPERTAR
Dicas para incentivar o hábito da leitura entre os adolescentes
1) Busque o prazer
Tratar a leitura como obrigação pode afastar e prejudicar tanto a vontade como o hábito de ler entre os jovens. A obrigatoriedade rouba o interesse da descoberta
2) Respeite o poder da escolha
Deixe que o adolescente encontre sua identidade literária. Identificar-se com determinados temas ou autores pode estimular ainda mais o hábito da leitura
3) Não se imponha
É preciso respeitar as preferências juvenis e não censurar ou impor o gosto pessoal aos novos leitores. Reconhecer o que dá prazer aos mais jovens é como os pais podem participar da ampliação do repertório dos filhos
4) Nem só de literatura vive um bom leitor
Muitas vezes, a paixão pela leitura não surge da literatura, e, sim, de gibis, revistas, livros ilustrados e outros formatos escritos. É importante que todas essas fontes façam parte do universo de leitores jovens e adolescentes, auxiliando-os a criar o gosto e o hábito de leitura
5) Dê o exemplo
Sair de sua zona de conforto e ler sobre temas e obras de autores que interessem ao adolescente são formas de incentivá-lo a se dedicar à leitura. Converse com ele sobre os livros que leu, incentive-o a criar ou entrar em clubes do livro, pessoalmente ou por meio das redes sociais, e mostre que ler é uma forma de lazer
6) Provoque a curiosidade
Oferecer o maior número de gêneros, formatos e autores é um modo de fomentar a curiosidade e o gosto pela leitura. Apresente aos jovens e adolescentes diferentes histórias, tomando por base livros que eles leram e dos quais gostaram, e converse também sobre livros com temáticas diferentes que despertem o interesse e a curiosidade
7) Tenha livros sempre à mão
Os livros são parte da rotina e da vida de um bom leitor. É indicado oferecer ao jovem um espaço de fácil acesso aos livros, onde ele possa ler qualquer material pelo qual se interesse, estando ou não numa biblioteca, em centros culturais e livrarias. Tenha uma estante em casa, um armário, uma escrivaninha
Fonte: Thais Marcondes, para o blog da editora Parábola Editorial