A obesidade é uma patologia caracterizada pelo aumento da massa corporal gorda. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS ), relativos a 2019, portanto antes da pandemia de COVID-19 uma a cada quatro pessoas de 18 anos ou mais no Brasil estavam obesas, cerca de 41 milhões de cidadãos. A condição de peso excessivo atingia 60,3% da população acima dos 18 anos, o que corresponde a 96 milhões de pessoas. Desse universo, 62,6% são mulheres e 57,5% são homens.
“É uma doença que se define como excesso de gordura corporal e na prática é estimada pelo excesso de peso em relação à altura. Tem vários fatores causais, que na maioria das vezes agem conjuntamente: pré-disposição genética, alimentação, medicamentos, além de motivos neuropsiquiátricos e comportamentais, como o sedentarismo, por exemplo. Entre os fatores alimentares, destacam-se maus hábitos, como a ingestão de alimentos de alto teor calórico”, explica Marcelo Eduardo Sproesser, nutrólogo do hospital HSAMP, unidade de saúde na Zona Norte da Grande São Paulo.
De acordo com o Ministério da Saúde, a obesidade teve crescimento de 72% em 13 anos no Brasil – de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019, e a frequência é igual entre homens e mu- lheres. A obesidade também está associada a doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, infarto do miocárdico, insuficiência cardíaca, acidentes vasculares cerebrais e varizes, alterações metabólicas como diabetes mellitus e dislipidemia, como doença hepática gordurosa. Outras implicações são risco de infecções, hérnias, distúrbios de vesícula biliar, disfunção sexual e distúrbios de ordem psiquiátrica e de interação social.
A prevenção da obesidade está baseada em estilo de vida mais saudável, e para combatê-la é indicado acompanhamento com nutricionista, nutrólogo ou endocrinologista. Além da reeducação alimentar, com a ingestão de alimentos saudáveis, como vegetais e carnes magras, em vez de produtos industrializados, como frituras e fast- food, e necessária a prática regular de atividades físicas. “Também é importante consultar um especialista precocemente para obter diagnóstico mais específico por meio de cálculo do índi- ce de massa corpórea, cintura abdominal e, se possível, bioimpedância corporal, avaliando então a eventual necessidade de medidas farmacológicas e iniciando acompanhamento para controle do peso e dos possíveis efeitos colaterais dessas medicações e de do- enças associadas", recomenda Marcelo Sproesser.
Contexto clínico
O tratamento sem nenhum tipo de medicamento, somente com reeducação alimentar e exercícios físicos, produz resultados em curto prazo, mas o índice da volta de ganho de peso é muito grande em cerca de 90% dos casos. “Cabe ao médico avaliar todo o contexto clínico e, juntamente com o paciente, a relação risco/benefício do uso de fármacos”, alerta o nutrólogo.
Marcelo Sproesser afirma que as dietas de moda não se mostram efetivas e frequentemente são prejudiciais. “As dietas Dash e do Mediterrâneo são exceções, mas sua aplicabilidade é pre- judicada pelo alto custo e difícil dis- ponibilidade na rotina de vida moderna”, completa o especialista.
"É importante consultar um especialista precocemente para obter diagnóstico por meio de cálculo do índice de massa corpórea, cintura abdominal e, se possível, bioimpedância”
Marcelo Eduardo Sproesser,
nutrólogo do Hospital HSAMP
A gestora de operações e psicóloga Marilane Rodrigues de Sá, de 34 anos, experimentou várias dietas restritivas com o objetivo de emagrecer, como dieta do chá, da USP, dukan, low carb, jejum intermitente, e tantas outras sobre as quais leu em revista e na internet. “Passei por nutricionista, que também indicou uma dieta já pronta e bem restritiva”, conta.
Nessas ocasiões, ela conseguia emagrecer, mas o problema surgia quando a dieta acabava e ocorria o que ela mais temia, logo ganhava alguns quilinhos a mais. “Costumo dizer que, tentando emagrecer, eu engordei ainda mais. Em todos esses anos de dietas restritivas, engordei mais de 30 quilos”, diz.
Ela sabe que, entre as razões que explicam esse resultado, as próprias dietas e o uso de remédios para emagrecer, eram gatilhos preponde- rantes. Marilane Sá não tomou apenas remédios prescritos por endocrinologistas, como usava su plementos emagrecedores por conta própria. “Só hoje percebo o quanto isso me fez mal, e, principalmente, remédios. Passava muito mal, mas na época o que importava era ficar ma- gra. Agora, procuro comer melhor, sem me preocupar com a estética. Gosto de frutas e legumes, que sempre incluo na minha alimentação”, diz a psicóloga.
Sustentável
Contra o excesso de peso, incluindo de maneira equilibrada todos os alimentos que o corpo e a mente precisam, a dieta passa a ser fácil de começar, colocar em prática e permanecer ao longo da vida, e isso significa comer e sentir-se melhor, o que em nada se aproxima de modismos ou restrições desnecessárias. A nutricionista Ruth Egg lembra que existem vários tipos de dieta, principalmente quando o objetivo principal é o emagrecimento. As que estão em maior evidência são, por exemplo, as do tipo low carb, jejum intermitente e a dieta paleolítica, entre uma lista enorme. Apesar de vários nomes e métodos diferentes, ela explica que todas funcionam da mesma forma, voltadas para o déficit calórico.
“Mas o emagrecimento sustentável não depende apenas disso. O acompanhamento nutricional é primordial, principalmente buscando um profissional que leve em consideração esses aspectos emocionais e os significados individuais que cada um traz em relação à comida”, pontua Ruth. A nutricionista acrescenta que dietas feitas por conta própria costumam ser restritas, e dessa forma podem ser nocivas. “Dependendo do caso, pode ser importante o acompanhamento conjunto com psicólogo e/ou psiquiatra”, indica.
ALERTA
41 milhões
É o número de brasileiros adultos obesos, segundo a OMS
96 milhões
Universo de brasileiros adultos que têm peso em excesso