Em tempos de pandemia, este é um trabalho que ganha um significado ainda mais especial. Auxiliados pelas equipes de saúde, os médicos enfrentam um vírus fatal e se desdobram para acolher e tratar o paciente. Não há horários, não há fronteiras para quem escolheu a difícil missão de salvar vidas, tornando-se exemplo e referência para jovens que seguem os rumos de pais e demais familiares. Lembrado nesta segunda-feira (18/10), o Dia do Médico tem um sentido importante. A dedicação desses profissionais enaltece o esforço de quem, ao final de cada jornada, honra o fazer que se reinventa a todo instante, mas não perde a essência.
O cirurgião plástico Pedro Bersan diz que aprende muito com o pai, o também cirurgião plástico Marzo Bersan, para ele um verdadeiro professor. Ser médico foi um caminho natural. Marzo nunca o pressionou para que seguisse a carreira. "A informação está acessível a todos, mas a experiência vem com o tempo, não está nos livros. A medicina me ensina sobre empatia. Aprendi com meu pai sobre a importância de se colocar no lugar do outro, ter atenção com o paciente, o rigor para garantir a segurança nos procedimentos. Podem dizer que a cirurgia plástica é uma futilidade. Mas interfere diretamente na autoestima, na melhor percepção sobre si mesmo e nas relações interpessoais", ressalta Pedro.
Aos 61 anos, Marzo trabalha no hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte, desde 1986, e já fez parte da equipe médica do centro de queimados da Fhemig. Há mais de 30 anos, também mantém consultório próprio, e conta com o filho na equipe há seis anos, tempo em que Pedro também se tornou companhia no hospital. Os dois atuam juntos nas intervenções cirúrgicas, discutem casos médicos e as melhores formas de conduzir os tratamentos em cada situação.
Para Marzo, o fato de o filho ter escolhido a profissão é motivo de orgulho. Ele diz que a interação é enriquecedora - união entre sua visão, mais antiga, e o que vem de novo de Pedro, de 34. "Transmito a experiência técnica e também sobre relacionamentos. Cuidar do paciente, aliviar sofrimentos, ter prazer no trato com as pessoas. A medicina é algo que nasce com a gente", afirma.
Ela cresceu no hospital mantido pelos pais em Mantena, no interior de Minas Gerais. Membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional Minas Gerais (SBEM-MG), presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes - Regional Minas Gerais (SBD-MG), e professora da Faculdade de Ciências Médicas, a endocrinologista Patrícia Fulgêncio, de 49, é de uma família de médicos.
A opção pela medicina nunca foi uma dúvida. De Antônio, cirurgião, e Heloísa, ginecologista, recebeu o exemplo de um trabalho árduo e contínuo, de dedicação, respeito, cuidado e carinho. Com 79 e 76 anos, respectivamente, os pais até hoje demonstram o amor pelo que fazem, e isso foi transmitido para toda a família. "Eles iam ao hospital durante a noite, passando de leito em leito para ver se tudo estava bem, e muitas vezes eu ia junto. Fui me apaixonando, nunca pensei em fazer outra coisa. Aprendi como a medicina é fundamental para melhorar a vida, ainda que não seja curar, mas aliviar a dor", diz. O irmão é cardiologista e a irmã oftalmologista. Patrícia já começa a perceber também o pendor da filha mais nova pela carreira médica.
Para o ortopedista e traumatologista Christiano Simões, de 41 anos, os encantos da profissão, que em sua opinião exige dedicação e vocação, passam principalmente pela possibilidade de resolver o problema do próximo, ser útil, perceber a gratidão das pessoas, poder ajudar em momentos difíceis. "Meu pai me ensinou a ser honesto, a não usar a medicina como finalidade, mas como meio. Meio para conquistar as coisas na vida. O primeiro objetivo é cuidar. Qualquer resultado financeiro é secundário, apenas uma consequência."
É assim que ele fala sobre o exemplo do pai, Roger Simões, que exerce a mesma especialidade na medicina. Christiano se lembra das ocasiões em que, ainda criança, passeava com o pai e encontrava pacientes o cumprimentando, agradecendo pelo tratamento. O que mais ouvia era "o senhor salvou minha vida". "Ficava orgulhoso, e isso me fez desejar trabalhar na mesma área. A medicina sempre foi para mim uma referência", conta.
Roger tem 74 anos e desde 1972 trabalha no hospital Felício Rocho, onde hoje também o filho atua. Na época de criança, lembra-se de que as maiores aspirações nas famílias é que se formassem médicos. Algo que foi intencionado pelos seus pais. Conta que sempre gostou da medicina, e logo seguiu o rumo. Hoje, o filho dá continuidade a essa história, e faz mais. "Há quase 50 anos, a medicina era muito artesanal. Hoje, meu filho está muito mais bem preparado", compara.
A esposa de Christiano, Pierina Formentini, de 35, também é ortopedista e traumatologista, especializada em ortopedia pediátrica. Conta que a interação com o marido é algo que acrescenta. "Discutimos as situações, falamos sobre as melhores condutas, orientamos um ao outro. Tranquilizar as famílias, transmitir a confiança de que tudo vai melhorar, acompanhar a evolução do paciente, é uma satisfação", conta a médica, que trabalha na Santa Casa de Belo Horizonte e no hospital São Lucas, no Santa Efigênia.
Agnaldo Lopes da Silva foi o primeiro morador de Caraí, no Norte de Minas, a se tornar médico, em 1958. Especializado em otorrinolaringologia, se formou em Belo Horizonte, pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Nos 25 anos em que viveu em Teófilo Otoni, organizou sua rotina entre o consultório, o hospital e a fazenda da família. Com a esposa, Maria Thereza Martins da Costa Lopes, teve cinco filhos. Depois de quatro mulheres, nasceu o filho caçula, Agnaldo, que herdou do pai, falecido, o nome e a profissão.
Com passagem por algumas especialidades médicas, Agnaldo Lopes da Silva Filho, de 48, hoje é presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). O ginecologista conta que não sabe precisar o momento exato em que decidiu cursar medicina. Desde criança, seus interesses apontaram a direção. O fato de ser filho do único otorrinolaringologista de uma cidade do interior lhe proporcionou uma experiência interessante que, certamente, contribuiu para a escolha, embora antes não tivesse consciência sobre isso.
"Naquela época, era costume o atendimento médico domiciliar e meu pai recebia pacientes em nossa casa ou os atendia em suas residências. Nesses atendimentos fora do consultório, frequentemente solicitava minha participação, quem sabe já intuindo a minha vocação e alimentando a chama", lembra.
Agnaldo diz que a carreira científica e acadêmica foi influenciada por mestres da vida e da profissão. O primeiro foi o pai, homem de caráter notável, honestidade e simplicidade, como relata, cujo exemplo foi sua maior ferramenta de ensino. "Talvez tenha sido o principal responsável pela minha carreira, já que sempre me ensinou que estudo e competência são importantes, mas o imprescindível é o caráter. Para meu pai, o mais importante não era ser bem-sucedido, mas ser um homem de valor", lembra. Da mãe, ainda garoto se recorda de ouvir que a medicina é um sacerdócio.
Com a também médica Rívia Lamaita, de 49, teve os filhos Teresa e Bernardo. Os dois pretendem seguir a carreira médica. "Interesso-me pela oncologia. Isso veio dos meus pais. Sempre escutei os dois conversando sobre a medicina e me passaram o amor pela profissão. Ensinaram-me a ir atrás do que eu quero", conta Teresa.
Agnaldo diz que o aprendizado é diário, muito pelo contato com os pacientes que tem a oportunidade de auxiliar. "Aprendo com as vitórias e também com os erros e fracassos. Quando se lida com vidas humanas, todas as decisões envolvem riscos. O exercício da medicina exige que sejamos capazes de enfrentar esses riscos e de tomar decisões por vezes muito difíceis." Para Agnaldo, a noção mais importante sobre a relação médico-paciente é a da confiança."A pessoa se entrega a você."