Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Gordofobia: quando o padrão que importa é o da sua saúde

Cada pessoa tem um peso com diversos fatores influenciando, descubra qual é o mais saudável para você (foto: to: AllGo - An App For Plus Size People/Unsplash. P)

Que bom seria se as pessoas não julgassem umas às outras. Infelizmente, a realidade é outra. Aparência física, roupas, atitude e tom da voz formam a primeira impressão, antes mesmo de começar uma conversa, e está amalgamada ao padrão mais forte e determinante de uma sociedade, de um tempo.





O julgamento ocorre até de forma inconsciente. A aparência é vista como cartão de visitas e, no século 21, o gordo ainda é vítima de preconceito por causa do peso e da forma física.

Ainda que muitos desafiem e lutem diariamente contra um modelo estético preestabelecido considerado “ideal”, sem respeitar as diferenças e mesmo sabendo que há percepções distintas do que é belo ou não, o preconceito existe e está presente no dia a dia de milhões de pessoas gordas.

O julgamento, que é pessoal, subjetivo e que varia para cada pessoa de acordo com a cultura, países e momentos históricos, sobrevive na atual sociedade e o gordo na maioria das vezes é sacrificado e criticado.

Cada um, preservando a saúde e não sendo caso de doença, tem o direito de ter o corpo que se identifica e sente-se bem. Por que a gordofobia ainda é uma questão? Ela faz muitos sofrerem diante de mais um preconceito criado pela sociedade. A discriminação é geral e sobrecarrega todos os gordos, mais ainda a vida de quem lida com a obesidade, que é uma doença.

O obeso é portador de uma doença que envolve alterações genéticas, fisiológicas e metabólicas que podem levá-lo a ficar fora do peso, mesmo tendo hábitos alimentares não tão alterados, ou seja, sem ser um glutão.



Cid Pitombo, médico-cirurgião, especialista em cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, explica que o obeso é portador de uma doença que envolve alterações genéticas, fisiológicas e metabólicas que podem levá-lo a ficar fora do peso, mesmo tendo hábitos alimentares não alterados (foto: Arquivo Pessoal)
“O chamado 'gordo', que não consegue controlar seu hábito alimentar, pode apresentar também distúrbios psicossociais que devem ser investigados e tratados”, alerta Cid Pitombo, médico-cirurgião, especialista em cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, que há pouco tempo criou uma campanha contra a gordofobia com a hahstag #gordofobianãoépiada.

“A proposta é tentar levantar uma voz de entendimento. Para que as pessoas tenham a percepção de como todos somos importantes em ajudar o obeso e não degradar mais ainda a condição de doença que ele tem. Ao encararmos o obeso sem preconceito, todos ajudaremos em muito o combate dessa terrível doença. Soubemos de relatos preconceituosos na campanha de vacinação da COVID-19 e resolvi fazer mais essa mobilização”, explica o médico. As menções ao termo gordofobia nas redes sociais cresceram 400% desde o início de maio, quando começou a vacinação.


DIFICULDADES 


As consequências da gordofobia são sérias e graves. Cid Pitombo alerta que o obeso, principalmente o portador de obesidade mórbida, já enfrenta no dia a dia diversas dificuldades para conviver com o próprio corpo. Hábitos simples e diários de quem não é obeso se tornam de extrema dificuldade, como fazer a higiene pessoal, colocar um sapato, escolher uma roupa, pegar o transporte público.







E se somarmos a isso o preconceito, o olhar diferente para essas pessoas, será aprofundada ainda mais a dificuldade do obeso de enfrentar a doença. “O dano psicológico associado é silencioso, mas não é incomum que obesos, percebendo a rejeição dos olhares e comportamentos de reprovação, desistam de se tratar. E até cometam suicídio.”

Por isso, é fundamental enfrentar, coibir e se educar para banir esse preconceito da sociedade. Para tanto, Cid Pitombo afirma que a maneira de começar é entendendo que ele não está obeso porque quer, porque é preguiçoso, desleixado. Ele está obeso porque tem uma doença, que facilita a absorção de calorias e dificulta a queima, acumulando em gordura. “Hoje, não temos preconceito com o deficiente visual, o auditivo, não são mais objetos de piadas e preconceitos porque compreendemos que é uma condição que não depende dele, e que não o muda como pessoa, como ser humano.”

Cid Pitombo lembra que, com o advento das redes sociais, acrescentou-se um problema a mais para a vida do gordo, ainda que seja via de mão dupla e também seja uma ferramenta para combater a gordofobia. “O culto ao superficial está degradando a sociedade.



A ideia de riqueza, corpo perfeito, mudanças físicas com cirurgias e procedimentos cobrou uma conta impagável para o portador da doença obesidade: a do corpo perfeito para ser aceito na sociedade. Como que alguém com falhas metabólicas, genéticas e sociais pode se engajar na ideia da perfeição? Deveríamos explicar mais, falar mais de que não somos iguais, portanto, não podemos sempre achar que seremos o que vemos.”

DOENÇAS GRAVES


Cid Pitombo alerta que quem acha que é portador de obesidade, independentemente de estar de bem com a vida e com o corpo, deve sempre buscar o monitoramento da saúde por médicos especializados. A obesidade, estatisticamente, aumenta a incidência de dezenas de doenças graves que, muitas das vezes, são silenciosas e aparecem com a idade mais avançada.

Muitos obesos chegam a um ponto que precisam ou decidem por uma intervenção cirúrgica. Especialista em cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, o médico explica que, primeiramente, só devem ser operados portadores de obesidade mórbida. Para fazer esse diagnóstico, inicial o indivíduo deve pegar seu peso e dividir pela sua altura ao quadrado, para calcular o chamado índice de massa corporal (IMC).



Caso esteja acima de 35 e tenha doenças associadas, pode ser que seja um candidato. A decisão final só é dada depois de uma ampla avaliação médica, exames, avaliação nutricional e psicológica. Procurar um bom profissional é o mais importante, destaca Cid Pitombo.

A saúde é o bem mais precioso para o ser humano, ainda que muitos não cuidem bem dela. É preciso estar em alerta sempre, já que muitas vezes uma pessoa magra e dentro do “padrão” da atual sociedade não é tão saudável nem está com o quadro clínico em dia quanto um gordo.

“Estatisticamente, estar magro, ou seja, dentro da faixa de peso dita normal, diminui a chance de ter doenças, mas isso pode ser uma falsa realidade. Pessoas magras também devem ser avaliadas de acordo com sua faixa etária, dentro dos padrões de exames normais.”


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