O que muita gente não sabe é que os dentistas estão presentes nos hospitais, onde exercem um importante papel no cuidado multidisciplinar. Em 2020, o serviço de Odontologia Hospitalar da Santa Casa BH realizou 5.845 atendimentos, e uma das diversas áreas onde o dentista atua é na oncologia.
O paciente da Santa Casa BH, Giovanni de Oliveira, de 54 anos, descobriu um câncer em abril de 2019, na glândula parótida direita. Foi feita cirurgia em maio de 2019 para a remoção do caroço, e depois de 18 meses, ocorreu uma lesão no nervo facial direito.
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Em julho de 2021, foi feita nova cirurgia para remover a lesão, com duração de nove horas. Giovanni conta que após a remoção, foi então necessária radioterapia e quimioterapia. “A radioterapia foi indicada por 33 sessões. Começou no dia 31 de agosto e terminou no dia 29 de outubro. Também estou fazendo quimioterapia. São seis ciclos, sendo um por mês, e a cada ciclo, fico internado por cinco dias.”
A cirurgia era de grande complexidade, e Giovanni conta que foi informado sobre os efeitos colaterais. “Disseram que na radioterapia, poderiam ocorrer inflamações na boca e garganta, as chamadas mucosites. Elas prejudicam e causam um grande desconforto para se alimentar. Foi isso que ocorreu.”
Giovanni então passou a encontrar a dentista da Santa Casa BH, Luiza Fonseca, que já o acompanhava desde o começo, e iniciou uma terapia focada na saúde bucal.
Tratamento odontológico
De acordo com Luiza Fonseca, Giovanni fez uma avaliação clínica e radiográfica da sua boca para identificar e tratar toda e qualquer infecção logo antes do início do tratamento por radio e quimioterapia.
“É necessário remover todo processo infeccioso que possa piorar durante o período de baixa imunológica do paciente e levá-lo a desenvolver uma infecção sistêmica. Vale lembrar que esses procedimentos devem ser realizados rapidamente, pois sempre há pressa em iniciar a quimio ou radioterapia.”
A cirurgiã dentista explica que as manifestações orais do tratamento do câncer se instalam sucessivamente em cadeia, uma em consequência e agravamento da outra. “Isso porque o mecanismo de ação citotóxica das drogas confere de maneira indistinta a paralisação do crescimento celular, ou a morte de células normais e neoplásicas.”
Ela também ressalta que tmores na região da cabeça e pescoço, como no caso do paciente Giovanni, que foi tratado com quimioterapia e radioterapia de forma simultânea, provocam mucosite oral em 100% dos casos. “O paciente então foi acompanhado semanalmente para orientar com atitudes clínicas simples como higiene bucal, controle do biofilme oral, uso de colutórios específicos, que podem impedir ou melhorar as manifestações secundárias na boca provocadas pelo tratamento do câncer”, explica a especialista.
Além disso e do uso de medicações, foi realizada laserterapia, processo que auxilia na prevenção de infecções, e no caso de Giovanni, quando a mucosite se instala e se apresenta de forma mais branda.
Giovanni afirma que o tratamento permitiu que ele se alimentasse, mesmo que de forma líquida e pastosa. “Isso ajudou-o a manter o peso e a nutrição, para dar continuidade ao tratamento.” Após finalizar as sessões de radioterapia e receber alta no tratamento das mucosites, Giovanni diz que o acompanhamento odontológico ainda é necessário: “A Luiza vai continuar a me acompanhar na quimioterapia, até o final do tratamento.”
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.