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Estado de Minas SAÚDE

Pandemia do diabetes: quase 650 milhões de pessoas terão a doença até 2030

Diabéticos podem chegar a 784 milhões no mundo em 2045, estima Federação Internacional de Diabetes. Dados são de atlas divulgados pela entidade


09/11/2021 14:52 - atualizado 09/11/2021 15:16

Exame de glicemia
Péssimas escolhas alimentares que o mundo está fazendo são um gatilho importante para o desenvolvimento da doença, principalmente considerando o estilo de vida ocidental, segundo a endocrinologista Rosane Kupfer (foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Levantamento da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), para o Atlas do Diabetes, que acaba de ser divulgado, mostra que 537 milhões de adultos, entre 20 e 79 anos, vivem com a doença em todo o mundo. Com aumento de 16% nos casos de diabetes entre 2019 e 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera a situação uma pandemia. A previsão é que o número total de pessoas com diabetes aumente para 643 milhões até 2030 e, até 2045, esse número deve subir para 783 milhões.

Ainda de acordo com o estudo, por ser uma doença silenciosa, 44,7% dos adultos não sabem que têm o problema. E se engana quem pensa que é uma doença crônica simples - apenas em 2021, respondeu por 6,7 milhões de mortes em todo o mundo. A edição 2021 do Atlas do Diabetes, a décima, será publicada em 6 de dezembro.

Especialistas consideram os dados alarmantes. Cada vez mais, doenças crônicas incidem em adultos jovens e isso inclui, por exemplo, a pré-diabetes, que é um dos principais males em pacientes com obesidade. No ranking mundial, o Brasil ocupa a quinta colocação em termos de pessoas com diabetes, depois da China, Índia, dos Estados Unidos e do Paquistão - até 2019, eram 16,8 milhões de brasileiros com o problema. A doença é mais prevalente nas mulheres do que nos homens.

O levantamento, feito a cada dois anos, revela que o número de pessoas com diabetes aumentou de tal maneira que superou, proporcionalmente, a expansão da população global. A presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes - Regional do Rio de Janeiro (SBD-RJ), a endocrinologista Rosane Kupfer, diz que a diabetes está em evolução crescente "e não foi contida, até agora, por nenhuma tomada de ação, de decisão, em relação à doença".

Para a médica, isso significa que continua havendo falta de divulgação, de informação, de acesso ao conhecimento, ao diagnóstico e a um tratamento de qualidade. Rosane ressalta que, além da COVID-19, outras doenças têm matado muito em todo o mundo. Uma delas é a diabetes. A proporção de pessoas com o desequilíbrio, que era de uma a cada 11, caiu agora para uma a cada dez pessoas, lembra a presidente da SBD-RJ. "E grande parte delas está em países de baixa renda". O Atlas do Diabetes indica que 81% dos adultos com a doença vivem em países em desenvolvimento. Na América Latina e na América Central, estima-se que o número de diabéticos alcance 32 milhões.

O endocrinologista do Hospital Vila da Serra, em Belo Horizonte, Frederico Rodrigues Anselmo, elucida que as informações sobre a diabetes normalmente se tratam do tipo 2, o mais recorrente. Esse tipo se associa basicamente ao que o médico chama de outra pandemia relacionada, a do excesso de peso, além de fatores genéticos. As características hereditárias, lembra o endocrinologista, não podem ser controladas, mas a obesidade sim. Hábitos alimentares saudáveis e prática regular de atividades físicas são medidas preventivas cruciais, diz Frederico.

"A diabetes é uma doença que começa lentamente e geralmente os sintomas são imperceptíveis. Em média, quando a pessoa tem o diagnóstico, já apresenta o problema há cinco anos. O peso é possível controlar, mas quando o fator de risco é a genética, é importante fazer acompanhamento médico anualmente, com exames de glicemia em jejum, para ver se alguma coisa saiu do controle", ensina o endocrinologista.

A diabetes, continua o médico, está muito ligada a problemas do coração, como infarto, insuficiência cardíaca, e também pode atacar os rins. Além das questões cardiovasculares, principal causa de mortalidade para a doença, entre outras complicações de uma diabetes mal controlada estão problemas na retina (podendo levar até mesmo à cegueira), problemas arteriais nos membros inferiores, com ocorrência de amputações, e neuropatias. A diabetes não tem cura, e daí a importância do diagnóstico precoce. Pode parecer, mas não é uma doença tão inofensiva assim. "Por tudo isso é tão importante chamar a atenção da população sobre a diabetes", complementa Frederico.

No próximo domingo (14/11), será o Dia Mundial do Diabetes. Segundo Rosane Kupfer, as péssimas escolhas alimentares que o mundo está fazendo são um gatilho importante, principalmente considerando o estilo de vida ocidental. O que se vê é a obesidade em curva crescente, muitas pessoas com sobrepeso e pré-diabetes, uma categoria de altíssimo risco para manifestar a diabetes, ela alerta.

Pessoas que não têm nenhum fator de risco devem fazer uma glicemia anual após os 45 anos. "Tem que fazer exame de sangue porque diabetes é uma doença que não apresenta sintomas, pelo menos no início. Isso não quer dizer que ela não esteja fazendo mal por dentro (do organismo)". As pessoas que fazem exames de rotina todo ano percebem quando ocorre aumento da glicose e se preocupam, salienta. O problema, diz Rosane, são as pessoas que não se cuidam, não fazem exame para verificar se são diabéticas. Indivíduos com alto risco para diabetes, que têm casos da doença na família, que são hipertensos, que têm sobrepeso ou obesidade, e mulheres que tiveram diabetes na gestação devem fazer exame anual acima dos 35 anos.

De acordo com a IDF, a doença provocou um gasto mundial com saúde de US$ 966 bilhões, alta de 316% nos últimos 15 anos. O último Atlas da entidade mostra que o Brasil gasta em torno de US$ 52,3 bilhões por ano no tratamento de adultos de 20 a 79 anos, o que resulta em cerca de US$ 3 mil por pessoa.

* Com informações da Agência Brasil


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