Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Cabelo branco está na moda, mas precisa de alguns cuidados



Brancura capilar é sinônimo de velhice? Nada disso. Em pleno 2021, ser e se permitir ser quem se é e se quer ser é mais do que moda e tendência, é resistência e liberdade. Porém, o processo de transição capilar, abandonando as tinturas e químicas, não é nada fácil.



“É uma espécie de grito de liberdade contra os padrões de beleza preestabelecidos pela sociedade. Além disso, o ato simboliza o reencontro com a identidade original. É preciso enfrentar e vencer a opinião de muitas pessoas”, afirma a médica tricologista Luciana Passoni.

E a transição capilar não é um período fácil de vivenciar, seja a aceitação dos fios crespos, cacheados ou brancos. “Mas, o resultado é totalmente recompensador. Não tem certo ou errado, apenas o que é certo para cada uma”, comenta.

Segundo a especialista, os cabelos brancos, nos últimos anos, transpuseram o sentimento de liberdade, isso porque os fios brancos são como toques de elegância: as madeixas brancas aparecem como referência de estilo e personalidade. Mas, como dito por ela, o processo não é nada fácil. Para além de precisar libertar-se do vício de ouvir e absorver a opinião alheia, é preciso cuidados, afinal, saúde capilar é importantíssimo. “Adotar o cabelo grisalho liberta da necessidade de usar coloração, mas isso não significa que não é preciso adotar cuidados.”




 


Pelo menos uma vez por mês, conforme orienta a médica tricologista, é necessário conferir a saúde dos fios, fazer hidratação, cortar as pontas, neutralizar a cor, entre outros cuidados. O acompanhamento com um profissional é importante para manter o cabelo branco saudável, moderno e bonito, mesmo sem mudanças na cor. “Vale investir em xampus, condicionadores e cremes hidratantes específicos para os cabelos brancos, conhecidos pela tonalidade roxa. Eles eliminam a aparência amarelada dos fios, mantendo as madeixas grisalhas uniformes e com aspecto mais nutrido.”

Além disso, produtos de hidratação à base de queratina, como queratinização e cauterização, podem ser grandes aliados na busca por cabelos grisalhos com aparência saudável. Aurea Ribeiro Passos Calado, de 53 anos, sabe bem disso. A aposentada cuida muito bem dos fios desde que optou por assumir os brancos. Isso porque ela reconhece a necessidade de priorizar a saúde, tanto que a decisão por abandonar as tinturas foi pautada, também, em saúde. “Eu sou muito alérgica. Então, quando pintava o cabelo tinha que tomar um antialérgico no dia bem cedo, porque assim que pintava ele começava a coçar muito”, conta.

“Meu marido relatava que eu coçava muito a cabeça ao longo da madrugada e dava um tanto de carocinho. Um tempo atrás, um alergista me falou que não era aconselhável fazer isso, sabendo que eu tinha alergia ao produto e fazia uso de medicamento. Ele me aconselhou a mudar a tinta, e passei a usar tonalizante. E isso começou a mexer um pouco comigo. Nunca cheguei a cogitar deixar o cabelo branco, mas em janeiro deste ano veio a ideia e, por estarmos em casa pela pandemia, fui deixando aos poucos.”





Aurea Ribeiro relata que, no auge da pandemia, parou para pensar melhor sobre a ideia, porque, conforme relato, não fazia sentido ela, que sempre prezou tanto pela saúde e bem-estar, continuar se “machucando” somente em nome do que era estético aos olhos dos outros. “Pintei o cabelo por 20 anos”, conta. Hoje, para manter os fios saudáveis mesmo longe da alergia e da tintura, Aurea usa cosméticos específicos para seu tipo de cabelo e sempre dá uma reparação com cortes e hidratações.


Melanina


O que causa a brancura capilar é a perda de melanina, o que requer ainda mais cuidados, pois há influência também no aspecto dos fios. “Os fios ficam brancos com o tempo em razão da falta de melanina, pigmento responsável pela coloração, e é parte do processo natural de envelhecimento. Não existe uma faixa etária que determine o início do aparecimento da canície, nome científico para os cabelos brancos”, afirma Luciana Passoni.

Isso porque algumas pessoas mais jovens podem apresentá-la devido a fatores genéticos, estresse, doenças e medicamentos, que podem acelerar o aparecimento de cabelos brancos. Acredita-se comumente que, aos 50 anos, 50% dos cabelos em 50% das pessoas são grisalhos.





E, em razão dessa redução da melanina natural do cabelo, os fios ficam mais sensíveis e quebradiços, conforme a farmacêutica Aline Sampaio, CEO e P&D da Personalize Nutrition e da Personalize Pharma. “Justamente por isso, é importante escolher xampus e condicionadores sem ingredientes químicos muito fortes – quanto mais natural melhor. Prefira composições veganas, low poo e sem sal. Não lavar os cabelos todos os dias e apostar nas fórmulas de nutrição e hidratação também são ótimas opções. Aposte, também, na proteção térmica.”

A tricologista Luciana Passoni recomenda criar um cronograma capilar para o cabelo grisalho e redobrar os cuidados em épocas mais quentes, como no verão. “É bom investir no uso de leave-in com protetor solar e UV. Isso é indispensável em todas as épocas do ano, intensificando, claro, nos momentos mais quentes. Além disso, para manter o cabelo branco saudável e com brilho, use a alimentação como aliada e beba muita água. No chuveiro, use água morna para fria. E lembre-se: intensificar a hidratação é sempre necessário, mas sem exageros.”

O processo


“Seja persistente”, comenta Aline Sampaio. O processo de branquear ou assumir os brancos não é nada fácil. “Quando veio a ideia, senti um pouco de medo de ficar feia, saber que o processo seria longo e seria visto como desleixo. Então tive críticas, pessoas muito queridas falavam que eu estava nova e iria ficar com cara de velha e não seria bacana. Outros apostaram que eu não conseguiria, e isso até me incentivou a ir além. A vontade só ficou mais forte e mais latente dentro de mim”, conta Aurea Ribeiro.




 
Mentora de desenvolvimento humano, Mariana Nahas diz que assumir os cabelos brancos é um ato de resistência e liberdade (foto: Arquivo pessoal )
 
 
“Mas, ao mesmo tempo, recebi muito apoio. Meu marido, os dois filhos e as duas noras. Quando me deu vontade, e senti que estava mais forte a vontade de deixar os meus cabelos brancos, conversei com eles e de cara me apoiaram.”

Esse medo que Aurea sentiu é supernormal, uma vez que, conforme a mentora de desenvolvimento humano Mariana Nahas, os padrões do inconsciente coletivo ainda associam cabelos brancos a mulheres idosas, com pouca vaidade, desleixadas, pouco produtivas e pouco atraentes. “Porém, este cenário está mudando bem rapidamente com a presença de mulheres lindas, maduras e incrivelmente criativas e produtivas se destacando no mercado de trabalho e assumindo a maturidade dos fios platinados nas redes sociais e por meio de campanhas publicitárias.”

“Assumir os cabelos brancos é um ato de resistência e liberdade que exige coragem para bancar uma beleza e uma autenticidade que não vêm do senso comum. Passar por esse processo e reconhecer essa soberania pode ser uma atitude extremamente libertadora e empoderadora para que a mulher assuma a autorresponsabilidade pela sua felicidade, sua autoestima e beleza”, completa.





E ainda que o medo persista, ela indica: “Busque estar perto de pessoas que te incentivem, te encorajem e divirta-se no processo. Pense nesse processo como uma experimentação que você pode mudar de ideia a qualquer momento se sentir vontade. Busque ajuda profissional e lembre-se de que muito mais do que apenas se ver livre da escravidão da tintura mensal, você está se libertando de padrões estéticos, sociais e comportamentais de centenas de anos. Isso é muito poderoso”. *Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram


Sinta-se bem com você


Críticas e autocríticas... é muito comum que, ao escolher deixar os fios assumirem a sua cor natural, muitas pessoas sofram com a opinião do outro ou mesmo pelo autojulgamento acerca do que os outros pensam. Confira dicas:

» Não se atenha a modismos. Escute seu coração e sinta como você deseja estar quando se olhar no espelho todos os dias

» Lembre-se: a beleza está nos olhos de quem vê! Portanto, não espere que a autoestima venha depois desse processo. Trabalhe a sua autoestima antes, pois será ela que sustentará seu processo com amor e autocompaixão

» Atravesse o processo de transição com leveza e autoacolhimento

» Se for pra ser pesado, não faça! Isso é pra libertar e não aprisionar você na insegurança e no sentimento de inadequação

Fonte: Mariana Nahas, mentora de desenvolvimento humano

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