Jornal Estado de Minas

Saúde

Superativação de neurônios sensoriais inibe crescimento de tumores



Uma das quatro principais causas de morte na maioria dos países, o câncer é considerado o principal problema de saúde pública no mundo todo, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCa). E entre os diversos tipos existentes, o melanoma é considerado o câncer de pele mais agressivo.





 

O grupo de pesquisadores, liderado pelo professor Alexander Birbair, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, publicou um artigo nesta semana, na revista Acta Neuropahologica Communications, revelando uma estratégia capaz de reduzir a progressão do melanoma através da manipulação do sistema nervoso.

 

Os nervos sensoriais, responsáveis pelas funções involuntárias do nosso corpo, como respiração e batimentos cardíacos, também se infiltram nos tumores cancerígenos, integrando o microambiente tumoral. Essa descoberta recente, também liderada pelo grupo, levou a uma nova indagação: será que atividade neural pode controlar a progressão do câncer no organismo?

 

Na busca de respostas, a equipe, composta por pesquisadores do Hospital Sírio-Libanês, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), Universidade Federal de Goiás (UFG) e colaboradores internacionais, utilizou a quimiogenética para estudar a biologia do câncer. A técnica, desenvolvida por neurocientistas, permite modificação temporária da atividade dos neurônios, para estudo dos circuitos neurais no cérebro.

 

“Realizamos transplantes de células de câncer em camundongos transgênicos com nervos sensoriais demarcados com fluorescência vermelha para detectar a presença das fibras do sistema nervoso no microambiente tumoral do melanoma. Em seguida, utilizamos a quimiogenética para bloquear ou superestimular a atividade dos neurônios sensoriais dentro dos tumores”, explica Alexander.





 

O uso da quimiogenética para regular a atividade neuronal no microambiente tumoral demonstrou que a inibição dos neurônios sensoriais aumenta o tumor e os vasos sanguíneos dentro dele (à esquerda). O aumento da atividade neuronal, por sua vez, provocou uma redução do tamanho do tumor (à direita) (foto: ALEXANDER/DIVULGAÇÂO)
 

 

O que surpreendeu o grupo foi que, ao inibir a atividade de neurônios sensoriais, os tumores cresceram mais. Mas o contrário, com a superativação dos neurônios sensoriais o crescimento do tumor foi inibido. A massa tumoral é formada por células malignas (que cresceram e se dividiram descontroladamente por causa de transformações sofridas no seu material genético), mas também por outros componentes que em conjunto se denominam microambiente tumoral.

 

Esse microambiente é composto pelas células do sistema imunológico, como linfócitos, neutrófilos, macrófagos, células dentríticas e outras, por outros tipos de células e por nervos sensoriais, que infiltram o tumor como descoberto neste estudo da UFMG. E, segundo Birbair, esses componentes não são inertes. Alguns podem estimular o crescimento das células do câncer, enquanto outros, como os nervos sensoriais, podem bloquear seu crescimento.

 

“A superestimulação desses neurônios também induziu a diminuição de vasos sanguíneos nos tumores, o que ajudou na inibição do crescimento destes. Além disso, gerou uma melhora da resposta imune anti-tumoral, elevando o número de linfócitos anti-tumorais que se infiltram no tumor, ao mesmo tempo em que se observou a redução das células imunossupressoras”, completa o professor.





 

Os resultados do estudo jogam luz sobre a importância de se conhecer o microambiente tumoral e a necessidade de se preservar os nervos sensoriais em pacientes que fazem tratamentos quimioterápicos para combater o câncer.

 

Sabe-se que vários tratamentos quimioterápicos, que são muito tóxicos aos pacientes, podem, além de tentar matar as células malignas, afetar os nervos sensoriais.

 

"Infelizmente, os atuais tratamentos de quimioterapia são muito tóxicos, pois, além das células cancerígenas, matam também as células saudáveis do organismo, especialmente do sangue e da pele. Usar os neurônios como alvo pode representar uma alternativa menos invasiva e tóxica no futuro em combinação com os tratamentos atuais contra o câncer", conclui Birbrair.

 

Os autores vislumbram que a descoberta possa ajudar a criar mecanismos mais eficientes e específicos no tratamento de outros tipos de câncer, como de mama, próstata e pulmão. Os resultados da pesquisa mostram a importância da preservação dos nervos sensoriais em pessoas que estão com câncer.

 

A pesquisa tenta mostrar uma alternativa de atacar as células do câncer, mas também controlar o microambiente, de tal forma que as células parem de crescer. 

 

Este estudo foi desenvolvido nos últimos três anos com a ajuda e colaboração de vários outros grupos do Brasil e do exterior, sendo financiado pelo Instituto Serrapilheira. 

 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.  





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