A Anvisa liberou a venda da melatonina como suplemento alimentar – sem prescrição médica. Conhecida como “hormônio do sono”, a substância tem como função promover o relaxamento e auxiliar na modulação do ciclo sono-vigília, popularmente conhecido como “relógio biológico”.
Naturalmente, a melatonina é um hormônio liberado no cérebro pela glândula pineal, quando a intensidade de luz natural diminui com o anoitecer. À medida que a luminosidade aumenta, com o amanhecer, a produção é diminuída para que a pessoa possa despertar. Consequentemente, uma produção deficiente desse hormônio pode desregular o ciclo circadiano, levando a problemas do sono.
“Mas vale lembrar que nem todo distúrbio do sono é insônia. Existem diferentes distúrbios provocados por diferentes causas. Para quem sofre de insônia de começo do ciclo – quando a pessoa tem dificuldade de pegar no sono – uma dose da melatonina pode ajudar, porque ela vai aumentar o pico dessa substância no sangue e facilitar o entendimento do cérebro que está na hora de dormir”, ressalta Fidel Castro, neurologista cooperado da Unimed-BH.
O especialista explica a importância do acompanhamento e da indicação médica, pois cada distúrbio requer um tratamento específico e a melatonina não é indicada para todos os casos. Fidel enfatiza que o uso da versão sintética a longo prazo não foi estudado ainda, e ela possui alguns efeitos colaterais.
“Problemas gastrointestinais, transtornos de humor, pesadelos são alguns efeitos que a melatonina pode causar. Diante disso, a substância precisa ser usada com cautela e acompanhamento, não podemos deixar esses sintomas colaterais como algo corriqueiro”, conclui.
O médico recomenda usar a melatonina algumas horas antes de dormir, visto que o objetivo dela é promover e facilitar a indução do sono. Fidel conta que a eficácia da melatonina foi demonstrada em pessoas que tem dificuldade para iniciar o sono, para aqueles que sofrem da insônia da manutenção – quando o despertar acontece no meio da noite – a substância vai ter pouco eficácia.
Assim como Fidel Castro, Gustavo Protti, também neurologista, salienta que o consumo inadequado dessa versão pode levar ao excesso e causar efeitos colaterais inconvenientes, como sonolência excessiva, cefaleia, náusea, tontura, irritabilidade e desconforto abdominal.
“Trabalhadores noturnos, que precisam dormir durante o dia, pessoas que viajam muito e enfrentam diferenças de fuso-horário com frequência ou idosos, que podem naturalmente produzir menor quantidade de melatonina, são exemplos de casos que podem se beneficiar da suplementação com a versão sintética, para manterem um sono restaurador”, expõe Gustavo.
Por isso, embora a Anvisa tenha liberado o uso da melatonina como suplemento alimentar e não como medicamento, ou seja, não com a finalidade de tratar, prevenir ou curar doenças, mas sim para repor substâncias bioativas em complemento à alimentação, o seu uso não deve ser indiscriminado, porque pode acarretar malefícios à saúde. Pessoas com problemas de sono devem, em primeiro lugar, procurar ajuda médica.