A Ivermectina é um antiparasitário que foi incluído no “Kit Covid” sem comprovação científica da sua eficácia contra o vírus. O uso indiscriminado desse medicamento pode ter sido o motivo do surto da escabiose, mais conhecida como sarna humana, que se alastra na Região Metropolitana do Recife (RMR) e teve registro de caso em um bebê de dois meses, no litoral de São Paulo.
Leia Mais
COVID-19: 88% dos vacinados no Brasil pretendem tomar a terceira dose Índia deixa de usar hidroxicloroquina e ivermectina para tratar COVID-19Estudo: hidroxicloroquina é novamente descartada para tratar a COVID-19Nutrição influencia na recuperação da saúde de hospitalizados com COVID-19 Herpes zóster: conheça sintomas, sequelas e prevenção Bactéria 'comum', H. pylori pode levar a gastrite, úlcera e câncer gástrico“Falar que a Ivermectina tem eficácia contra o vírus da COVID-19 em seres humanos é um argumento que vai contra a ciência. A ivermectina, assim como a cloroquina, possuem um mecanismo que em laboratório, nos tubos de ensaio, deveria inibir a proliferação do vírus, mas não importa que o mecanismo é plausível, não importa que funcione em tubos de ensaio, o que importa é que foi testado em humanos e comprovado sua ineficácia no combate à COVI-19. Argumentar por mecanismos e não por resultados é anticientífico” ressalta o urologista José Carlos Souto.
Assim como o médico, outros estudos e profissionais destacam a ineficácia do antiparasitário e que seu uso em excesso pode trazer consequências devastadoras. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), publicado no dia 15 de agosto deste ano, evidenciou que o abuso desse remédio pode ter desenvolvido a superresistência do Sacorptes scabiei, ácaro responsável pela doença.
Espalhados em Olinda, Jaboatão, São Lourenço, Camaragibe, Paulista e Recife, os pacientes se queixam de uma intensa coceira intensa que evolui para feridas e escoriações na pele. Esses ferimentos podem ser penetrados por bactérias e desencadear infecções secundárias, podendo ser leves, moderadas ou muito graves.
E não é somente no Nordeste que os casos estão tomando proporções preocupantes, no litoral de São Paulo também está tendo vários relatos da escabiose, dos quais um bebê de 2 meses chegou a ser internado devido à gravidade da contaminação.
A dermatologista Soraya Neves, cooperada da Unimed-BH, salienta que comprovado ou não a relação entre os surtos e o uso indiscriminado da ivermectina, a doença pode causar aumento da mortalidade em crianças – devido às infecções secundárias – além dos riscos à saúde da população em geral.
Além do aumento da dosagem e uso repetitivo da Ivermectina, condições climáticas e socioeconômicas também podem ter contribuído para a evolução do parasita. Por se tratar de uma condição extremamente contagiosa, é essencial ficar atento aos hábitos de higiene, as pessoas que moram no mesmo domicílio ou as pessoas com quem se convive.
“Não adianta nada tratar só o doente em si e não tratar a comunidade em que se vive, ou as pessoas com quem se convive. Também não adianta fazer o tratamento, tomar remédios, usar pomadas, e não mudar os hábitos de higiene”, explica a médica.
Para prevenir a escabiose, é necessário lavar as roupas, passá-las, tomar banho diariamente, trocar e higienizar as roupas de cama. Já para tratá-la, existem dois tipos de tratamento: o tópico, que consiste em administrar o medicamento diretamente sobre a lesão cutânea, e o tratamento via oral. Vale lembrar que um não exclui o outro, tudo vai depender do estado de avanço da infecção.