Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Robô é aliado na colocação de prótese



Belo Horizonte já tem o seu robô Mako. Esse é o nome dado ao aparelho de cirurgia robótica, que é a evolução dos procedimentos cirúrgicos de joelho e quadril, unindo precisão e exatidão. O exemplar desse equipamento está no Hospital Madre Teresa e já foram realizadas mais de 10 cirurgias de colocação de prótese, com duração de 35 minutos.





“Poderia dizer que é um descomplicador, em especial no caso de um quadril longo, que exige uma angulação diferente. O robô é milimétrico. O erro máximo seria de 0,5 mm”, garante Lincoln Paiva Costa, médico ortopedista do Departamento de Ortopedia do Hospital Madre Tereza. “Com isso, a execução da parte óssea é mais rápida, porque o erro é menor.”
 
No mundo, já foram realizadas 650 mil cirurgias de colocação de prótese com robôs. As vantagens, segundo o médico, são muitas, como uma menor lesão das partes moles e um melhor posicionamento. “Dá uma melhor função e mobilidade da prótese”, afirma.

Um dos médicos especialistas nessa cirurgia em Minas Gerais, Lincoln Paiva fala da preparação da equipe ortopédica para usar o novo equipamento. “Para ser autorizado, tive de fazer um curso de capacitação, que é a exigência maior e que é ministrado ou em Fort Lauderdale, nos EUA, ou na Holanda. No entanto, com a pandemia, foi criada uma nova forma para a certificação. Um profissional médico norte-americano veio até Belo Horizonte. Fizemos o curso no ITC (Instituto de Treinamento em Cadáveres), que fica na Vila da Serra”, conta.





“Primeiro, fizemos o aprendizado e treinamento com o osso postiço, e depois, partimos para os ossos humanos, de cadáveres”, explica. A primeira cirurgia teve o acompanhamento do profissional médico dos EUA. O paciente, depois da cirurgia, tem um acompanhamento médico e tecnológico durante um ano.

“Belo Horizonte tem um nível altíssimo de medicina. Aqui se faz tudo o que tem de mais avançado no mundo”, afirma Lincoln Paiva, que lembra que o foco é no bem-estar do paciente, e que, sempre, o objetivo é disponibilizar as melhores soluções tecnológicas para atendê-lo.

Coordenador da ortopedia do Madre Tereza, Lúcio Honório fala da importância do primeiro robô Mako no Brasil: “Nossa equipe já realizou com maestria milhares de artroplastias do joelho e quadril. Agora, alinhamos nossa expertise à tecnologia robótica do Mako. Seguimos com a característica vanguardista ao adquirir o primeiro Mako do país”.





VIDA NORMAL 


O primeiro paciente a ser operado com a nova tecnologia no Hospital Madre Teresa é um artesão e produtor de peças decorativas e de adorno, de Sete Lagoas: Fernando Lúcio Costa Fonseca, de 42 anos, que sofria com necrose da cabeça do fêmur. Ele conta, que antes da cirurgia, sofria muito com dores, tanto para caminhar, ou quando tinha de parar. “Eu sentia que não tinha qualidade de vida. O sofrimento era muito. Desanimava fazer certas coisas. Não tinha vontade de nada.”

Mas apareceu uma pessoa na vida de Fernando, que ele considera um anjo: sua namorada Fabiana Heide Martins, que é enfermeira no Madre Teresa e que falou com ele sobre a cirurgia. “Ela me convenceu a fazer a consulta e fui até lá. Era a minha única opção para acabar com o sofrimento.”

Ele resolveu fazer a consulta e o diagnóstico era de que precisava colocar uma prótese. O médico contou-lhe, então, que seria o primeiro a fazer a cirurgia com a nova tecnologia, um robô. “Não pensei duas vezes. Topei na hora. Confesso que tinha um certo medo, mas era a chance de me curar.”





Hoje, a vida de Fernando é outra, mesmo com o pouco tempo depois da cirurgia, pouco mais de dois meses. “Me considero um felizardo. No segundo dia já estava andando com a ajuda de muletas. Com três semanas, não precisava mais delas. Sentia apenas dores musculares, que sumiram com a fisioterapia. Hoje, posso dizer que sou uma pessoa normal. Sinto que minha vida voltou à normalidade. Sei que não posso e não devo, mas tenho até vontade de voltar a jogar futebol."
 
 
O artesão Fernando Lúcio, de 42 anos, sofria com necrose da cabeça do fêmur e foi convencido pela namorada, a enfermeira Fabiana Martins, a se consultar e passar pela cirurgia
 

VANTAGENS 


Com o Mako, cada procedimento cirúrgico é único. Isso porque o robô combina importantes componentes e dispõe de grandes diferenciais. Com ele é possível desenvolver um plano personalizado com base na anatomia própria de cada paciente antes de iniciar o procedimento.

A partir da inteligência robótica do Mako, o cirurgião pode ter acesso a um planejamento em tecnologia 3D, háptica (sensível ao tato) e também à análise de dados de cada paciente. Ou seja, antes do procedimento cirúrgico, o médico saberá exatamente todo o panorama específico relativo ao paciente que será operado em seguida e, sempre que necessário, ele poderá ajustar o plano de atuação durante todo o processo.





Durante o procedimento, o cirurgião orienta o braço robótico para a preparação da articulação que receberá a prótese para posicioná-la. Está aqui um dos grandes diferenciais do Mako – isso porque ele trabalha para que o osso saudável ao redor da articulação do joelho ou quadril permaneçam íntegros. Estudos mostram que a substituição parcial do joelho ou quadril assistida pelo braço robótico do Mako leva à maior precisão da posição do implante em comparação aos procedimentos convencionais.

GANHOS AO PACIENTE 


A cirurgia robótica é considerada a evolução dos procedimentos cirúrgicos, pois une precisão à exatidão. Essa realidade tem muito a oferecer aos potenciais pacientes que serão submetidos a essa modalidade. Menos dor e baixo consumo de analgésicos, menor necessidade de fisioterapia hospitalar, menos corte (maior preservação de tecidos moles e estrutura óssea), redução do tempo de internação e rápido retorno a vida cotidiana são somente alguns dos benefícios da cirurgia robótica.

De acordo com dados do American Academy of Orthopaedic Surgeons, espera-se que até 2030 as substituições totais do joelho nos Estados Unidos aumentem 189%. Já as artroplastias totais do quadril podem crescer até 171%. No Brasil, essa realidade não será diferente. Os especialistas já consideram as artroplastias do quadril, por exemplo, como o procedimento da década.


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