Passadas 24 horas do Dia da Conscientização sobre o HIV, como na maioria das datas em que se tenta abordar um tema complexo na sociedade, a luta volta ao que era. Quem trabalha na linha de frente e, principalmente, quem vive com o vírus, retomam o enfrentamento ao preconceito, inverso aos avanços da medicina, e tentam esclarecer ao mundo a importância da prevenção, testagem e tratamento.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou, recentemente, para ser utilizado no Brasil, um comprimido único, menos tóxico e que causa menos efeitos colaterais para o organismo. Na Inglaterra, foi aprovado um tratamento injetável, a cada dois meses. O avanço no tratamento, aliado à conscientização sobre a prevenção das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) - antes chamadas DSTs - é fator central nesse contexto.
"Avançamos muito na questão científica, de tratamentos e expectativa de vida. A pessoa com HIV pode viver tanto ou mais que uma sem o vírus, o tratamento é bem menos tóxico e ela consegue ter uma boa qualidade de vida. Pode ter filhos. Caso esteja indetectável (o vírus), falamos que está intransmissível, pode até ter relações sem preservativos e sem transmitir para outra pessoa. Mas o preconceito e o estigma continuam fortes. É um abismo entre o avanço da ciência e o preconceito, que é parecido com o da década de 1980, quando a epidemia de Aids começou", aponta o médico infectologista Vinícius Borges.
Ele avalia como essencial o debate sobre a sexualidade ser amplo na sociedade, saindo da rua e dos consultórios médicos para ser tratado também nas escolas e em casa. Vinícius ressalta que não há grupo de risco para ISTs e que a conscientização da prevenção a esse tipo de doenças passa por jovens e até idosos, que hoje têm vida sexual ativa até mais velhos.
Passa pela "questão cultural, da época em que eles não estavam habituados a usar a prevenção, e também da invisibilização da sexualidade da pessoa idosa. Não é só isso, ainda vemos que muitas pessoas heterossexuais jovens só se lembram de usar o preservativo para evitar a gravidez. Acham que as ISTs não vão acontecer com eles", comenta.
Vinícius ainda lembra que, atualmente, existem medicamentos que podem ser tomados no dia a dia e que evitam que a pessoa seja infectada pelo HIV. Também foi desenvolvido um tratamento que, se iniciado em até 24 horas após a relação sexual, protege o paciente em quase 99% contra a infecção pelo vírus, caso não tenha sido usado preservativo ou tenha ocorrido algum problema.
"O tratamento modificou, a pessoa consegue tomar o medicamento por muito mais tempo e ele não para de funcionar. Isso está repercutindo e as pessoas com HIV estão vivendo tanto ou até mais que pessoas sem o vírus, pois elas passam a cuidar mais da saúde, frequentar as consultas médicas, cuidar da alimentação, praticar exercícios físicos e ter hábitos saudáveis", disse, salientando a dura batalha contra o preconceito.
"Aquela ideia de que o HIV é uma sentença de morte é uma falácia. Isso já foi ultrapassado. O HIV não é Aids. A Aids leva seis a dez anos para se desenvolver, a partir da destruição do sistema imune. Mas, se uma pessoa tem o diagnóstico precoce e começa a tratar, ou mesmo se adoece e inicia o tratamento, ela consegue reverter essa alteração do sistema imune e nunca vai desenvolver Aids e vai viver muito bem. Infelizmente o que resta é o preconceito", externou.
Jennifer nasceu com o vírus
A paulista e professora de francês Jennifer, de 32 anos, nasceu na capital do estado, já infectada pelo vírus. Sofreu transmissão vertical, por causa do quadro de HIV positivo da mãe. Ela também é voluntária em instituições que ajudam a realizar testagem, diagnóstico, tratamento e conscientizar a população sobre a prevenção de ISTs.
Jenni, como é chamada, contou das dificuldades em nascer e crescer com o vírus em uma sociedade que não esclarece e não trata abertamente sobre o tema.
"Foi muito difícil, pois uma criança crescer com o vírus HIV é muito difícil, é bem complicado, caótico. Por exemplo, o medo com que um adulto com o vírus passa na rua, as crianças passam dentro de casa. Com os familiares, com colegas na escola. No meu caso, nunca sofri nada na escola, porque ninguém sabia sobre a minha sorologia, mas com pessoas conhecidas sempre tem conversas, piadas, olhares diferentes ou o tratamento de pena. Então eu cresci sem esperança na vida. Minha adolescência e juventude foi sem esperança", relembra.
Jennifer soube de sua situação aos 13 anos, quando o pai decidiu lhe contar e, com o tratamento, não tem o HIV detectável no sangue e não transmite o vírus. Ela tem um namorado, que não é soropositivo, e diz que, depois que passou a tratar abertamente de seu caso e ajudar na linha de frente do trabalho de ONGs, sua vida mudou. "Hoje eu lido muito bem com o HIV, desde os meus 30 anos, que foi quando eu abri para o mundo, na internet, que eu vivia com o HIV. Desde então, minha vida tomou outro rumo e só coisa linda aconteceu", comenta.
"Hoje, eu costumo dizer que as pessoas que descobrem viver com o HIV têm muita sorte por ter tanta gente que fala sobre o tema. Na minha época, na minha adolescência, eu não tinha ninguém que falasse de HIV como temos hoje. Em todos os aspectos e para todos os grupos. É muito lindo e espero que tenha cada vez mais para normalizar a conversa", complementa.
Direito a vacinas
Muitas pessoas que têm o HIV ou a Aids desconhecem que possuem um risco maior de contrair a pneumonia e também o direito à vacina pneumocócica conjugada-13 valente que protege contra os 13 tipos mais prevalentes da bactéria pneumococo.
Além dessa, outras vacinas muito importantes estão disponíveis gratuitamente nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), um serviço do Sistema único de Saúde (SUS) presentes em todos os estados brasileiros”, afirma a diretora médica da Pfizer, Márjori Dulcine.
Caso a cidade onde a pessoa reside não tenha um CRIE, ela deve procurar um posto de saúde que fará a solicitação e disponibilizará o medicamento.
Além dessa, outras vacinas muito importantes estão disponíveis gratuitamente nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), um serviço do Sistema único de Saúde (SUS) presentes em todos os estados brasileiros”, afirma a diretora médica da Pfizer, Márjori Dulcine.
Caso a cidade onde a pessoa reside não tenha um CRIE, ela deve procurar um posto de saúde que fará a solicitação e disponibilizará o medicamento.