Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

COVID, gripe e 'Flurona': como identificar sintomas e quando ir ao médico

Muitas pessoas têm dúvidas sobre os sintomas desta ou daquela doença e, em meio à pandemia de COVID-19, cresce a apreensão por saber o que fazer quando sentimos os primeiros indícios clínicos de infecção. Há ainda mais preocupação atualmente, com nova alta vertiginosa de infecções pelo novo coronavírus ao mesmo tempo que surgem surtos da influenza H3N2. Para completar, há casos de pacientes infectados pelos dois vírus de uma só vez - uma co-infecção chamada popularmente de 'Flurona' (Flu = gripe, em inglês, + rona, de Coronavírus). Isso não significa o surgimento de uma nova doença e é preciso informação para diferenciar cada caso e saber quando procurar atendimento médico.





A combinação entre as duas doenças não se trata de um novo vírus ou resulta numa mutação para um só agente infeccioso, alertam especialistas. Casos assim, muitas vezes envolvendo a Influenza, já foram registrados há tempos. Nas últimas semanas, o fato ganhou notoriedade após o governo de Israel notificar uma ocorrência em dezembro de 2021. Nos últimos dias, vários países já oficializaram esse tipo de caso e o número de ocorrências da dupla infecção por gripe e COVID vem aumentando.

No Brasil, já foram registrados casos da 'Flurona' em pelo menos 15 estados e no Distrito Federal. Mas, afinal, quais os sintomas de cada doença? São os mesmos quando há co-infecção? E quando eu devo procurar um hospital ou unidades de saúde? Para que você não corra riscos de novas infecções ao ter que esperar horas por atendimento médico e para evitar a sobrecarga no sistema de saúde, confira os detalhes explicados por infectologistas.

Existem diferenças entre sintomas de Influenza e COVID?

Especialistas explicam que os sintomas das duas infecções são muito parecidos. Os dois vírus afetam o trato respiratório e causam tosse, coriza, espirros e dor de garganta, que são mais comuns a essas doenças, além de febre, dores de cabeça e no corpo, fadiga e mal estar, específicos de quadros virais. Existem, sim, pequenas diferenças que, embora possam ocorrer nos dois casos, são mais recorrentes em um que em outro.





"Os dois vírus têm mais sintomas em comum que diferenças, são muito parecidos. No caso da COVID, é comum o paciente apresentar mais perda de olfato e de paladar e ocorrer febre às vezes, em cerca de 30%, 35% dos casos. Já no da Influenza, a febre é mais comum e mais alta no princípio da infecção", aponta o infectologista Carlos Starling, membro do Comitê Municipal de Enfrentamento à COVID-19 em Belo Horizonte.

Starling lembra também que ainda não é possível dizer se uma infecção é mais grave que a ocorrência dupla. Os dados disponíveis sobre a co-infecção entre COVID e a Influenza H3N2, que surgiu na Austrália no fim do ano passado, ainda estão sendo analisados e avaliados pela comunidade médica. Pesquisadores acompanham relatos dos casos de infecção mista para apresentar seus efeitos no corpo humano.

Como identificar se fui infectado por COVID ou Influenza?

Como os sintomas são muito parecidos, mesmo as poucas diferenças ainda podem ser tanto de uma infecção quanto da outra. Segundo especialistas, não há como apontar se a tosse é causada por uma doença e a dor de cabeça pela outra. Somente com testes e exames laboratoriais é possível detectar os vírus.





Existem testes rápidos, que podem ser encontrados em farmácias. Os testes mais seguros, no entanto, são os de tipo PCR, feitos em laboratórios, hospitais e centros de pesquisa. Esses são capazes de detectar e especificar uma gama maior de vírus respiratórios.

Quando procurar atendimento médico? Presencial ou on-line?

"Na maioria dos casos, ocorrem quadros leves e não são necessárias internação ou mesmo atendimento presencial. Podem ser feitas teleconsultas sem nenhuma perda na avaliação. Em casos com sintomas mais graves, como falta de ar, prostração intensa, febre que não cessa com remédios, aí justifica avaliação presencial e, na consulta on-line, já pode fazer o encaminhamento para um hospital ou uma unidade de saúde", relata Adelino de Melo Freire Júnior, infectologista cooperado da Unimed-BH.

Os especialistas ressaltam que é preciso mais atenção aos pacientes de grupos de risco, como diabéticos, hipertensos, pessoas obesas e com outras doenças pré-existentes. Isso, além claro, de casos com sintomas mais agudos como febre alta e intermitente e maior dificuldade para respirar.





"Quando a febre ficar persistente é uma das razões para procurar (atendimento médico). Febre alta que desaparece e depois volta, aparece no princípio, desaparece e volta: é um sinal de possível complicação por infecção bacteriana. Dificuldade respiratória, cansaço e alteração de estado de consciência no caso de pacientes mais idosos. Ou a piora de doenças preexistentes. Essas complicações são mais frequentes e preocupantes em pessoas obesas, hipertensas, diabetes, acima de 60 anos ou imunossuprimidos", comenta Starling, complementando ser "a coincidência dessas epidemias é fato novo. Se vai ter gravidade maior, é mais provável nos grupos de maior risco."

Alta de infecções e tempo de espera para atendimento

A elevação rápida de novas infecções por COVID, juntamente com casos de gripe, nas últimas semanas, tem feito várias cidades readequarem o atendimento e os leitos de unidades hospitalares. Minas Gerais registrou um aumento de 1.052% no número de casos de COVID-19 adicionados a cada 24 horas em 10 dias, saltando de 398 em 27 de dezembro para 4.585 novas confirmações no dia 7 de janeiro.

A maioria dos hospitais particulares de 10 estados do Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Sul e do Distrito Federal registraram aumento expressivo de casos de COVID-19 e da síndrome gripal provocada pelo vírus Influenza. Pesquisa da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) junto a 33 empresas aponta que 88% verificaram elevação das ocorrências da doença respiratória e da gripe.





A elevação do número de casos de contaminação pelo coronavírus foi, em média, de 655% desde dezembro de 2021, e algumas unidades de saúde relataram proporção superior a 1.000%. O crescimento  dos diagnósticos de infecção pelo Influenza foi, em média, de 270%.

Nos últimos dias, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) abriu 95 novos leitos públicos de enfermaria na capital. Porém, mesmo com a maior oferta, a ocupação de enfermarias em BH em razão da COVID-19 voltou a crescer após a queda dessa quinta-feira (6/1). Segundo o boletim epidemiológico desta sexta-feira (7/1) da PBH, o índice voltou a atingir o patamar vermelho, ao registrar 72,2%.

A Prefeitura de Belo Horizonte reativou o serviço de consulta on-line para casos de síndrome gripal na última quinta-feira (6/1). O sistema já está funcionando, e o acesso é feito pelo portal da PBH ou pelo aplicativo para celulares. O serviço já havia sido criado na capital mineira durante os períodos mais críticos da pandemia, e foi encerrado em novembro do ano passado.





(foto: Soraia Piva/EM/D.A. Press)
Em nota, a Unimed-BH informou que os atendimentos para COVID, gripe e outras doenças respiratórias aumentaram 37% em BH e região metropolitana nos seis primeiros dias de janeiro, em comparação com o mesmo período do ano passado. A 'alta demanda, com mais de 18 mil atendimentos presenciais', causa aumento do tempo de espera.

A cooperativa afirma que está realizando 'medidas emergenciais' para aumentar sua capacidade de atendimento, reforçando equipes de serviços online e presencial. "Em função da alta demanda de pacientes com sintomas gripais, a capacidade de consultas online tem sido expandida dia a dia, inclusive com novas frentes de atendimento e ampliação do horário das consultas, agora realizadas 24 horas por dia", explica.

"Nas últimas semanas tivemos um aumento expressivo do atendimento em ambulatórios de pronto socorro e pronto atendimentos. Desde um pouco antes do natal, houve números muito altos e que estão subindo", relata Freire Júnior, que cita a vacinação como diferencial para não vivermos o caos na saúde como no início do ano passado. "Quem tomou duas ou três doses da vacina tem baixas chances de desenvolver quadro grave da doença. Tivemos aumento de internação, mas não tão expressivo quanto o atendimento do PS. O CTI também aumentou necessidade de ampliar vaga, mas muito diferente do PA", aponta.





"A assistência ambulatorial está pressionada, tanto pública quanto privada. A vacinação foi fundamental para evitar formas graves que superlotaram o sistema de saúde", corrobora Starling.

Vacinação e formas de prevenção

Os infectologistas lembram que as formas de se prevenir de infecções por esses vírus são as mesmas em ambos os casos. Uso de máscaras, higienização das mãos, objetos e locais de contato físico, distanciamento social e evitar aglomerações.

A vacinação tanto para COVID quanto para gripe está disponível de maneira gratuita para a população. No caso da Influenza H3N2, a vacina já deve ser distribuída para a campanha deste ano, que deve começar em março. Ainda assim, a que está sendo utilizada protege contra outros vírus que já circulam no país.

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