A morte do cineasta Arnaldo Jabor, de 81 anos, na manhã desta terça-feira (15/2), traz um sinal de alerta para os brasileiros acerca dos riscos e complicações decorrentes do Acidente Vascular Cerebral (AVC). Segundo especialistas, a doença se manifesta de forma silenciosa – na maioria dos casos – e vem deixando um número cada vez maior de pessoas com incapacidade permanente.
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Os idosos são o grupo com maior prevalência, mas nota-se que o percentual de vítimas vem crescendo entre pessoas entre 19 e 59 anos. Houve um aumento de 3% desde 2019 – antes o percentual era de 17% e, agora, representa 20%.
“Temos dois tipo de AVC, o isquêmico e o hemorrágico, que se manifestam de formas diferentes. No caso do Arnaldo Jabor, ele teve um AVC isquêmico. A forma mais comum de ele se manifestar é o paciente perder a força de um lado do corpo e a visão, perder a sensibilidade e um lado do rosto não mexer quando ele sorri, além de a pessoa ficar um pouco confusa”, explica o neurocirurgião da Santa Casa BH, Marcos Dellaretti.
“Ele ocorre por causa da obstrução de um vaso. Certa região do cérebro não será irrigada pelo sangue e ela vai morrer pela falta dele. Na maioria das vezes, o paciente não sente dor. Muitas vezes, ele não procura assistência médica por achar que é outra coisa”, acrescenta o médico.
Especialistas dizem que as causas da doença estão ligadas ao histórico familiar, mas que há forte associação aos diversos fatores de risco, que aceleram as complicações e levam o paciente a ter de submeter a um tratamento intensivo.
“As doenças cardiovasculares e cerebrovascular têm praticamente a mesma origem. O tratamento é muito parecido. A maioria dos casos de AVC são isquêmicos e são mais comuns em pacientes idosos, mas independentemente disso, você tem os fatores de risco, que aumentam e aceleram a progressão da doença. Tabagismo, colesterol alto, hipertensão descontrolada, diabetes podem aumentar a incidência nos pacientes, podendo levar ao infarto ou ao AVC, que atinge o cérebro”, ressalta o cardiologista do Hospital Semper, Rodrigo Lanna.
De acordo com Marcos Dellaretti, a forma mais eficaz de tratamento é a prevenção. “É preciso que os pacientes, especialmente aqueles hipertensos, controlem bem a pressão arterial e tenham uma vida saudável, fazendo atividades físicas. O tabagismo está associado tanto ao AVC isquêmico quanto o hemorrágico. Então, a pessoa deve parar de fumar e evitar abusar do uso de álcool. Aqueles que têm colesterol alto devem fazer acompanhamento”, diz.
“É importante detectar os fatores no início. Controlá-los já um grande passo à frente. Quando o paciente para de fumar, controla a diabetes, colesterol e a glicemia, a chance de a doença evoluir é muito menor”, complementa Rodrigo Lanna.
Urgência
Os tratamentos dos dois tipos de AVC são distintos. “O AVC sempre envolve um tratamento de urgência. A maneira que usamos para tratar o AVC isquêmico é tentar desobstruir a artéria com medicamentos administrados na veia ou por meio de um cateterismo, onde você coloca um cateter até tentar abrir essa artéria. Já o AVC hemorrágico vai depender muito do tipo, mas é certo que o paciente deva ir para o hospital para ser acompanhado”, afirma o neurocirurgião da Santa Casa BH.
“A doença está muito associada aos hábitos diários. O AVC é uma das principais causas de morte e se tornou também a principal causa de incapacidade, deixando a pessoa dependente, em que ela precisa de cuidados, fisioterapia e não consegue voltar ao trabalho e às atividades normais”, argumenta.
Lanna diz que vários medicamentos específicos começam a fazer parte do tratamento diário: "A pessoa com AVC envolve várias medicações. Temos as estatinas e os antiagregantes para evitar novos eventos. Às vezes, é preciso anticoagular, mas depende de cada caso. Todos que tiveram AVC, se não possuírem contraindicação, tem de tomar um antiagregante plaquetário, como os AAS”, afirma.