Ainda que em meio a uma crise de enxaqueca a pessoa sofra, se sinta incapacitada, é sempre bom ver o lado bom de qualquer situação, mesmo na dor. Ter o diagnóstico correto, o tratamento adequado, a medicação apropriada e o estilo de vida e o autocuidado como meios para buscar qualidade de vida e bem-estar, é possível conviver com a enxaqueca sem agravar os transtornos.
, coordenador do Ambulatório de Cefaleia da UFMG e um dos autores do livro “Cefaleias na prática clínica”, alerta que “o primeiro passo ao abordar qualquer dor de cabeça é ter a certeza da sua causa”. O médico Rodrigo Santiago Gomez, neurologista, coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Madre Teresa
A enxaqueca ou migrânea é uma das possíveis entre as mais de 150 diferentes causas de dor de cabeça. Algumas podem anunciar risco de vida, ao passo que outras, ainda que muito forte a dor, não são o prenúncio de uma doença grave (por exemplo, a enxaqueca, dor muito forte, mas não é grave).
Feitas essas considerações, Rodrigo Santiago Gomez deixa claro que a enxaqueca tem sintomas e sinais específicos que a caracterizam e só considera seu tratamento se o diagnóstico for bem estabelecido.
Feitas essas considerações, Rodrigo Santiago Gomez deixa claro que a enxaqueca tem sintomas e sinais específicos que a caracterizam e só considera seu tratamento se o diagnóstico for bem estabelecido.
“Caso um indivíduo seja portador de enxaqueca deve estar atento às doses ministradas de analgésicos nas crises e na frequência do uso destes. O abuso de analgésicos na enxaqueca pode deflagrar um segundo tipo de dor de cabeça, denominada cefaleia por abuso de me- dicação. Pode também ‘cronificar’ a enxaqueca, com o aumento das crises por semana e de sua intensidade. Assim, o uso correto de analgésicos deve ser feito e neste aspecto a automedicação é um perigo.”
A MAIS DOLOROSA
A enxaqueca recebe nomes distintos. Rodrigo Santiago Gomez explica que a cefaleia em salvas ou “cluster”, em inglês, é uma das cefaleias mais dolorosas. A dor é lancinante, com grande sofrimento e de duração nunca superior a três horas. Ainda que dure pouco tempo, ela é assustadora para o portador. Quando é o primeiro episódio, normalmente o paciente se dirige ao hospital por causa da intensidade da dor. Na crise aguda, o melhor tratamento é oxigênio 100% por máscara, a dor melhora após alguns minutos.
O abuso de analgésicos na enxaqueca pode deflagrar um segundo tipo de dor de cabeça, denominada cefaleia por abuso de medicação
Rodrigo Santiago Gomez, neurologista e coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Madre Teresa e coordenador do Ambulatório de Cefaleia da UFMG
Segundo ele, algumas vezes, a cefaleia em salvas pode estar associada a lesões no encéfalo, daí a necessidade de realização de ressonância magnética em todos os casos para confirmação desse diagnóstico. “O diagnóstico está baseado totalmente nas características da dor e como ela se apresenta. Aliás, para todas as dores de cabeça a anamnese é muito importante para o correto diagnóstico.”
Já a chamada cefaleia crônica diária, conforme Rodrigo Santiago Gomez, é um termo inespecífico, um guarda-chuva com inúmeras diferentes doenças debaixo dele.
“Por exemplo, se você é portador de enxaqueca na frequência de quatro crises por semana, ou 16 crises por mês (acima de 15 crises/mês) tecnicamente estamos com um quadro de cefaleia crônica diária secundária à enxaqueca. Poderia ser uma cefaleia crônica diária por abuso de medicamento ou uma cefaleia em salvas com crises diárias há mais de três meses. Assim, o termo não é muito prático no tratamento, mas ajuda a entender diferentes tipos de dor que apresentam com maior número de eventos por semana ou por mês.”
“Por exemplo, se você é portador de enxaqueca na frequência de quatro crises por semana, ou 16 crises por mês (acima de 15 crises/mês) tecnicamente estamos com um quadro de cefaleia crônica diária secundária à enxaqueca. Poderia ser uma cefaleia crônica diária por abuso de medicamento ou uma cefaleia em salvas com crises diárias há mais de três meses. Assim, o termo não é muito prático no tratamento, mas ajuda a entender diferentes tipos de dor que apresentam com maior número de eventos por semana ou por mês.”
Rodrigo Santiago Gomez avisa que o paciente portador de enxaqueca tem naturalmente uma intolerância maior à luz durante a crise. “Alguns referem intolerância à claridade mesmo nos períodos fora da crise. Os trabalhos científicos têm demonstrado que o cérebro dos enxaquecosos é sensível tanto ao estímulo visual quanto auditivo. Exatamente como isso ocorre não está claro. Reforço, entretanto, que a despeito de esta sensibilidade à luz ser muito comum nos migranosos, ela não é específica. Ocorre em outras causas de dor de cabeça.”
O neurologista indica que a melhor medida durante uma crise de enxaqueca é o repouso, uso de analgésicos, retirada de estímulos visuais e sonoros (ambiente escuro e sem barulho) e evitar esforço físico. “Durante a crise de enxaqueca a dor piora se não são respeitadas essas condições. O uso do analgésico deve ser o mais precoce possível. Retardar seu uso pode custar uma crise mais demorada ou uma ida ao pronto-socorro.”
EFEITO REBOTE
A médica Aline Martins Cardoso, coordenadora da especialidade de clínica médica do Hospital da Baleia, especialista em clínica médica e medicina intensiva, enfatiza que embora a enxaqueca não tenha cura, sempre é possível tratá-la, espaçando a ocorrência de crises e amenizando a intensidade dos sintomas. E alerta que, apesar de os estudos sobre cefaleia serem constantes, não existe uma pílula mágica contra a doença, o que acaba gerando ansiedade nos pacientes portadores e má adesão ao tratamento.
“Entre as centenas de dores de cabeça conhecidas atualmente, a que mais se destaca é a enxaqueca, tanto pela elevada frequência na população quanto pelo grau de incapacidade que provoca. É importante ressaltar que enxaqueca não é apenas uma dor de cabeça, mas este sintoma que mais incomoda é apenas uma das inúmeras manifestações que fazem parte da grande síndrome”, destaca a clínica.
A dor de cabeça gera muito incomodo e não é preciso se acostumar com ela, já que há tratamentos para aliviá-la. Portanto, não se deve esperar a piora do sintoma
Aline Martins Cardoso, coordenadora da especialidade de clínica médica do Hospital da Baleia
Além da atenção quanto ao estilo de vida, os hábitos, é comum relatos de quem toma medicação e, passado um período, ela já não faz mais efeito e é preciso trocar. Aline Martins Cardoso alerta: “O uso indiscriminado de analgésicos em médio e longo prazo gera efeito rebote, requerendo o consumo de mais medicamento, com consequente aumento das crises e sua intensidade. A melhor saída é o acompanhamento médico correto e o tratamento segundo as orientações de um especialista, preferencialmente um neurologista. Porém, todo médico deve ser capaz de diferenciar uma dor de cabeça de uma enxaqueca e, assim, iniciar o tratamento corretamente.”
Para evitar ou prolongar os períodos sem crise, é preciso que cada um conheça e administre os gatilhos da enxaqueca. Alguns são comuns a todas as pessoas, outros não. Jejum prolongado, falta de sono, estresse, bebidas alcoólicas, cafeína e alguns alimentos podem disparar as crises.
O ideal é fazer um diário, onde o paciente anotará suas atividades cotidianas, como alimentação, além de horário e duração do sono. Dessa forma, conseguirá relacionar o que agrava ou gera a enxaqueca e, junto com o médico, traçar estratégias para uma melhor qualidade de vida.
O ideal é fazer um diário, onde o paciente anotará suas atividades cotidianas, como alimentação, além de horário e duração do sono. Dessa forma, conseguirá relacionar o que agrava ou gera a enxaqueca e, junto com o médico, traçar estratégias para uma melhor qualidade de vida.
TENSÃO E ESTRESSE
Quem recebe o diagnóstico de enxaqueca tensional, ainda mais no mundo de hoje, não acredita ao ouvir o médico: evite o estresse, a pressão e as tensões. Tarefa, para muitos, impossível. “As dores de cabeça tensionais causam pressão ou aperto em ambos os lados da cabeça. Uma das saídas é a criação de hábitos de vida saudável para minimizar o estresse e evitá-las”, mas é a saída apontada pela médica.
Outro erro comum, que muitos “enxaquecosos” podem cometer é adiar a me- dicação. Seja para evitar muito remédio ou acreditar que a dor irá passar. E a dor acaba se alastrando e a crise ganha intensidade: “A dor de cabeça gera muito incômodo e não é preciso se acostumar com ela, já que há tratamentos para aliviá-la. Portanto, não se deve esperar a piora do sintoma para tomar a medicação correta ou procurar tratamento. Os sintomas de uma crise de enxaqueca podem ser graves e alarmantes, mas na maioria dos casos, não há efeitos duradouros na saúde”, diz.
No entanto, uma mudança no padrão da dor de cabeça, como aumento na frequência e gravidade ou início de um tipo diferente de dor, pode ser um sinal de alarme. Além de acompanhamento de outros sintomas, como febre, calafrios, ou outros sintomas neurológicos, como confusão metal. Se tiver algum desses “sinais de alerta”, informe o seu médico imediatamente ou procure atendimento de emergência.