A COVID-19 causou um estrago em âmbito global, para além das mais de 2,5 milhões de mortes, o vírus acarretou sequelas brutais. Uma dessas consequências, pouco comentada, diz respeito às questões relacionadas à mobilidade, com impactos negativos nos ossos e músculos.
A médica ortopedista membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, Marcella Rodrigues, faz um alerta para essa questão menos divulgada. “O músculo está entre os tecidos afetados pelo SARS-CoV-2. Existem complicações diretas do ataque do vírus no organismo, mas também podem acontecer efeitos maléficos no músculo causados pelo próprio corpo do paciente na tentativa de combater a infecção através de anticorpos. A dor muscular é um dos principais sintomas que se desenvolvem durante os primeiros três dias de infecção em pessoas que são hospitalizadas devido à contração de SARS-CoV-2”, explica Rodrigues.
Estudos realizados no Reino Unido, Neurological and neuropsychiatric complications of COVID-19 em 2021, afirmaram que a doença foi responsável por causar complicações no sistema nervoso periférico em 5% dos 153 pacientes participantes das pesquisas, dos quais 70% apresentaram dor muscular (mialgia) ou fadiga.
Estudos meta-analíticos indicam que mialgia/fadiga é o terceiro sintoma mais comum (depois de febre e tosse) em pessoas com infecção sintomática pelo vírus. A duração da dor muscular depende principalmente da gravidade da doença. A mialgia na admissão está associada a imagens anormais do pulmão (alterações na radiografia ou tomografia de tórax) e a dor muscular prediz mau prognóstico, especialmente em idosos.
Dito isso, a médica ressalta a necessidade dos cuidados especiais em pacientes internados com quadro grave, como fisioterapia motora precoce para evitar as sequelas musculares nesses pacientes como a atrofia, fraqueza e atraso no retorno da vida ativa normal.
A ortopedista reitera que também pode existir miopatia (lesão muscular) induzida pelo vírus durante uma infecção aguda, uma vez que é uma das queixas mais frequentes. Em uma outra pesquisa, publicada na Clinical Neurophysiology, estudou o agravamento da miopatia m pacientes com fadiga duradoura após contrair o vírus. Sinais da lesão muscular aparecera em média 200 dias após o início dos sintomas em 55% dos pacientes participantes.
A suspeita é que a miopatia seja causada pelo processo inflamatório que o próprio corpo cria, ou seja, uma possível necrose muscular imunomediada. Rodrigues acrescenta que uma produção excessiva de citocinas inflamatórias está associada ao estresse oxidativo que produz moléculas que destroem as células do músculo (miócito).
Além dos músculos, as articulações e tendões podem apresentar complicações após o COVID, como dor articular e tendinites.
A profissional enfatiza que é importante conhecer as complicações possíveis da doença em todo o corpo, incluindo no sistema musculoesquelético pois muitas vezes os pacientes não receberam o diagnóstico preciso e, consequentemente, não foram alertados ou orientados do melhor tratamento para sua devida recuperação.
Em suma, é importante é manter um suporte nutricional adequado, bons níveis de vitamina D, e orientações profissionais sobre exercícios físicos domiciliares ou em ambiente específico, não apenas aeróbicos, mas também exercícios de resistência.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.