A internet e, atualmente, as redes sociais serviram, entre outras tantas coisas, para aproximar as pessoas. Nesse cenário, aquelas que buscam um profissional médico para qualquer tipo de tratamento têm ao alcance das mãos a mais variada gama de perfis profissionais para análise e escolha. No entanto, essa evolução da interação, mesclada com publicidade e, principalmente, autopromoção, causa danos e vem sendo punida pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) com a suspensão e até exclusão de cirurgiões plásticos de seus quadros.
Em outubro de 2021, o tema foi tratado pelo presidente da SBCP, Dênis Calazans, em um podcast da entidade que tratou do 'impacto da pandemia na cirurgia plástica, a perigosa ascensão de médicos com condutas questionáveis nas redes sociais e a influência dos filtros do Instagram na busca por um padrão de beleza irreal'. "Número de likes não é atestado de competência do médico", atestou o dirigente à época.
Na última terça-feira, a SBCP publicou nota com sanções disciplinares a 10 médicos, entre eles oito suspensões e duas exclusões. As penalidades aplicadas após análise do Departamento de Defesa Profissional (DEPRO) são baseadas nas violações de cinco artigos do estatuto da entidade. A maior parte das queixas são de uso indevido de imagens de pacientes, mesmo com autorização, quebra de decoro, sensacionalismo e autopromoção.
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Dos 10 médicos punidos nesta semana, os oito suspensos foram enquadrados na infração dos artigos 2º, 5º e 11º do regimento interno da SBCP. Entre os dois punidos, há também a quebra dos regulamentos estipulados nos artigos 19º e 20º.
"Os erros mais comuns que levam a punições são aqueles que ferem o sigilo e privacidade do paciente, assim como concorrência desleal ou marketing muito agressivo que mercantiliza a medicina. O mais comum é postar fotos de "antes e depois" dos pacientes. Expor pacientes no momento da cirurgia ou da consulta, mesmo com o consentimento do mesmo. Dizer que a técnica que você utiliza é a melhor de todas, ou que você é o melhor cirurgião da cidade. Divulgar valores de cirurgia em redes sociais, sem avaliação prévia do paciente", aponta Capanema.
Para ele, as redes sociais são benéficas na relação entre médico e pacientes. Dessa forma, os clientes podem ter mais informações sobre o trabalho dos cirurgiões, tirar dúvidas sobre os procedimentos e entrar em contato caso decidam pelo profissional.
Por outro lado, há aqueles médicos que se valem do alcance das redes sociais para vender um trabalho que não estão aptos a realizar ou fazem desses canais ferramentas para promoção pessoal em detrimento dos colegas, da profissão e até mesmo dos pacientes.
"Existem alguns médicos que não são especialistas, que se passam por especialistas e, às vezes, têm uma grande quantidade de seguidores no Instagram. Isso pode ser visto por algumas pessoas como sinônimo de sucesso ou até mesmo de qualidade de trabalho, o que não é. Se sabe que é muito fácil conseguir muitos seguidores. Estes profissionais que se passam por especialistas fazem publicidade errada, acabam passando mais segurança, diferente do que eles realmente podem oferecer no procedimento, então o paciente precisa acompanhar o médico que ele gosta e se identifica", comenta Capanema.
O cirurgião ressalta que os pacientes devem tomar cuidado com parâmetros de interação de redes sociais e pesquisar mais sobre os profissionais. "Assim se percebe se realmente o médico é bom ou não, perceber se o profissional realmente entende do assunto, se é cadastrado no conselho, se é mesmo especialista do que ele disse ser, se opera em um lugar adequado com estrutura, tudo isso precisa ser observado", argumenta.
Capanema ainda aponta que o uso das mídias sociais é uma boa estratégia para os médicos, mas que esses cirurgiões devem ter em mente que o propósito maior é de esclarecimento e segurança dos pacientes e não de promoção profissional ou pessoal.
"Seu Instagram é de certa forma um marketing, mas o marketing não é o objetivo principal, o objetivo deve ser passar conhecimento, informar a sociedade, educar sobre o procedimento que a pessoa irá realizar ou sobre a sua especialidade profissional. Tem muita coisa legal, muita informação importante que pode passar para o paciente, para que ele possa usar no dia a dia e até mesmo deixá-lo mais tranquilo em relação a vários assuntos. Isso permite que o paciente se sinta com mais segurança para fazer o procedimento desejado", adverte.
"Se você usar o Instagram exclusivamente como forma de aquisição de paciente e marketing, você vai acabar errando. Se levar para o lado, por exemplo, de postagem antes e depois, pode haver muita exposição dos pacientes, e esse não é o objetivo, que reforço ser a educação do paciente e não sua exposição", finaliza.