Ao menos quatro a cada grupo de 10 brasileiros tiveram problemas relacionados à ansiedade durante a pandemia de COVID-19, enquanto os sintomas de depressão aumentaram cinco vezes no Peru e a proporção de canadenses que relataram altos níveis de desassossego quadruplicou.
Esses resultados da cruel ação do coronavírus, captados em estudo sobre as doenças mentais atribuídas aos efeitos da doença respiratória, foram publicados na revista científica The Lancet Regional Health – Américas. A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) emitiu alerta sobre o impacto devastador da infecção viral sobre o bem-estar da população no continente. Contudo, os tratamentos também avançaram e, em boa parte, a busca se mantém pelo revelador autoconhecimento.
Esses resultados da cruel ação do coronavírus, captados em estudo sobre as doenças mentais atribuídas aos efeitos da doença respiratória, foram publicados na revista científica The Lancet Regional Health – Américas. A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) emitiu alerta sobre o impacto devastador da infecção viral sobre o bem-estar da população no continente. Contudo, os tratamentos também avançaram e, em boa parte, a busca se mantém pelo revelador autoconhecimento.
Um desses métodos, embora ainda pouco conhecido, é o lúdico SoulCollage, criado pela americana Seena Frost (1932-2016), mestre em psicologia, teóloga e terapeuta de casal e família. Junção das palavras alma e coragem, na tradução para o português, a expressão dá nome ao que os adeptos chamam de processo que expressa a energia interior, levando as pessoas a selecionarem, montarem e colarem recortes de revistas em cartões, de forma intuitiva. A partir das imagens criadas, elas exploram o próprio conhecimento e a linguagem interior.
A fundamentação teórica desse método se ampara em várias vertentes, dos ensinamentos do psiquiatra e psicoterapeuta Carl Gustav Jung, que fundou a psicologia analítica, aos escritos de Joseph Campbell, famoso por seus estudos de mitologia. Busca inspiração também na gestalt-terapia, que enfatiza a responsabilidade e as experiências individuais, e na terapia humanista do psicólogo Carl Rogers em defesa do tratamento centrado nas próprias reflexões do paciente. A SoulCollage está presente, hoje, em 50 países e conta com mais de 5 mil instrutores, os chamados facilitadores.
Haline Terra Andrade de Amorim, psicóloga clínica, especialista em psicologia analítica de C. G. Jung e facilitadora de SoulCollage, conheceu o método em 2015, se apaixonou pelo processo, e pratica sozinha ou com um grupo de amigas desde então. Ela criou cerca de 300 cartões, e atua como facilitadora desde 2021, ministrando cursos introdutórios, workshops, além de usar o processo no consultório.
“Não é possível se conhecer definitivamente. O ser humano tem essa capacidade de se construir interminavelmente. Temos a história pessoal, somos influenciados pela história familiar, pelos aspectos sociais e culturais (coletivos), passamos por várias fases de mudanças ao longo da vida e, além disso, temos aspectos reprimidos, sombrios, dos quais nos escondemos ou nem sequer sabemos que existem”, afirma. Haline Amorim define o SoulCollage, a “colagem da alma” em tradução livre, como método de colagem criativo, intuitivo e baseado em experiências que promovem a autodescoberta, a autoaceitação e o desenvolvimento pessoal.
Relaxamento Cada colagem feita nos cartões tem um significado para o autor, explica Haline Amorim. A montagem se dá de maneira aparentemente simples. A pessoa vai precisar de cola bastão, tesoura, figuras/recortes de revistas ou jornais, fotografias, um cartão grosso de papelão ou cartolina no tamanho 20x13cm e um saquinho de plástico transparente para proteger o trabalho.
“Antes de entrar em ação, é bom aquietar o corpo, a mente, e fazer um breve relaxamento. Feito isso, entre em contato com as imagens. Olhe para o que está diante de você. Veja se alguma figura 'chama você' – você olha para ela, ela olha para você… e um encontro acontece. É importante pegar uma imagem que irá cobrir todo o fundo do cartão e complementar com as figuras que quiser, mas não muitas – até umas seis figuras serão o suficiente. No cartão, nada sobra e nada falta – a superfície precisa ser toda coberta, não deixando espaços em branco nem extrapolando o espaço”, ensina Haline Andrade.
Multifacetada A psicóloga destaca que em cada cartão existe uma imagem específica que expressa energia e a voz interior, que Seena Frost chamou de néter (palavra que significa “um aspecto do nosso eu”), a essência daquela pessoa e que traduz o seu mundo interior. “Depois do cartão pronto, somos provocadas a 'dar voz' àquela imagem encontrada por meio de uma 'frase estímulo'. Ao final, é importante dar um título ou um nome a esse cartão. Essa frase provocativa é que revela a mensagem única desse cartão sobre você mesmo, sobre uma parte sua – que pode ter uma intenção positiva, bem como um potencial negativo, ou mostrar um desequilíbrio/equilíbrio. Os cartões de SoulCollage são um testemunho visual da vida”, explica.
Leituras Após ter vários cartões, Haline Amorim enfatiza que esse conjunto de imagens se transforma em um baralho pessoal de SoulCollage, que é utilizado exclusivamente pela própria pessoa, podendo ser consultado por meio de leituras (novamente, feitas pela própria pessoa) a fim de entender questões próprias ou buscar decisões acerca da própria vida. “Ninguém pode ler ou interpretar os cartões de SoulCollage para outra pessoa, apenas para si mesmo.”
A psicóloga ensina que, quando todas as cartas estão empilhadas em mãos, a pessoa vê representada ali sua dimensão única. “Seena Frost, criadora do processo, dizia: 'Quando você segurar todas as suas cartas na mão, estará segurando um reflexo simbólico da sua alma multifacetada. Quanto mais você trabalhar com imagens, mais força elas terão para revelar e mudar padrões em sua vida.”
POR DENTRO DO SoulCollage
O processo terapêutico usa as imagens para despertar sentimentos, sensações, impressões que as pessoas não conseguem expressar só pelas palavras ou a razão. Por meio da criação dos cartões, o método auxilia na compreensão, e resolução de medos, conflitos e bloqueios internos. O processo criativo e intuitivo pode levar à melhora significativa na qualidade de vida, resultando em maior força interior e autoimagem mais equilibrada.
Experiências e escolhas lançadas do inconsciente
Para experimentar e praticar o SoulCollage, os interessados podem participar de alguma oficina ou workshop orientado por um facilitador. Não é necessário conhecimento prévio. Pode-se partir de temas específicos para auxiliar na confecção de um cartão, a exemplo de figuras mitológicas e uma homenagem aos pais. Tudo o que pode ter uma representação em forma de colagem vira matéria-prima para o método.
Após a pandemia de COVID-19, segundo Haline Amorim, o método ganhou propagação, ocupando o espaço virtual. Antes feito apenas presencialmente, o processo migrou para a internet e se valeu de outras formas criativas para atrair profissionais de todo o Brasil e de outros países. “Você pode escolher como vai querer seguir esse caminho. E atenção: o SoulCollage® pode ser profundamente terapêutico, mas não é terapia”, destaca a psicóloga.
Ainda que não seja uma terapia, o método é capaz de revelar o chamado psiquismo (conjunto de características psicológicas de um indivíduo) por meio das colagens. “O ser humano é primordialmente um criador de imagens e sua substância psíquica se expressa em imagens”, resume Haline Amorim. A psicóloga lembra que os ensinamentos de Carl Jung conceituavam a psique como imagem. “Por isso mesmo, uma das principais atividades psíquicas é imaginar. Para Jung, a imaginação é uma atividade autônoma do psiquismo, responsável pela capacidade de criar imagens e fantasias”, observa a psicóloga.
Por meio de várias fontes, como os próprios mitos, sonhos, experiências pessoais e a poesia, as imagens chegam às pessoas, com potencial curativo. “Elas disparam a eletricidade corporal que nos coliga à realidade interior. No SoulCollage®, essas imagens chegam por meio de recortes, de uma figura que nos chama a atenção e que passa a fazer parte de um processo de colagem. A escolha intuitiva de uma imagem traz uma conexão com o próprio inconsciente, que se mostra por meio daquela figura 'escolhida' — na maioria das vezes, surpreendente e reveladora”, reforça Haline Amorim.
Os efeitos colaterais do SoulCollage*
- Ampliar a consciência dos muitos eus: os cartões apresentam um panorama magnífico dos padrões da nossa estrutura psíquica individual.
- Aceitação daquilo que é: depois que vemos algo, é impossível negá-lo. A aceitação é o primeiro passo para a integração dos conteúdos psíquicos.
- Equilíbrio das qualidades e deficiências: abre a possibilidade de abraçar uma atitude de incluir “isso e aquilo” em vez de polarizar “isso ou aquilo”, seja na psique individual ou nas relações.
- Acesso aos recursos internos: ao concretizar conteúdos internos por meio da colagem, as imagens tornam palpáveis e acessíveis aspectos que não eram vistos ou eram fracamente percebidos pela psique. Muitos de nós não alimentamos nossas almas simplesmente porque não sabemos como. O SoulCollage é uma forma de alimentar a alma.
*Fonte: Haline Amorim, psicóloga clínica e facilitadora de SoulCollage
Os naipes do SoulCollage*
Assim como no baralho comum, no da SoulCollage, também há quatro naipes para os cartões. Conheça-os:
- Naipe do Comitê: é o naipe da dimensão psicológica – nele entram os cartões criados para as vozes interiores, as partes da personalidade, as diferentes perspectivas de si mesmo e os seus vários papéis.
- Naipe da Comunidade: é o naipe relacional, dos afetos, a dimensão social do ser. São cartões criados para pessoas reais, vivas ou mortas; pessoas que lhe inspiraram (artistas, professores, políticos e etc), desafiaram, deram suporte, amor e alegria. Também entram aqui lugares marcantes que têm significado e afeto, animais de estimação e animais específicos. Nesse naipe também se honra os antepassados.
- Naipe do Conselho: é o naipe arquetípico. Criado com imagens arquetípicas, universais, numinosas, que ajudam a conectar as histórias pessoais às histórias maiores do universo, imagens que lhe inspiram, guiam, orientam – que estão na esfera do invisível.
- Naipe dos Companheiros: naipe para as energias físicas do corpo. Ajudam a conectar as energias sensoriais e instintivas do corpo físico à experiência humana universal.
*Fonte: Haline Amorim, psicóloga clínica e facilitadora de SoulCollage
Os três cartões transpessoais*
- Fonte: o divino, o poder maior, a origem de toda manifestação.
- Essência da Alma: é a centelha da Fonte em cada coisa viva.
- Testemunha: é a representação de Algo Maior que apenas observa.
*Fonte: Haline Amorim, psicóloga clínica e facilitadora de SoulCollage