Jornal Estado de Minas

COMUNICAÇÃO E SAÚDE

Afasia: entenda a doença que fez Bruce Willis se afastar da atuação

A família do ator Bruce Willis anunciou, nesta quarta-feira (30/3), o afastamento da carreira após o diagnóstico de afasia. O comunicado, assinado pelas filhas, a atual esposa, Emma Heming, e a ex, Demi Moore, afirma que as habilidades cognitivas do artista foram afetadas. 


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“Afasia são condições neurológicas que afetam a capacidade de uma pessoa de se comunicar de forma adequada”, define o coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Vila da Serra, doutor Daniel Isoni Martins. 





Dessa forma, o paciente tem dificuldades para falar ou expressar um sentimento, o que afeta diretamente o trabalho de Willis e outras áreas da vida. 

"Não conseguia lembrar meu nome e só falava palavras sem sentido. Nunca senti tanto medo. Não valia a pena continuar vivendo se não pudesse decorar minhas falas como atriz. Pedi para que me deixassem morrer. Minha vida era centrada na comunicação e sem isso, ficaria perdida", contou a atriz Emilia Clarke, que sofreu com afasia durante a recuperação de derrame e dois aneurismas cerebrais, ao jornal "The New York Times", em 2019. 
 
Outras atrizes, como Sharon Stone e Kate Walsh, também já sofreram com a condição.

Sintomas


Assim como o relato de Emília, os principais sintomas estão relacionados às habilidades de comunicação. “As pessoas próximas começam a perceber que o paciente está com linguagem mais pobre, fala frases pequenas e incompletas, trocam palavras ou não entende o que está sendo dito”, explica o coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Vila da Serra. 





Para o médico as principais interferências da afasia na comunicação são: 
  • Dificuldade em falar e se expressar ou repetir; 
  • Não consegue compreender o que é dito;
  • Afeta a capacidade de dar nome a objetos, pessoas e locais;
  • Em alguns casos, dificuldades para ler e escrever; 

Diagnóstico

O doutor explica que o diagnóstico da doença é clínico, ou seja, feito por exame neurológico, a anamnese - que é a conversa com o paciente - e testes, como o Teste de Afasia de Boston, que é o mais comum. 

“A gente observa essas características, como a dificuldade de ler, escrever, falar e por aí vai”, pontua Martins.

Tipos de Afasia

Através dos sintomas, os médicos conseguem classificar o paciente em dois tipos de afasia: fluentes e não fluentes ou pouco fluentes.

O paciente fala frases curtas ou conseguem conversar, em alguns casos. Mas, dizem palavras que não existem, a sentença não faz sentido ou não tem conexão. 
  • Não Fluente ou Pouco Fluente
É o paciente que não consegue falar ou fala poucas palavras. “Por exemplo, fala ‘quero padaria’ quando quer ir à padaria", explica. 





Causas

O transtorno pode ser causado por doenças neurológicas - como AVC (Acidente Vascular Cerebral) ou derrame - tumores e infecções, pois "afetam a parte do cérebro que seja responsável pela fala, pela linguagem ou pelo entendimento".

Conforme Martins, em adultos é comum que a afasia seja "adquirida ao longo da vida”. “O paciente não nasce com o transtorno e conversa normal. E, em determinado problema de saúde, a afasia aparece”, completa. 

Também existem afasias que são ligadas à demências, como o Alzheimer. O subtipo da doença é chamado de ‘Afasia Primariamente Progressiva’, que é um quadro demencial progressivo, mais comum entre idosos, e tem como principal característica a dificuldade ou incapacidade de comunicação. Este tipo de afasia não tem tratamento. 





Tratamento


O tratamento médico é único de acordo com a causa da afasia, em razão das diferentes terapias designadas para cada doença que provocou o transtorno. “O tratamento do AVC é muito diferente do tumor. O AVC pode ter tratamentos para diminuir as sequelas. Já o tumor precisa de cirurgia para retirá-lo”, explica. 

Apesar das especificidades, a afasia é tratada com reabilitação neurológica, na área de raciocínio, comunicação e memória, junto a uma fonoaudióloga ou neuropsicóloga. 

“Os neuropsicólogos aplicam uma bateria de testes e identificam qual é a dificuldade do paciente e montam um programa de treinamento do cérebro através de uma série de atividades”, afirma Martins.

“Você pode ativar o cérebro com exercícios ou musicoterapia. Tem uma série de possibilidades de exercícios voltados para esse tratamento”, completa.