O Atlas Mundial da Obesidade 2022, publicado pela Federação Mundial da Obesidade, prevê que um bilhão de pessoas em todo o mundo, incluindo uma em cada cinco mulheres e um em cada sete homens, viverão com obesidade até 2030. No Brasil, de acordo com o Vigitel 2020, 57,5% da população adulta do Brasil está com excesso de peso (era 55,7% em 2019) e 21,5% da população está com obesidade (era 19,8% em 2019).
Segundo o médico cirurgião Cid Pitombo, estatisticamente, o obeso tem tendência a ter mais doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão arterial, mas há dezenas de outras doenças que podem acometer o obeso, entra eles o câncer. Os mais de 15 tipos de doenças ligadas à obesidade podem afetar diversas partes do corpo: artérias, veias, fígado, pâncreas, coração, aparelho respiratório, rins, pele, vesícula, ossos, ovários, próstata, articulações, cérebro, intestino, esôfago, entre outras.
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Algumas pessoas ganham muito peso em pouco tempo, mas a maioria vai acumulando a gordura aos poucos, ao longo dos anos. A prevenção à obesidade, com uma alimentação saudável e prática constante de exercícios, portanto, precisa começar desde a infância, pois se uma pessoa ganha um quilo a mais do que deveria por ano, em 50 anos de vida, ela terá 50 quilos a mais.
"O pior estigma é achar que todo gordo se entope de comida. Esse é um dos grandes mitos com relação à caloria. Não dá apenas para se relacionar o quanto se come e quanto se gasta. Cada organismo tem a sua genética que determina que a caloria ingerida se acumula mais em gordura. Pessoas que comendo a mesma quantidade de comida, a mesma comida, engordam de forma diferente, mostrando claramente que a absorção é diferente, essa diferença se dá pela genética", explica o especialista.
Problemas emocionais, como a ansiedade, podem afetar o apetite de diferentes formas: alguns perdem o apetite e outras ficam com mais fome. Por isso, cuidar da mente também é fundamental para prevenir a obesidade. A parte boa é que exercícios físicos ajudam tanto no gasto calórico, quanto na melhor oxigenação do cérebro, ajudando a reduzir os distúrbios emocionais. "Tratar a obesidade não significa buscar um corpo mais bonito. Busca-se acima de tudo, um corpo saudável nos mais variados aspectos físicos e mentais", salienta.
A obesidade é uma doença crônica, ou seja, ela vai se instalando aos poucos. Um jovem muito acima do peso pode não ter ainda descontrole de taxas como glicose, colesterol ou triglicerídeos, mas as chances de ter problemas com a idade mais avançada são maiores do que as de pessoas com peso controlado. Pode ser que ele nunca adoeça, mas diante do risco o ideal é buscar meios de perder o peso acumulado em excesso.
A prevenção a essa comorbidade, diz Pitombo, deve começar desde a infância, com uma alimentação saudável e prática constante de exercícios. Deve-se alertar que há genes que atuam de forma diferente em cada organismo, dessa forma, desde criança, é preciso ficar de olho na tendência familiar e no ganho de peso da pessoa. Se ela acumular mais, terá que se alimentar ainda melhor, diminuindo seus alimentos calóricos e aumentando os exercícios.
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"Quanto mais peso se acumula, mais difícil é perdê-los. E chega um ponto em que até mesmo uma cirurgia bariátrica fica difícil de ser realizada se a pessoa está com um peso muito alto. Muitas pessoas com obesidade em grau 3, com Índice de Massa Corpórea, o IMC, acima de 50, precisam fazer dietas para perder de 10% a 20% do peso corporal para conseguir operar", destaca Pitombo.
A obesidade é diagnosticada através do cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC). Ele é feito da seguinte forma: divide-se o peso (em Kg) do paciente pela sua altura (em metros) elevada ao quadrado. De acordo com este padrão, utilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), quando o resultado fica entre 18,5 e 24,9 kg/m2, o peso é considerado normal.
Entre 25,0 e 29,9 kg/m2, sobrepeso, e acima deste valor, a pessoa é considerada obesa. Conforme o IMC, classifica-se o grau de obesidade em: obesidade leve (classe 1 - IMC 30 a 34,9 kg/m2), moderada (classe 2 - IMC 35 a 39,9 kg/m2) e grave ou mórbida (classe 3 - IMC ≥ 40 kg/m2). Essa classificação é importante na escolha do tipo de tratamento.
Pessoas obesas tem o dia a dia prejudicado pelo excesso de peso e, muitas vezes, hábitos comuns e diários como, escovar os dentes, buscar uma água na geladeira e até mesmo arrumar a cama, acabam se tornando pesarosos, deixando o indivíduo deprimido. Há ainda um enorme preconceito com pessoas acima do peso, o que também contribui para que elas desenvolvam ansiedade e depressão.
A obesidade, além disso, pode prejudicar a vida sexual e a capacidade reprodutiva de homens e mulheres. "No homem, devido à redução da testosterona, pode reduzir a libido e levar a dificuldade de ereção. Já nas mulheres, pode ocorrer redução dos níveis de hormônio feminino e aumento no nível dos hormônios masculinos. As mulheres podem apresentar aumento de pelos, irregularidade menstrual e infertilidade. Mas as chances de todos esses problemas se resolverem, com uma perda de peso na ordem de 10%, são bem grandes", finaliza o médico.