A palavra “vulnerabilidade” é associada à insegurança, instabilidade, fragilidade, indefensibilidade, estar vulnerável ou viver em vulnerabilidade. Nos tempos atuais, quem não está, estará ou esteve vulnerável? Mas o que significa estar vulnerável?
Para discutir essa questão complexa, o filósofo e psicanalista René Dentz lançou o livro “Vulnerabilidade” (Editora Ideias e Letras), já disponível nas livrarias.
A vulnerabilidade se instalou no mundo, seja por questões emocionais, econômicas ou físicas. O que é simples para um nem sempre é o melhor caminho para o outro, ou o caminho possível. Quem saberá? O livro traz uma desconstrução e ressignificação do que é estar vulnerável.
“Não é fácil ouvir de outros que devemos ter força de vontade, ou que ela nos falta diante de um comportamento negativo repetido ou mesmo compulsivo. Por mais que sigamos orientações de amigos e colegas, as dicas ou fórmulas mágicas parecem não funcionar conosco. No fim, acabamos adicionando mais culpa ao nosso já difícil cenário particular. Será mesmo que conseguimos mudar comportamentos que consideramos ruins com força de vontade ou seguindo padrões de comportamentos prescritos? Definitivamente, não! Por isso mesmo, não precisamos ter culpa por não conseguir, pois não é esse o caminho”, destaca René.
O autor, que trabalha há anos com temas ligados à essência humana, faz uma abordagem teórica profunda, mas delicada e de fácil entendimento, do tema que se tornou ainda mais imperativo depois da reviravolta que o mundo deu impulsionado pela pandemia da COVID-19.
“O objetivo da minha escrita é tirar essa ideia de que a vulnerabilidade precisa ser vista com olhos negativos. Essa condição pode ser transformada para que, dessa forma, o indivíduo encontre uma libertação na sua própria vulnerabilidade”, explica o escritor.
Através da psicanálise, Dentz desenvolveu uma escuta clínica muito atenta às questões mais sensíveis do indivíduo – que as esconde e as camufla, sobretudo num campo psíquico. Dessa forma, ele conseguiu entender, de fato, que essas questões de vulnerabilidade são constitutivas do ser humano e estarão presentes do início ao fim da nossa existência.
Atualmente, vive-se uma conexão de afetos, nunca se esteve tão conectado e tão desconectado ao mesmo tempo. Absorvem-se informações que perpassam o mundo inteiro, o que acaba afetando o ser humano. “Vivemos em um mundo muito líquido, no qual há armadilhas fáceis para nossos sentimentos e afetos, consequentemente, vivemos mais vulnerabilidades nos dias de hoje e não temos mais fundamentos”, salienta o psicanalista.
“Em um sentido moralista, no mundo de vazio e sem fundamentos, teríamos a oportunidade de construir algo a partir da nossa humanidade, subjetividade e do potencial criativo que o humano tem, porém, acabamos caindo em imitações de modelos padrões, e isso atesta uma vulnerabilidade humana enorme”, completa.
A obra é dividida em quatro capítulos. O primeiro, “Vulnerabilidades que batem à porta da nossa existência”, fala da finitude, solidão e arrependimentos diante da morte. O segundo, “Tecnologia e novos (ou velhos) comportamentos”, retrata as conexões de afeto diante da tecnologia e no que ela transformou o ser humano. O terceiro aspecto do livro, “Novos humanos”, cerceia a educação, que é uma expressão da cultura, do que se quer ser, mas que acaba trazendo mais modelos miméticos sem reconhecer a vulnerabilidade de cada um.
O último capítulo “Em busca do bem comum”, aborda as vulnerabilidades sociais. Vive-se cercado de vulnerabilidades sociais, mas que, muitas vezes, são “vidas nuas” que passam despercebidas.
“Aceitá-las é algo fundamental à nossa democracia do século 21. Mesmo em contextos mais maduros, a democracia se mostrou muito falha, porque ela parte da ideia de igualdade e liberdade, mas não consegue reconhecer as fraternidades, as vulnerabilidades, as diferenças e os diversos. Somente quando isso for aceito, teremos uma sociedade verdadeiramente integrada e uma democracia mais efetiva”, finaliza René Dentz.
“Aceitá-las é algo fundamental à nossa democracia do século 21. Mesmo em contextos mais maduros, a democracia se mostrou muito falha, porque ela parte da ideia de igualdade e liberdade, mas não consegue reconhecer as fraternidades, as vulnerabilidades, as diferenças e os diversos. Somente quando isso for aceito, teremos uma sociedade verdadeiramente integrada e uma democracia mais efetiva”, finaliza René Dentz.
* Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram
SERVIÇO
Livro: “Vulnerabilidades”
Autor: René Dentz
Editora: Ideias e Letras
Preço: R$ 20